A nota máxima na redação do Enem é um objetivo alcançado por poucos. No Enem 2018, apenas 55 participantes do total de 4 milhões alcançaram a nota 1000. Entre os que conseguiram esse feito, 42 são mulheres.
O Brasil Escola foi atrás desses estudantes, que contaram como foi a preparação até o Enem, revelaram suas propostas de intervenção e deram dicas para redigir uma boa redação. Eles vão tentar uma vaga em universidade pública por meio do Sistema de Seleção Unificada (SiSU), cujas inscrições foram prorrogadas até domingo (27).
Isabel Dória
Mesmo já sendo estudante de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), a carioca Isabel Dória, de 18 anos, decidiu fazer o Enem 2018 para manter as possibilidades abertas. Conciliou a faculdade com os estudos para o Enem e, para ter mais argumentos na prova de redação, ela procurou ler artigos e livros e assistir documentários e filmes.
Na redação do Enem 2018, que teve como tema a “Manipulação do comportamento de usuário pelo controle de dados na internet”, Isabel sugeriu a inserção de novas disciplinas na grade curricular para que os professores pudessem orientar melhor os alunos em relação à internet e aos dados pessoas que são divulgados.
Veja todos os temas da redação do Enem
Ainda indecisa em relação ao curso, Isabel pensa em mudar para Publicidade ou Odontologia, ambos os cursos na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Rylla Varela
A potiguar Rylla Varela, de 19 anos, fazia pelo menos uma redação por semana para o Enem e enviava para a correção do professor. Em uma das redações, ela abordou a influência da tecnologia na vida das pessoas. “O tema do Enem 2018 foi parecido com o da redação que fiz no cursinho e isso me ajudou”, revela a estudante de Natal. Apesar de ter familiaridade com o tema, Rylla lembrou que muitos estudantes não tiveram a mesma facilidade por falta acesso à internet e desconhecimento sobre controle de dados.
Destacando a importância de saber organizar as ideias que vêm na cabeça na hora de produzir o texto, Rylla comenta que em sua proposta sugeriu que os ministérios da Educação e da Ciência e Tecnologia desenvolvessem políticas que proporcionassem à população mais conhecimento digital. Ela está decidida a tentar uma vaga em Medicina em alguma universidade federal do Nordeste.
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Carolina Mendes
Também de Natal, Carolina Mendes, de 18 anos, destaca o repertório de Filosofia, Sociologia, Artes e Música trabalhado no cursinho Ciências Aplicadas como um diferencial para sair bem na redação do Enem 2018. Ela também pretende cursar Medicina e a primeira opção é a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Ao ser surpreendida pelo tema, Carolina relembra que os textos de apoio foram importantes para que ela pudesse discursar melhor sobre o que estava sendo exigido. “O tema demandou uma reflexão um pouco além do que a gente tava acostumado e foi um susto, mas quando eu comecei a ler os textos ficou algo mais tranquilo, já que pensar sobre ele remeteu a reflexões anteriores”, relembra.
Em sua abordagem, a Carolina destacou que é de responsabilidade das escolas trabalhar o uso crítico consciente das tecnologias, levando em consideração que, atualmente, as novas gerações já nascem inseridas nesse meio e precisam entender o impacto disso.
Lívia Taumaturgo
Disciplina e persistência foram as palavras que descreveram a preparação da fortalezense Lívia Taumartgo, de 18 anos, para a prova do Enem. Desde 2015 se preparando para o exame, a estudante relembra da sua primeira nota na redação: 680. Desempenho esse que foi melhorando até chegar a nota 1000 em 2018.
O resultado foi consequência da dedicação de quem produzia duas redações por semana no laboratório do cursinho e que buscava sempre na correção dos professores, leitura de noticiários e pesquisas diversas, informações para ajudar no desenvolvimento e melhora dos textos.
