A homossexualidade e o preconceito como problema social

Em 25/05/2009 16h44 Por Marla Rodrigues

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Em São Paulo uma situação inusitada: uma mulher carregou em seu ventre os óvulos fecundados de sua companheira. Na prática, ela esteve grávida de sua namorada. Pela lei, a mãe biológica é aquela que dá à luz um bebê, mas o resultado do exame de DNA dessas crianças (são gêmeos) vai demonstrar outra coisa.

O desejo das “mães” é que os bebês tenham em seus registros, no campo filiação, os nomes das duas. Nos Estados Unidos e na Espanha houve casos parecidos, mas só o país europeu permitiu o registro de dupla maternidade.

No Brasil, o garoto Chicão, filho de Cássia Eller, teve sua guarda entregue à companheira de sua mãe, Maria Eugênia, depois da morte da cantora. Esse caso abriu um precedente nunca antes registrado no país.


O garoto Chicão e suas duas mães: Cássia Eller e Maria Eugênia

A mãe que doou os óvulos conseguiu da empresa onde trabalha a licença-maternidade de quatro meses, cedida apenas às mulheres que dão à luz. Para se fazer uma comparação, os pais só têm direito a uma semana de afastamento remunerado do trabalho quando nascem seus filhos.

Um outro casal lésbico que mora em Santa Catarina conseguiu na Justiça o mesmo que tenta o casal paulista. A tendência é que a sociedade encontre novas denominações para este tipo de estrutura familiar, assim como foram inventadas as palavras “madrasta” e “padrasto”.

O tabu dentro de casa

Mesmo com os avanços sociais, ter um filho ou filha homossexual ainda é muito complicado, pois a maioria afirma que não tem preconceito, mas que não aceita que isso aconteça dentro de sua casa.


A vontade de muitos pais é que o homossexualismo pudesse ser revertido em heterossexualimo

A dificuldade em aceitar um filho homossexual é compartilhada por muitas famílias e é sobre a forma de se lidar com isso que a professora Edith Modesto concedeu uma entrevista à Revista Época do dia 07 de maio de 2009.

Modesto, 71 anos, criou a ONG Grupo de Pais de Homossexuais depois de descobrir que um de seus filhos é gay. A ONG visa atender e ajudar não só os pais, mas toda a família que sofre com essa descoberta.

Segundo ela, os homossexuais são menos expulsos de casa nos dias de hoje porque os pais também sofrem a pressão de não poderem ser “caretas”, radicais e intransigentes. O problema é que o mal-estar dentro de casa acaba ficando pior que o fora dela.

A aceitação dos pais pode passar por etapas como a de achar que é só uma fase, um problema psicológico ou até mesmo safadeza pura e simples. Outros preferem compreender os filhos e tentar entender mais sobre o assunto. É comum as mães procurarem explicações genéticas a fim de eximir de si a culpa que carregam pensando na vertente da Psicologia que costuma colocar a mãe como determinante nas opções feitas pelo filho.

O tabu dentro da escola

No início de 2009 um garoto foi recusado por sete colégios particulares de São Paulo. O problema é que ele, apesar de homem, se sente como mulher, atitude conhecida como transexualismo. Tudo o que conseguiu foi uma vaga em uma escola especial, voltada para aqueles que têm alguma deficiência de aprendizagem.


Casal paulista que tenta registrar seus filhos em nome das duas

Em outra escola do interior de São Paulo, outro garoto foi impedido de receber um material pelo professor, que o chamou de “bicha”.

Uma garota no Tocantins atracou-se com uma colega que a chamava constantemente de “sapatão”. Em resposta à agressão, a escola a enviou para a orientação psicológica enquanto a outra nada sofreu.

Todos esses casos mostram claramente como a escola não está preparada para lidar com estudantes homossexuais. O Ministério da Educação (MEC) vem financiando um projeto que distribui kits didáticos, além de formar educadores para ajudar as escolas a lidar com esses alunos. O mesmo projeto ainda realiza encontros regionais com as secretarias de Educação, ONG’s e universidades, a fim de promover um debate saudável sobre a questão.

É muito usual que alunos transexuais desistam de estudar por se sentirem rejeitados por professores e colegas. No Pará, por exemplo, a secretaria de Educação criou uma portaria que permite a esses alunos decidir, no ato da matrícula, o sexo e o nome pelo qual quer ser chamado. Funcionários, professores e diretores têm que tratá-los como está registrado. A mesma secretaria constatou 111 casos de jovens de 19 a 29 anos que optaram por esta matrícula especial e que já haviam abandonado os estudos pelo menos uma vez.

Mudanças

A homofobia está baseada no machismo. Os homens pensam que ridicularizando os gays eles demonstram ser mais machos. A tendência é que ao longo dos anos este tipo de atitude seja cada vez menos encontrada.

Uma nova geração de educadores vem tentando amenizar a divisão entre os sexos colocando meninos e meninas para brincar nas mesmas atividades e ouvir fábulas em que o príncipe salva a princesa e às vezes a princesa salva o príncipe.


O ideal é que todos vivam em harmonia, apesar das diferenças

Em Piracicaba, interior de São Paulo, a ONG Centro de Apoio e Solidariedade à Vida realiza oficinas com estudantes do Ensino Médio. A intenção é que eles, ao conhecer mais de perto essa realidade, eliminem gradativamente o preconceito até ele desaparecer por completo. Mas até lá há um longo caminho.

E na sua escola, como são tratados os alunos homossexuais? Os diretores e coordenadores tomam parte de ações para evitar que o preconceito ganhe os estudantes? Relate casos de seu conhecimento para que o debate se enriqueça!