Conteúdos de Literatura que mais caem no Enem: quais são eles?

Os conteúdos de Literatura que mais caem no Enem são a interpretação de textos poéticos ou narrativos, os estilos de época, as figuras de linguagem e os gêneros literários.
Por Warley Souza

Celular aberto no aplicativo do Enem sobre um caderno de provas do exame.
As questões de Literatura da prova do Enem fazem parte da prova de linguagens, códigos e suas tecnologias. [1]
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Os conteúdos de Literatura que mais caem no Enem estão relacionados à interpretação de textos literários. Assim, compreender esse tipo de texto é uma das principais habilidades avaliadas no exame. Mas o(a) participante também precisa conhecer os estilos de época, as figuras de linguagem e os gêneros literários.

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Tópicos deste artigo

Quais são os conteúdos de Literatura que mais caem no Enem?

As questões de Literatura da prova do Enem fazem parte da prova de linguagens, códigos e suas tecnologias. Em nossa análise das provas do Enem, observamos a ocorrência de alguns conteúdos de Literatura. Veja cada um deles a seguir.

Interpretação de textos literários

A maioria das questões de Literatura busca avaliar a capacidade do(a) participante em compreender textos literários. Para isso, as questões trazem poemas ou trechos de narrativas, de diversos períodos. Saber conceitos teóricos de Literatura ajuda a entender os enunciados e a descartar alternativas. Porém, o principal é compreender o que se lê.

  • Exemplo:

A partida

Acordei pela madrugada. A princípio com tranquilidade, e logo com obstinação, quis novamente dormir. Inútil, o sono esgotara-se. Com precaução, acendi um fósforo: passava das três. Restava-me, portanto, menos de duas horas, pois o trem chegaria às cinco. Veio-me então o desejo de não passar mais nem uma hora naquela casa. Partir, sem dizer nada, deixar quanto antes minhas cadeias de disciplina e de amor.

Com receio de fazer barulho, dirigi-me à cozinha, lavei o rosto, os dentes, penteei-me e, voltando ao meu quarto, vesti-me. Calcei os sapatos, sentei-me um instante à beira da cama. Minha avó continuava dormindo. Deveria fugir ou falar com ela? Ora, algumas palavras... Que me custava acordá-la, dizer-lhe adeus?

LINS, O. A partida. In: Melhores contos. Seleção e prefácio de Sandra Nitrini. São Paulo: Global, 2003.

No texto, o personagem narrador, na iminência da partida, descreve a sua hesitação em separar-se da avó. Esse sentimento contraditório fica claramente expresso no trecho:

A) “A princípio com tranquilidade, e logo com obstinação, quis novamente dormir.”

B) “Restava-me, portanto, menos de duas horas, pois o trem chegaria às cinco.”

C) “Calcei os sapatos, sentei-me um instante à beira da cama.”

D) “Partir, sem dizer nada, deixar quanto antes minhas cadeias de disciplina e amor.”

E) “Deveria fugir ou falar com ela? Ora, algumas palavras...”

Resolução:

Alternativa E

Nessa questão, o personagem narrador mostra hesitação ao fazer a pergunta: “Deveria fugir ou falar com ela?”.

Estilos de época

O segundo conteúdo mais cobrado são os estilos de época. No entanto, questões referentes ao modernismo são as mais recorrentes, seguidas, nesta ordem, de questões sobre Literatura contemporânea, romantismo, pré-modernismo, realismo e concretismo. Na sequência, dividem o sétimo lugar o arcadismo e o simbolismo. O naturalismo, quinhentismo e parnasianismo ocupam a oitava posição. Já o classicismo, barroco e geração de 1945 compartilham o último lugar.

  • Exemplo:

Namorados

O rapaz chegou-se para junto da moça e disse:

— Antônia, ainda não me acostumei com o seu corpo, com a sua cara.

A moça olhou de lado e esperou.

— Você não sabe quando a gente é criança e de repente vê uma lagarta listrada?

A moça se lembrava:

— A gente fica olhando...

A meninice brincou de novo nos olhos dela.

O rapaz prosseguiu com muita doçura:

— Antônia, você parece uma lagarta listrada.

A moça arregalou os olhos, fez exclamações.

O rapaz concluiu:

— Antônia, você é engraçada! Você parece louca.

Manuel Bandeira. Poesia completa & prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985.

No poema de Bandeira, importante representante da poesia modernista, destaca-se como característica da escola literária dessa época

A) a reiteração de palavras como recurso de construção de rimas ricas.

B) a utilização expressiva da linguagem falada em situações do cotidiano.

C) a criativa simetria de versos para reproduzir o ritmo do tema abordado.

D) a escolha do tema do amor romântico, caracterizador do estilo literário dessa época.

E) o recurso ao diálogo, gênero discursivo típico do realismo.

