10 temas para a redação do Enem 2018

Conteúdos sociais que envolvem minorias brasileiras têm sido cobrados nos últimos anos

LGBT é um tema que nunca caiu ao longo dos 20 anos de Enem

As apostas estão abertas. Qual será o tema da redação do Enem 2018? Difícil saber exatamente o assunto que será trabalhado, mas há chances de cair um tema social voltado a alguma minoria brasileira. 

De acordo com o professor de redação do Brasil Escola, Guga Valente, ao estudar a prova do Enem, surgem algumas ideias do que pode ser abordado como proposta de redação. 

“A prova tem caráter nacional, é do governo. O tema da redação leva em consideração valores como solidariedade, cidadania, diversidade cultural e respeito aos direitos humanos. Essas são algumas pistas”, acredita o professor.

Guga relembra que, desde a redação do Enem 2014, estão sendo trabalhados temas ligados a grupos específicos da população. “A nossa expectativa para o Enem 2018 é que caia algum tema voltado aos direitos humanos de alguma minoria social”, analisa. 

Os últimos cinco temas do Enem abordaram, respectivamente, o público infantil, a violência contra a mulher, a intolerância religiosa, o racismo e os surdos. O foco do texto era apresentar soluções para melhorar as situações pelas quais passam as referidas parcelas da população. 

Confira todos os temas das redações do Enem

Separamos uma lista de temas discutidos amplamente na sociedade e que têm chances de serem abordados na redação do Enem 2018. Confira:

Novos formatos de famílias no Brasil

Os novos formatos de famílias, que podem não ser mais compostos por um pai, uma mãe e os filhos, poderia ser tema da redação do Enem 2018 por ser um assunto muito analisado na sociedade.

Hoje, é mais aceito pela sociedade ver famílias apenas com uma mãe ou um pai solteiros; avôs fazendo papel de pais; tios ou irmãos cuidando os sobrinhos ou irmãos mais novos.

Há ainda famílias formadas por meio da união estável homoafetiva, reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2011, ou pelo casamento entre pessoas do mesmo sexo, regulamentado em 2013 no Brasil.

Outro ponto a ser discutido são as famílias sustentadas por mulheres que trabalham, enquanto os pais cuidam dos filhos. Isso mostra que a reestruturação familiar brasileira tem ligação com o novo papel da mulher na sociedade e a importância da mulher na sociedade.

Sendo assim, o modo como a sociedade vê as famílias modernas é uma das apostas para ser tema da redação no Enem 2018, especialmente se ligada a situações de viver em família X convívio social em locais públicos, como escolas, trabalho, eventos, etc.

LGBT

Em 20 anos de Enem, a organização nunca cobrou como tema da redação discussões acerca da situação das Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais ou Transgêneros (LGBT) no Brasil. Por isso, o assunto tem chance de cair na edição deste ano. 

Nos últimos anos, o público LGBT tem conquistado seu espaço, tanto no âmbito pessoal, como público. Já é mais comum conviver com casais do mesmo sexo em locais públicos, como eventos, shoppings, festas, etc.
 
Por meio das redes sociais, artistas, como a drag queen Pablo Vittar, têm ajudado a propagar os direitos dessa parcela da população. Outros artistas têm exposto suas vidas privadas e colocado a público seus relacionamentos homoafetivos, tais como o cantor Lulu Santos e atriz Nanda Costa. 

No entanto, alguns homossexuais ainda são alvo de preconceito, por isso levam a vida sem abrir a sexualidade para evitar comentários maldosos e violência. Já alguns não se importam de se expor, mas podem sofrer consequências.

O Brasil é um dos países nos quais há maiores índices de homofobia e assassinatos do público LGBT, conforme apresenta esta reportagem: ONG aponta recorde de LGBTs mortos no Brasil em 2017.

Nos últimos anos, também são mais aceitos pela sociedade os cisgêneros e transgêneros - tipos de identidades de gênero, ou seja, são formas como as pessoas identificam-se.

Confira também: vamos tratar os gays ou os homofóbicos?

Fake News

Fake News é uma das apostas para tema da redação do Enem 2018

O termo Fake News ganhou força nos últimos anos pelos episódios em que notícias falsas foram publicadas para prejudicar campanhas eleitorais nos Estados Unidos. 

No Brasil, as chamadas Fake News (notícias com conteúdo falso) estão a todo vapor por conta do período eleitoral, já que a política é o setor que mais rende compartilhamento de conteúdo falso. Eleitores tendem a apoiar e compartilhar o que difame o candidato adversário ao seu, assim como optam por acreditar no conteúdo que atenda aos seus interesses ideológicos. 

Meses antes das eleições, os interesses políticos já pautavam a veiculação de falsas informações na internet, como foi o caso da vereadora Marielle Franco, assassinada no início de 2018. Defensora dos Direitos Humanos e desafeto de figuras públicas por sua postura em denunciar violações, ela teve sua imagem ligada ao tráfico de drogas como forma de justificar a sua morte. 

O perigo das Fake News está no seu impacto social. A divulgação de falsas informações prejudica, inclusive, a Saúde Pública, como é o caso do movimento antivacina que vem crescendo no Brasil, a ponto do Ministério da Saúde ter que desmentir os boatos. Por isso, o Enem pode abordar os perigos das Fake News em sua redação e propor ao estudante que apresente uma solução para um problema tão atual.

