Para conseguir uma vaga em uma universidade do Reino Unido, é preciso entender também o sistema de ensino médio e de preparatórios acadêmicos do país, que é bastante diferente do brasileiro.
Antes de mais nada, vamos começar com o vocabulário essencial:
- GCSE: General Certificate of Secondary Education
Cada estudante do colegial precisa de um número de Certificados Gerais do Ensino Médio, mais conhecidos pela sigla GCSEs, em diferentes disciplinas e com notas mínimas específicas para serem admitidos no sixth form, a fim de atingir os A-levels.
- A-levels: Advanced Levels
Os A-levels são qualificações avançadas relacionadas à área de estudo que o estudante pretende cursar na universidade. Eles são as últimas provas realizadas antes do processo seletivo do ensino superior e servem para indicar o desempenho dos estudantes no sixth form.
- Sixth form
O sixth form representa os dois últimos anos do ensino médio no Reino Unido, normalmente cursados dos 16 aos 18 anos, chamados de Lower Sixth (ano 12) e Upper Sixth (ano 13). Estes estudos são oferecidos por sixth form colleges.
Os anos de ensino médio no Reino Unido
No Reino Unido, são quatro anos para a conclusão do ensino médio:
- Year 10 – GCSE 1;
- Year 11 – GCSE 2;
- Year 12 – AS Level;
- Year 13 – A2.
GCSE obrigatórios
Todos os estudantes colegiais podem escolher as disciplinas que eles querem estudar durante o ensino médio, já tendo em mente a área de estudo que pretendem cursar na universidade.
Apesar de ser possível montar uma grade curricular com oito matérias, o estudante deve selecionar no mínimo seis, incluindo as disciplinas de matemática, ciências e língua inglesa que são obrigatórias.
A escolha das matérias
Cada estudante deve fazer uma prova para cada uma de suas matérias. Ou seja: se ele optou por cursar história durante o ano 11, ele vai fazer um GCSE de história no final do ano letivo.
A escolha do currículo escolar deve condizer com a área de estudo que ele pretende cursar no ensino superior. Os GCSEs e A-levels servem totalmente como preparatório acadêmico!
Com o término do ano 11, os estudantes prestam os GCSEs e as notas que conseguem nos exames podem definir o futuro deles.
Um exemplo real de uma brasileira no Reino Unido
Marina Carolina Abreu mudou-se para Londres, na Inglaterra, em 2015 com a família, quando seu pai foi transferido a trabalho. Como o ano letivo começa em setembro, ela conseguiu estudar dois anos do ensino médio no país, como qualquer britânico, mas integrando o grupo de estudantes internacionais da escola.
Por ser uma aluna estrangeira nova, ela não pôde escolher as suas matérias. “Como eu estava no grupo internacional, eles escolhem as matérias que acham que você vai se sair bem. Mas eu sei que alguns alunos, mesmo estando no internacional, puderam escolher uma ou duas matérias”, explica.
Mesmo sendo estrangeiro, se o estudante já vem do ensino fundamental, ele é integrado ao sistema normal (não precisando fazer parte do grupo internacional), e pode escolher suas próprias disciplinas. Por isso, cada caso é analisado pela escola e o estudante recebe orientação para planejar os seus GCSEs e o que fazer em seguida.
O sistema de notas do GCSE
Concluída as matérias do ensino médio, o estudante presta uma prova para cada uma delas e recebe um GCSE, que deve vir com uma nota de desempenho.
Antigamente, estas notas eram letras e agora, após algumas mudanças feitas pelo governo do Reino Unido, são em números:
9 8 7 |
A* A |
6 5 4 |
B C |
3 2 1 |
D E F G |
U | U |
Não há uma equivalência exata entre as letras que eram usadas antes e os números atuais. No entanto, 4 é tido como a média mínima de corte, equivalente ao C.
Os GCSEs são prestados entre junho e julho, final do ano letivo no Reino Unido; os resultados saem em agosto. Este é um período muito importante na vida dos estudantes do país. Assim como os simulados para os vestibulares brasileiros, em janeiro, as escolas britânicas costumam fazer testes para que os estudantes se acostumem com os modelos das provas e se preparem para o dia real de GCSEs.
