Aumentar a presença feminina nas olimpíadas de Matemática. Com esse objetivo, a mestranda em Matemática na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Luíze D’Urso, montou em março deste ano o projeto Matemática para Garotas - turma gratuita para ajudar estudantes a se prepararem para as competições.
Ganhadora de 12 medalhas de ouro, conquistadas dentro e fora do Brasil, Luíze participou de olimpíadas do 6º ano do Ensino Fundamental até o último ano da faculdade de Matemática.
Ao longo das competições, a jovem notou que poucas meninas participavam de olimpíadas escolares de Matemática e se questionou o porquê. “Na última olimpíada que participei no ensino médio, por exemplo, só tinha eu e outra garota no nível mais avançado. Acho que as meninas desistem por falta de incentivo e perspectiva na área. Acabam se interessando por outros campos”, analisa.
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Com o objetivo de tentar mudar esse cenário, Luíze criou o projeto Matemática para Garotas no final de 2017. “Procurei a PUC e falei que desejava dar aulas gratuitas para meninas interessadas em participar de olimpíadas de matemática”, conta Luíze.
Para ministrar as aulas com ela, a mestranda chamou uma amiga da época das olimpíadas escolares: Karol Borges estuda Engenharia no Instituto Militar de Engenharia (IME), cujo vestibular é um dos mais difíceis do País, segundo professores.
Com a ajuda de um aplicativo de mensagens instantâneas, conseguiram reunir cerca de 70 pessoas interessadas em participar do projeto.
As amigas preparam estudantes do ensino fundamental e médio, de escolas públicas e privadas, para três olimpíadas de matemática:
• Olimpíada Brasileira de Matemática (OBM)
• Olimpíada Brasileira de Matemática de Escolas Públicas (OBMEP)
• Olimpíada de Matemática do Estado do Rio de Janeiro (OMERJ)
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Aulas
Todos os sábados, as meninas do Matemática para Garotas se reúnem por duas horas, em uma sala na PUC-Rio. As aulas são temáticas e com assuntos frequentemente cobrados nas competições, sempre desenvolvendo o raciocínio lógico.
“Não é um projeto com um número fechado de aulas, pois, assim como atletas olímpicos de outras áreas, precisamos estar constantemente afinadas para as competições”, explica Luíze.
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Segundo Luíze, o projeto não promove qualquer tipo de avaliação e, diferente do método escolar tradicional, o objetivo é passar uma matemática divertida em um ambiente descontraído. Ao final das aulas, por exemplo, todas sentam em roda e jogam diferentes jogos, conferindo um novo olhar para a matemática.
“Meu objetivo é aumentar a presença feminina nas olimpíadas de matemática. Quem sabe, um dia, as mulheres ganhem metade das medalhas”, Luíze D’Urso
Experiência
Letícia dos Anjos, 15 anos, estudante do 8º ano do ensino fundamental em escola pública, conheceu o Matemática para Garotas durante uma premiação da OMERJ.
“No ano passado, durante premiação da OMERJ na sede do IMPA – Instituto de Matemática Pura e Aplicada – Luíze subiu ao palco e falou sobre o projeto. Na hora me interessei e chamei algumas amigas” - conta Letícia.
A estudante revela que não tinha uma boa preparação na escola e precisava de um curso avançado. “Me surpreendi bastante com o curso, achei incrível. Como ninguém está lá obrigada, todas estão focadas nos estudos. Ao mesmo tempo em que o curso é intenso, também é prazeroso. Em todas as aulas, separamos 30 minutos para socializar, compartilhar experiências e relatos de vida”, detalha.
A jovem foi incentivada a participar de olimpíadas em 2016, por insistência de um professor. “Gostei e, desde então, participo todos os anos. Eu ganhei medalha de ouro na Canguru de Matemática em 2017 e 2018 e esse ano ganhei ouro na Olimpíada Matemática Sem Fronteiras”, conta Letícia.
Como participar
Para participar do projeto Matemática para Garotas, basta entrar em contato pela página criada nesta rede social. No momento, um grupo bem seleto está se preparando para a Olimpíada Brasileira de Matemática (OBM), em novembro.
Enquanto serve de inspiração para outras garotas, Luíze segue suas pesquisas de mestrado na PUC. Ela é coorientada pela professora doutora Carolina Araújo, única pesquisadora mulher do IMPA. “A Carolina é uma fonte de inspiração para as matemáticas. Quero continuar meus estudos e também ser doutora daqui alguns anos”.