Veja também: o perigo das Fake News na preparação para vestibulares e Enem

Educação

Comemora-se, neste ano, os 20 anos de criação do Enem. A data poderia ser um gancho para abordar, no tema da redação, aspectos relativos à educação brasileira, como, por exemplo, formas de aprimorá-la e pontos de melhoria.

Nesse caso, a situação da parcela da população a ser analisada seriam os próprios estudantes que estão ali fazendo a prova. Dados do Ministério da Educação (MEC) indicam que o País tem mais de 4,8 milhões de alunos, os quais estão matriculados em mais de 184 mil escolas, das quais 83% públicas.

O próprio estudante faria uma avaliação real do que vive no dia a dia no seu colégio. Além disso, ele poderia relacionar o tema com situações como greve nas escolas, investimento na educação pública, salário dos professores, entre outros. 

Outro dado que poderia ser analisado é o motivo da evasão escolar como, em 2017, quando as matrículas no ensino médio tiveram queda de cerca de 1,5 milhão de jovens entre 15 e 17 anos

Assédio sexual

Algumas situações de assédio sexual que ocorrem hoje em dia têm sido combatidas. Contudo, as perseguições ainda existem e podem afetar as relações sociais. Por gerar discussões na sociedade, o assédio sexual pode ser abordado na redação do Enem. 

Famosos têm usado as redes sociais para contar casos, apoiar pessoas que sofreram assédio, violência e exploração sexual e, com isso, aumentado as discussões na sociedade. Relembre os casos do ator José Mayer e do cantor Victor, da dupla sertaneja Victor e Leo

Há ainda situações que não são vistas como assédio sexual à primeira vista, mas que agridem, especialmente as mulheres. Foram registrados casos em ruas, em transportes públicos, em eventos, entre outros.

O presidente do Brasil em exercício, o ministro do Superior Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli, sancionou no dia 24 de agosto lei que torna crime a importunação sexual, com pena prevista de um a cinco anos de prisão.

Leia também: machismo e cultura do estupro

Encarcerados

A discussão em cima de superlotação do sistema carcerário brasileiro seria outra aposta para tema da redação do Enem 2018. O Brasil tem a terceira maior população carcerária do mundo

Dados do Ministério da Justiça de junho de 2016 apontam que, no total, são 726.712 presos para 368.049 vagas, o que significa que há taxa de superlotação nas cadeias brasileiras de quase 200%

Presos por crimes diferentes convivem na mesma cela, fomentando a disparidade e violência. Como resultado, há frequentes rebeliões. Quando saem, alguns presos se revoltam, aumentado a violência no Brasil. Tema atual e que poderia estar na redação do Enem.

Aborto

Outro assunto que poderia ser trabalhado no Enem 2018 é o aborto

Outro assunto em evidência e que poderia cair na redação do Enem 2018 é o aborto. Apesar das sérias consequências físicas e emocionais que a interrupção da gravidez provoca, o aborto clandestino é um drama para mais de meio milhão de mulheres no Brasil.
 
No Brasil, a prática é considerada crime, salvo exceções, como em situações em que a mulher corre risco de vida, em caso de anencefalia do feto e quando a gravidez é fruto de estupro. Pesquisa divulgada em agosto de 2018 indica que 59% dos brasileiros são contra a legalização do aborto no Brasil.

A discussão toma mais forma ainda em ano de eleições brasileiras. Há candidatos que não pretendem legalizar o aborto de modo algum. Por outro lado, países como França, Uruguai, Canadá, Estados Unidos, Cuba e mais recentemente a Irlanda já adotam a prática.

Feminicídio

A taxa de feminicídios no Brasil é a quinta maior do mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Dados apontam ainda que o número de assassinatos no país chega a 4,8 para cada 100 mil mulheres.

A Lei do Feminicídio, que entrou em vigor em março de 2015, existe para proteger as mulheres contra o excesso de violência e crimes, que geram discussão e aversão social.

Esses números alarmantes e, em especial, como combatê-los, poderiam ser tema da redação do Enem 2018. 

Veja casos recentes de feminicídio no Brasil    

Indígenas

Questão social, a situação dos indígenas no Brasil poderia ser tema da redação do Enem, uma vez que eles lutam para manter suas terras e conseguir ter acesso a direitos como saneamento, saúde, alimentos, entre outros. 

Um tema poderia ser envolvendo a demarcação de terras no Brasil, a qual passa por ampla burocracia e por interesses diversos, sendo o pivô de muitas disputas por território no país.

Outra abordagem poderia ser a questão cultural dos indígenas, muitas vezes não respeitada na “cidade grande”. Essa parcela da população tem seus costumes, ritos e direitos que devem ser respeitados e preservados.

Confira também: como é corrigida a redação do Enem

Trabalho escravo

Não é de hoje que alguns trabalhadores vivem em situações de trabalho escravo. Pela importância social, o tema poderia cair na redação do Enem, ainda mais em 2018 quando se comemoram os 130 anos de abolição da escravatura.

Há casos de imigrantes que já chegam ao Brasil considerados “devedores” pelos patrões, no caso os que os “ajudaram” a ingressar no País. No Paraná, por exemplo, 40 estrangeiros, de Bangladesh e do Paraguai foram resgatados em regime de trabalho escravo

Mesmo após os 130 anos da abolição da escravatura no Brasil, as práticas de trabalho escravo ainda são comuns e estão mais próximas do que imaginamos. 

O trabalho escravo é encontrado na maior parte no universo rural, mas também é comum no setor de construção civil e em lojas de roupas, como de departamentos.