Professores fazem análise do primeiro dia de provas do Enem 2018

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Provas do último domingo (4) foram compostas por Ciências Humanas, Linguagens e Códigos e Redação.

Em 05/11/2018 17h24 , atualizado em 06/11/2018 11h34
Por Lorraine Vilela Campos
Crédito da Imagem: inep

As provas deste primeiro domingo do Enem 2018 foram compostas por uma proposta de Redação e questões de Ciências Humanas e Linguagens e Códigos. Os destaques foram questões envolvendo princípios da Declaração Universal dos Direitos Humanos, direito das mulheres, racismo e comunidade LGBT, além do tema da redação: “Manipulação do comportamento de usuário pelo controle de dados na internet”.

Confira a correção comentada do primeiro dia do Enem 2018

O Inep esperava a presença de mais de 5,5 milhões de inscritos, mas 1.374.430 não compareceram, o que gerou uma abstenção de 24,9%. Apesar dos faltosos, esta foi a menor abstenção dos últimos anos.

Tema da redação

Fonte de especulações nos meses que antecederam o Enem, a redação trouxe um tema presente na vida de todos os usuários de internet. De acordo com o diretor pedagógico do Oficina do Estudante, Célio Tasinafo, a temática foi mais acessível do que a edição do ano passado - Desafios para formação educacional de surdos no Brasil - mas pode ter levado vários estudantes a falar sobre o peso da internet e das redes sociais nas eleições, devido aos casos recentes de Fake News. 

Tasinafo reforça que a argumentação sobre Fake News foge do recorte proposto pelo Inep. Os textos motivadores conduziam o estudante a dissertar sobre os algorítmos que dão a falsa ilusão de liberdade de escolha e consumo. "Quanto menos os alunos usaram ideias gerais e próprias para a produção do texto e mais se ativeram aos textos da prova, melhor nota devem obter na redação", ressalta. 

Redação do Enem 2018 - CLIQUE PARA AMPLIAR

Questão Polêmica

A prova do Enem chamou a atenção por conter uma questão sobre a linguagem utilizada por gays e travestis e sua origem em um dialeto de matriz africana. De acordo com a professora de Filosofia e Sociologia do Sistema Positivo de Ensino, Camila Souza, o preconceito pode ter atrapalhado alguns estudantes no momento de responder a pergunta. "São temas que, dependendo da falta de compreensão da pessoa, ela pode responder baseada em estereótipos e não em conhecimento científico, não na base do texto que está sendo apresentado para ela", afirma.

Questão abordou a dialética do movimento LGBT

Veja a resolução comentada desta questão

Do ponto de vista da estrutura, Camila ressalta que a questão foi bem elaborada e deixou claro o foco na diferenciação de dialeto enquanto linguagem. Para professora de Língua Portuguesa, Lucienne Lautenschlager, a pergunta é polêmica e, a partir de uma análise técnica, a resposta correta seria a que afirma que o Pajubá ganha status de dialeto, "especialmente por ser consolidado por objetos formais de registro".

Direitos Humanos

As diferentes áreas do conhecimento usaram a Declaração Universal dos Direitos Humanos com base para suas discussões. "Se tivéssemos de escolher uma questão para simbolizar os alicerces da prova, poderíamos apontar a questão número 42 (Prova amarela - Linguagens), na qual temos a frase da diretora geral da Unesco, segundo a qual "os direitos humanos devem ser o alicerce para todo o progresso", destaca Célio Tasinafo.

Veja também: Democracia - 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos

Tasinafo relata que o Enem valorizou os princípios do exercício da cidadania, destacando questões relativas aos direitos das mulheres (questões 19, 23 e 29, por exemplo - Prova Amarela), antirracismo (questão 09, sobre função referencial da linguagem a partir de um resumo de um artigo sobre a imagem da negra e do negro em produtos de beleza), além da já citada anteriormente questão 31 (prova amarela), sobre o dialeto da comunidade LGBT. 

Demais questões

Os educadores ressaltam que o restante do Enem seguiu o esperado, conforme as edições dos anos anteriores, como a presença de clássicos da literatura como Graciliano Ramos e Guimarães Rosa. 

Célio Tasinafo chama a atenção para o aumento de perguntas de Filosofia. "Havia uma questão de Santo Agostinho e outra de S. Tomás de Aquino, uma de Merleau-Ponty, Epicuro, além dos clássicos Rousseau e T. Hobbes", afirma.

Geografia teve abordagem de assuntos atuais como as fronteiras. Já a parte de História deu prioridade para conteúdos relacionados ao Brasil.

Os professores do Positivo acreditam que faltou exigência de senso crítico nas questões de Artes, apesar de uma boa elaboração das perguntas. Em relação à Educação Física, os profissionais ressaltam que houve confusão no enunciado, já que o texto fez alusão a um documento que muitos estudantes não tiveram acesso durante o período escolar.