Em espaço ainda dominado por homens, jovens brasileiras perseguem sonho de ser cientistas

Estudantes mulheres querem ajudar a ampliar participação das mulheres na área de Ciência

Em 08/03/2022 15h56 , atualizado em 08/03/2022 18h29
Por Silvia Tancredi
Jovens cientistas querem atuar em carreiras relacionadas à Ciência

Marie Curie, primeira mulher a receber o Prêmio Nobel e primeira pessoa a ganhá-lo duas vezes, em Física e em Química, é uma das maiores inspirações para estudantes que têm sonho de trabalharem como cientistas. 

Outras referências de alunas do Ensino Médio e do Ensino Superior que querem atuar com Ciência são as próprias professoras com quem elas têm contato no dia a dia e as quais, além de inspirar, as fazem gostar dessa área ainda mais.

Ao contribuir com a Ciência, as jovens querem ampliar a taxa de participação feminina em espaços que costumam ser dominados por homens. Dados apontam, por exemplo, que mulheres representam apenas 37% dos pesquisadores com bolsa de produtividade em pesquisa. Além disso, somente 18% dos membros da Academia Brasileira de Ciências são mulheres.

Hoje, 8 de março, Dia Internacional da Mulher, data criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1975, aproveitamos para conhecer histórias de alunas que já estão no caminho para ampliar a representatividade feminina na Ciência. 

Leia a história do Dia Internacional da Mulher

Meninas na Ciência

As irmãs Beatriz e Luiza Quadros Schmitt, do Colégio Salvatoriano Nossa Senhora de Fátima, em Florianópolis, são exemplos de meninas que estão ansiosas por ocuparem assentos cada vez mais relevantes em carreiras relacionadas à Ciência, seja no Brasil, seja no exterior. 

Beatriz, de 18 anos, quer estudar o curso de Astrofísica. A carreira é um ramo da Astronomia que se dedica ao estudo do universo por meio de aplicações das leis da Física e da Química.

Tradicionalmente, a carreira de Astrofísica é dominada por homens, mas Beatriz quer ajudar a mudar esse rumo. Para a estudante, a história mostra que ser uma mulher em áreas predominantemente masculinas intimida. “É comum ouvir as diversas histórias de mulheres que tiveram os créditos por suas descobertas roubados por homens”, lembra.

A jovem catarinense reconhece a inspiração de mulheres que colocaram seu nome na Ciência para que as meninas de hoje se tornem as cientistas de amanhã.

“Ver mulheres de sucesso na Ciência me dá a coragem de que preciso para correr atrás dos meus objetivos e um dia, quem sabe, também influenciar outras meninas a fazerem o mesmo”, acredita Beatriz.

Luiza e Beatriz são irmãs e moram em Florianópolis

Confiança na Ciência

Luiza ressalta que parte da sua vontade de trabalhar com Ciência vem da sua admiração por profissionais mulheres que atuam no seu colégio. “Minha professora de química, Josiane Liz, por exemplo, me inspira muito e me fez amar a área ainda mais. Também é muito importante, para mim, ver a convivência entre ela e os colegas de trabalho, sempre com respeito e sendo vista da mesma forma”, elogia a jovem. 

Pesquisa feita no primeiro ano da pandemia do coronavírus mostrou que o número de brasileiros que passaram a confiar na Ciência depois do primeiro ano da doença cresceu de 87% para 91%. Esse cenário motivou a estudante Luiza a escolher ou Biomedicina ou Biotecnologia na hora do vestibular. 

“A gente tende a valorizar as profissões e reconhecer sua importância só quando aparece uma necessidade. Minha vontade sempre foi fazer a diferença no mundo, então a pandemia da covid-19 me mostrou que as profissões ligadas a Ciência são ótimas opções para isso”, analisa a estudante Luiza.

Ciência para proteger mulheres

Natália e Andressa querem ajudar a reduzir a violência contra a mulher

Natália Fiori dos Santos, 21 anos, e Andressa de Souza Santiago, 22, graduadas no curso de Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas da Faculdade de Tecnologia (Fatec) Indaiatuba, em São Paulo, também já estão colocando seu nome na Ciência.

Quando estavam fazendo o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), as jovens coletaram dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), que reúne as comunicações feitas ao Sistema Único de Saúde (SUS), e trabalharam com mineração de dados.

As pequisas das alunas, feitas entre os anos de 2013 e 2017 no Estado de São Paulo, mostraram, por exemplo, grande número de agressões cometidas por cônjuges ou ex-cônjuges, mas também muitas lesões “autoprovocadas” devido ao consumo de álcool e drogas.

Com o objetivo de tentar diminuir a violência contra a mulher, as jovens pretendem iniciar uma pós-graduação em Ciência de Dados e, quem sabe, transformar o TCC em ações que protejam as mulheres.

Papel da mulher na Ciência

Natália avalia que, ao longo da historia da ciência, o papel da mulher foi de extremo valor em diversos aspectos. "Grandes contribuições levam o nome de mulheres, o que se deve ao fato, cientificamente comprovado, de que estudamos muito mais", salienta.

De acordo com a jovem, quanto mais reconhecimento e visibilidade a mulher tiver, mais será possível incentivar outras mulheres que possivelmente revolucionarão a ciência. Para isso, a estudante acredita que é importante diminuir situações de discriminação, assédio, intolerância e machismo que ainda são presentes nesses ambientes predominantemente masculinos.