Vamos tratar os gays ou os homofóbicos?

Falar de homossexualidade sem tabus é o grande desafio para a sociedade tratar a verdadeira doença: a homofobia.
Em 22/09/2017 09h20 , atualizado em 02/10/2017 12h13 Por Rafael Batista

Ainda tratado com tabu, falar de homossexualidade rende polêmicas.
Ainda tratado com tabu, falar de homossexualidade rende polêmicas.
Crédito da Imagem: Syda Productions/Shutterstock
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Todos os anos, no período chuvoso, a campanha dos órgãos da saúde é a mesma: não deixe água parada. O risco de reprodução do mosquito Aedes aegypti e, assim, a proliferação de doenças por ele transmitidas aumentam. Além da dengue, zika vírus e chikungunya também podem ser transmitidas por eles.

A cartilha para o tratamento destas doenças está pronta: repouso e muita hidratação. Dependendo do tipo de vírus, pode haver necessidade de internação hospitalar e, em casos extremos, o paciente pode morrer em decorrência da doença.

As campanhas de conscientização sugerem o cuidado com a limpeza de quintais e terrenos baldios, pois a reprodução do mosquito está inteiramente ligada à contaminação pelo vírus. É bem lógico: sem reprodução não haverá mosquito para contaminar e fim.

Não fiz confusão, é isso mesmo. Quis começar falando de uma doença para poder chegar na tal “cura gay” ou “pseudoteorias de reversão sexual”. Aliás, a Resolução 01/1999 do Conselho Federal de Psicologia (CFP) proíbe esta prática, pois considera que a forma como cada um vive sua sexualidade faz parte da identidade do sujeito.

Sendo parte da personalidade do indivíduo, a homossexualidade não pode ser tratada como doença, distúrbio ou perversão. O que acontece no mundo moderno é que, para muitos, falar de homossexualidade ainda é um tabu, por força de influências medievais, especialmente religiosas.

Apesar de apenas proibir os psicólogos de adotarem métodos para reversão sexual, a resolução do CFP é bastante sucinta e, se for mal interpretada, pode concluir-se que é vedado aos profissionais realizar quaisquer estudos ou atendimentos relacionados a orientação sexual. O tema é tão complexo e polêmico que, se até os psicólogos forem privados do aprofundamento científico necessário para discussão, o tabu tende a permanecer.

Tratar a orientação sexual com naturalidade é uma das formas de combate à homofobia.

Polêmica

O tema da “cura gay” veio à tona recentemente, pois no dia 15 de setembro um juiz da 14º Vara do Distrito Federal concedeu uma liminar suspendendo, em parte, os efeitos da resolução do CFP. Não demorou para que isso virasse tema de debates e figurasse entre os assuntos mais falados nas redes sociais.

Veja a liminar

Como é possível ler no texto, o juiz não classifica a homossexualidade como doença, sequer regula os tratamentos para reversão sexual. O que fica claro é a liberdade científica, prevista no Art. 5º da Constituição Federal, para que os profissionais da área possam aprofundar os estudos, sem qualquer censura ou licença prévia por parte do Conselho de Psicologia.

Mesmo com a decisão do juiz, homossexualidade (e não homossexualismo) continua não sendo doença e, portanto, não sendo passível de tratamento terapêutico, medicamentoso, cirúrgico ou alternativo. É parte da identidade do indivíduo.

Boa parte da sociedade sim, encontra-se doente, acometida por uma enfermidade chamada homofobia. Mas, se nem os psicólogos podem tratar do tema com liberdade, como o restante do mundo vai conseguir falar disso com naturalidade? Os estudos sobre a homossexualidade podem ser a grande chance de nos livrarmos deste tabu.

Não é colocar a orientação sexual no mesmo lugar da anorexia, depressão ou desvios de personalidades, mas sim estudar o tema como são estudados os sentimentos, as emoções, os laços afetivos.