No caso da Marina, por exemplo, ela prestou simulados chamados de International Group Mock Exams (Exames Simulados do Grupo Internacional).
Como os resultados no GCSE podem influenciar a vida do estudante?
Também similar ao vestibular, os estudantes britânicos se preparam para os GCSE desde o primeiro ano de ensino médio, uma vez que os resultados influenciam diretamente o seu futuro acadêmico e profissional de diferentes formas.
Os resultados no GCSEs podem determinar:
- Em qual sixth form college você será admitido;
- A sua admissão em uma universidade no Reino Unido;
- Qual área de estudo você poderá cursar na universidade;
- As suas perspectivas de carreira.
Da mesma forma, os resultados dos A-levels, exames prestados no final do sixth form, também têm a mesma importância para o futuro do estudante.
Basicamente, quanto melhores os seus resultados nos GCSE’s, melhores serão os seus A-levels e, consequentemente, maiores as suas chances de admissão nas universidades de sua escolha.
A pressão
Devido à importância do GCSE, os estudantes seguem desde muito cedo uma rotina rigorosa de estudos, com inúmeras apostilas, antes de prestar as provas.
“É muita responsabilidade”, diz Marina. “Você faz essa prova normalmente no ano 11 e, dependendo do resultado final, você faz o A-level no sixth form. As crianças são preparadas para esta prova desde o ano 7.”
Como Marina mudou-se para o Reino Unido aos 18 anos, ela entrou diretamente no ano 12, mas não foi tão simples assim. Para começar, ela precisou prestar uma série de exames a fim de comprovar a sua aptidão.
“Tudo depende do ano em que você entra e da sua idade. Eu entrei no Year 12, que começa o sixth form, mesmo já tendo 18 anos. No primeiro ano, eu fiz uma prova chamada ESOL (English for Speakers of Other Languages) para o inglês, Maths IGCSE (GCSE de Matemática para Estudantes Internacionais), GCSE de Português e de Arte & Design”, conta ela.
A pressão que já é grande para os estudantes britânicos pode ser ainda maior para os estrangeiros, principalmente se começam os estudos com o ensino médio já em andamento, como foi o caso da Marina.
“No segundo ano, como o meu inglês e matemática eram bons o suficiente, me colocaram para fazer GCSEs normais. Mas o que eles [estudantes britânicos] normalmente se preparam em 11 anos, eu e muitos outros estrangeiros tivemos que nos preparar em um ano.”
Outra alternativa: estudos vocacionais
Se as notas do estudante nos GCSEs não forem suficientes para a admissão nos A-levels, há a possibilidade de fazer um curso técnico e profissionalizante durante os dois últimos anos do ensino médio. As qualificações do BTEC (Business and Technology Education Council) são técnicas e voltadas para áreas de negócios e tecnologia, e também servem como preparatório universitário.
Com caráter de educação continuada, o BTEC também prepara o estudante para uma carreira específica. Uma vez concluídos os dois níveis (level 2 e level 3) do curso, é possível adentrar o mercado de trabalho diretamente ou então passar pelo processo seletivo universitário.
Admissão universitária
Independente da área de estudo escolhida, a maioria das universidades britânicas exige no mínimo uma nota C no GCSE de Inglês, Matemática e Ciência – que seria 4 ou 5 no novo sistema de notas.
Cada universidade estipula uma série de resultados mínimos que o candidato deve ter para a admissão na área de estudo da graduação desejada. Para o curso de Psicologia da University of Bath, por exemplo, os candidatos precisam ter A* (ou 8 e 9) em pelo menos cinco GCSEs relevantes ou então A (7) na maioria dos GCSEs.
Por este motivo, é muito importante verificar diretamente com a universidade quais são as suas exigências para o curso no qual você pretende ser admitido e, se você concluiu o ensino médio no Brasil, entender como conseguir a equivalência.