Resolução:

Alternativa B

Essa é uma questão de Literatura que explora conhecimentos sobre o modernismo. Uma característica da escola literária dessa época é a utilização expressiva da linguagem falada em situações do cotidiano. Afinal, o modernismo valoriza temáticas do cotidiano e é antiacadêmico. Portanto, o poema não apresenta rimas ricas nem simetria (metrificação) dos versos. Os autores modernistas também criticavam a idealização romântica. No mais, diálogo não é algo típico do realismo, pode estar presente em qualquer outro estilo de época.

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Figuras de linguagem

O terceiro conteúdo mais cobrado são as figuras de linguagem. Nesse caso, o(a) participante precisa identificar alguma figura em um texto literário. Notamos que a metáfora foi a que mais caiu. Mas também foi cobrada a noção de paradoxo, antítese e sinestesia.

  • Exemplo:

Erico Verissimo relata, em suas memórias, um episódio da adolescência que teve influência significativa em sua carreira de escritor.

“Lembro-me de que certa noite — eu teria uns quatorze anos, quando muito — encarregaram-me de segurar uma lâmpada elétrica à cabeceira da mesa de operações, enquanto um médico fazia os primeiros curativos num pobre-diabo que soldados da Polícia Municipal haviam ‘carneado’. [...] Apesar do horror e da náusea, continuei firme onde estava, talvez pensando assim: se esse caboclo pode aguentar tudo isso sem gemer, por que não hei de poder ficar segurando esta lâmpada para ajudar o doutor a costurar esses talhos e salvar essa vida? [...]

Desde que, adulto, comecei a escrever romances, tem-me animado até hoje a ideia de que o menos que o escritor pode fazer, numa época de atrocidades e injustiças como a nossa, é acender a sua lâmpada, fazer luz sobre a realidade de seu mundo, evitando que sobre ele caia a escuridão, propícia aos ladrões, aos assassinos e aos tiranos. Sim, segurar a lâmpada, a despeito da náusea e do horror. Se não tivermos uma lâmpada elétrica, acendamos o nosso toco de vela ou, em último caso, risquemos fósforos repetidamente, como um sinal de que não desertamos nosso posto.”

VERISSIMO, Erico. Solo de clarineta. Porto Alegre: Editora Globo, 1978.

Neste texto, por meio da metáfora da lâmpada que ilumina a escuridão, Erico Verissimo define como uma das funções do escritor e, por extensão, da Literatura,

A) criar a fantasia.

B) permitir o sonho.

C) denunciar o real.

D) criar o belo.

E) fugir da náusea.

Resolução:

Alternativa C

Essa questão explora o conceito de metáfora por meio de um texto literário e procura avaliar a capacidade do(a) participante de compreender o sentido da metáfora “lâmpada”. Assim, a “lâmpada” é o escritor que joga luz sobre a realidade.

Gêneros literários

Em quarto lugar, estão os gêneros literários; e um dos gêneros que mais aparece é o gênero dramático.

Lições de motim

DONA COTINHA — É claro! Só gosta de solidão quem nasceu pra ser solitário. Só o solitário gosta de solidão. Quem vive só e não gosta da solidão não é um solitário, é só um desacompanhado. (A reflexão escorrega lá pro fundo da alma.) Solidão é vocação, besta de quem pensa que é sina. Por isso, tem de ser valorizada. E não é qualquer um que pode ser solitário, não. Ah, mas não é mesmo! É preciso ter competência pra isso. (De súbito, pedagógica, volta-se para o homem.) É como poesia, sabe, moço? Tem de ser recitada em voz alta, que é pra gente sentir o gosto. (FAZ UMA PAUSA.) Você gosta de poesia? (O HOMEM TORNA A SE DEBATER. A VELHA INTERROMPE O DISCURSO E VOLTA A LHE DAR AS COSTAS, COMO SEMPRE, IMPASSÍVEL. O HOMEM, MAIS UMA VEZ, CANSADO, DESISTE.) Bem, como eu ia dizendo, pra viver bem com a solidão temos de ser proprietários dela e não inquilinos, me entende? Quem é inquilino da solidão não passa de um abandonado. É isso aí.

ZORZETTI, H. Lições de motim. Goiânia: Kelps, 2010 (adaptado).

Nesse trecho, o que caracteriza Lições de motim como texto teatral?

A) O tom melancólico presente na cena.

B) As perguntas retóricas da personagem.

C) A interferência do narrador no desfecho da cena.

D) O uso de rubricas para construir a ação dramática.

E) As analogias sobre a solidão feitas pela personagem.

Resolução:

Alternativa D

Uma das características de textos do gênero dramático é o uso de rubricas, ou seja, as instruções do dramaturgo entre parênteses.

Crédito de imagem

[1] Brenda Rocha – Blossom / Shutterstock