Entre suas propostas na redação, Lívia destacou que os Estados estabelecessem políticas públicas que auxiliem a população para realizar uma navegação correta na internet e, como consequência, “diminuir o consumismo exacerbado intensificado pela manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados”.
Lívia quer fazer Medicina e continuar morando na sua cidade. Por isso, vai tentar uma vaga na Universidade Federal do Ceará (UFC).
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Luiza Valmon
Natural de Juiz de Fora (MG), Luiza, 21 anos, tem consciência da importância da nota da redação do Enem 2018, por isso, além de fazer um cursinho pré-Enem em Minas Gerais, também investiu em um curso específico de redação. Ela produzia um texto por semana e mais outro a cada 15 dias.
O tema da redação do Enem chegou a ser discutido no cursinho, nas aulas de Sociologia, Geografia e Redação. Com isso, a mineira ganhou embasamento para construir o texto, chegando a citar autores como Émile Durkheim e a Teoria social e filosófica da Escola de Frankfurt.
“Na minha proposta de intervenção da redação do Enem propus que as escolas deveriam discutir mais sobre o tempo que os alunos passam na internet para eles terem mais consciência da liberdade e do papel deles na web. Relacionei tudo isso com a pedagogia de Paulo Freire”, relembra. Luíza vai tentar o curso de Medicina na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
André Bahia
“Estava na autoescola fazendo a última aula do simulador e recebi mensagem no celular de que a nota do Enem tinha saído. Na hora, dei a notícia para minha namorada gritando. Foi engraçado!”. Dessa forma André, 18 anos, de Janúba (MG), descobriu que estava entre os estudantes nota mil na redação do Enem 2018.
O jovem conta que, desde o 9º ano do Ensino Fundamental, participava de uma oficina de escrita no colégio. Com isso, ele desenvolveu seu próprio modelo de escrita, criando um padrão para sua redação. O mineiro fazia de dois a quatro textos por mês.
André considera que o tema da redação foi desafiador. Ele defendeu que as empresas de tecnologia avisassem os usuários sobre o uso dos dados de forma mais clara e objetiva, evitando linguagem muito técnica. O jovem vai disputar uma vaga no curso de Medicina na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
João Victor
Com apenas 16 anos, João Victor Mapurunga alcançou a nota máxima na redação do Enem 2018. Apesar de mais jovem em relação a muitos candidatos, o estudante de Teresina realiza a prova do Enem como treineiro desde que estava no 9º ano do Ensino Fundamental. “No primeiro ano do ensino médio minha nota foi 620, no segundo ano, 880, até chegar a nota 1000 no terceiro ano”, conta João, que fez o ensino médio no colégio Equação Certa.
Mesmo se deparando com um tema diferente em relação às expectativas de quem se preparava para realizar o exame, o jovem destacou o quanto a dedicação antes da prova pode ser o diferencial na hora de produzir o texto. “A preparação do aluno influencia muito em como ele vai reagir diante do tema e como ele se vira diante das adversidades”, comentou o estudante. João Victor também almeja uma vaga no curso de Medicina, em alguma universidade pública do país.
Bárbara Vicentini
Produção de, no mínimo, uma redação por semana. Assim como os demais estudantes, Bárbara, 17 anos, de Betim (MG), sabia que era necessário treinar bastante. No Colégio Rede Batista Mineiro, ela chegou a fazer várias redações que argumentavam sobre temas ligados à internet e redes de compartilhamento de informações.
Para ela, o tema da redação do Enem 2018 foi com extremamente bem construído, com muita relevância na sociedade atual, fazendo, inclusive, com que ela refletisse sua própria postura na internet.
“Como proposta de intervenção, propus o auxílio do governo à população para que essa diminuísse a exposição de dados e preferências na rede sem conhecimentos prévios, além de estímulo à leitura de termos de uso de sites e redes sociais e alertas sobre a manipulação por meio do controle de dados, a fim de evitar a alienação do indivíduo”, explica Bárbara, que também quer Medicina na UFMG.