Cresce número de mulheres em cursos predominantemente masculinos

Machismo e desconfiança ainda estão presentes no dia a dia das estudantes e profissionais
Em 29/04/2020 10h34 , atualizado em 29/04/2020 12h23 Por Lorraine Vilela Campos

No Porto de Santos, mulheres ocupam cargos que antes eram ocupados basicamente por homens [1]
No Porto de Santos, mulheres ocupam cargos que antes eram ocupados basicamente por homens [1]
Crédito da Imagem: Arquivo pessoal Jennifer Vibian
Imprimir
Texto:
A+
A-
PUBLICIDADE

O mercado financeiro e áreas como Engenharia, Agronegócio e Logística sempre foram vistos como predominantemente masculinos, o que consequentemente ocorre nos cursos de formação de tais profissões. No entanto, tem crescido a procura de mulheres por cursos técnicos, superiores tecnológicos e de graduação até então ocupados por homens.

Levantamento feito pela Fundação de Apoio a Tecnologia (FAT), responsável pelos vestibulares das Faculdades Tecnológicas de São Paulo (Fatecs), registrou aumento gradativo de mulheres em carreiras tecnológicas consideradas masculinas. Gestão Portuária, Agronegócio e Hidráulica e Saneamento Ambiental estão entre os cursos superiores com grande presença feminina.

Jennifer Vibian
Jennifer é formada em Logística e
estudante de Gestão Portuária

Rebocar barcos e controlar cargas marítimas estão entre as atividades diárias de mulheres como Jennifer Vibian, de 22 anos, formada em Logística, estudante de Gestão Portuária e estagiária de um Armador no Porto de Santos. O setor portuário vem crescendo e atraindo mulheres para um ambiente visto como desafiador e predominantemente masculino. 

O curso de Gestão Marítima da Fatec, o único público no Brasil, tem 45% de sua turma composta por mulheres. Jennifer viu no curso a chance de aprofundar os conhecimentos de sua formação anterior em Logística e buscar novas oportunidades profissionais. "Sempre gostei muito de estudar. Pretendo fazer uma pós ou algum tipo de qualificação. O mercado exige muito isso da gente", ressalta.

Machismo

O ingresso em áreas tradicionalmente dominadas pelos homens faz com que as mulheres tenham que lidar com o machismo. "É uma batalha diária", resume Caroline Malaguti Liberalino, de 27 anos, formada em Hidráulica e Saneamento Ambiental, projetista em Infraestrutura Urbana e Estações de Tratamento de Efluentes e estudante de Engenharia Civil

"A mulher ainda encontra muito preconceito, principalmente em campo, pois grande parte dos homens acha que não somos capazes de gerenciar uma obra, que não temos pensamento analítico e liderança". (Caroline Liberalino). 

Caroline Malaguti
Caroline é formada em Hidráulica e Saneamento Ambiental

Mulheres que se desafiam em profissões culturalmente masculinas são comumente cobradas para colocar à prova seus conhecimentos, mesmo que já tenham experiência na área. Com experiência de 10 anos na área de Meio Ambiente, Caroline uniu seus conhecimentos profissionais com o gosto pelas ciências exatas para cursar Engenharia Civil. "Sou testada todos os dias, meus conhecimentos e minhas experiências são colocados em prova a todo o momento, principalmente por ser uma mulher jovem", declara.

Camila Mayla
Camila é técnica em Agropecuária e
estudante de Agronegócio

A mesma cobrança por desempenho é relatada por Camila Mayla Silvério, de 24 anos, técnica em Agropecuária e estudante de Agronegócio. "Talvez por as pessoas me virem como uma menina muito delicada e feminina, escutei que não aguentaria uma semana. Acabei me formando como uma das melhores alunas da sala, pois tinha comprometimento e gostava do que fazia. No mercado de trabalho não é muito diferente".

A resistência de alguns alunos à figura feminina é percebida até mesmo por quem ainda não está no mercado de trabalho. Vitória Guedes, de 28 anos, é aluna de Agronegócio e relata que em atividades extracurriculares é possível notar o preconceito de alguns contra mulheres. "Eu tenho muito orgulho de ser mulher do Agro e com isso jamais irei deixar o machismo me abalar", ressalta.

Persistência e Aperfeiçoamento

Persistência é a palavra-chave para enfrentar o machismo nas carreiras de maioria masculina. "Sei que tem sido um pré-julgamento com mulheres no campo, mas isso nunca me intimidou, pelo contrário, fez com que eu me dedicasse mais para superar as expectativas", afirma Camila Mayla. 

A estudante de Agronegócio explica que a área não se resume a trabalho braçal, como muitos pensam, pois existem ferramentas e maquinários que podem ser manuseados por mulheres.

"Não abaixe a cabeça. Busque conhecimento técnico e use a inteligência para impor o seu lugar." (Camila Mayla)

Vitória Guedes
Vitória é estudante de Agronegócio

"Acho que ser mulher do Agro nessa nova geração é isso, é poder se comunicar mais; poder se comunicar melhor, a gente tem muito acesso à informação e a gente tem capacidade de levar a verdade para muita gente, a muitos lugares e de muitas formas", destaca a estudante Vitória.

Conheça o curso de Agronegócio

Carolina Malaguti dá como dica o investimento si mesma e o aperfeiçoamento para sair na frente no mercado de trabalho. "Investir em cursos de liderança, comunicação efetiva e buscar grupos de apoio de mulheres empreendedoras, mulheres líderes. Isso auxilia a manter a voz ativa e se posicionar no mercado de trabalho", opina. 

[1] Crédito: arquivo pessoal Jennifer Vibian