Aluna brasileira no Reino Unido explica as diferenças do ensino médio britânico
Rafaela Sousa conta, ainda, como foi o seu processo de seleção universitária no exterior e a solicitação da cidadania britânica
Rafaela Sousa mudou-se na adolescência para a Inglaterra, mais especificamente para Bristol, com os pais. Aos 13 anos, ela precisou concluir o ensino médio no país antes de ingressar em uma universidade do Reino Unido.
Atualmente, aos 23 anos, Rafaela já é graduada e pós-graduada em áreas do Jornalismo, com bacharelado e mestrado britânicos. Após oito anos residindo no país e um longo processo, ela conseguiu uma cidadania britânica.
Em entrevista ao Brasil Escola, Rafaela explicou as principais diferenças de se cursar o colegial no Brasil e no Reino Unido, como foi o seu processo de seleção universitária no exterior e a solicitação da cidadania britânica.
Confira a seguir!
Quando e por que você se mudou para a Inglaterra?
Mudei-me em 2008, tinha quase 14 anos na época, porque o meu pai arranjou um trabalho aqui em Bristol.
Como foi a mudança e a sua adaptação ao país na adolescência?
No começo, eu achei um pouco difícil devido à barreira linguística, mas com o tempo eu fui me acostumando e hoje eu adoro morar aqui.
Como foram os seus anos no ensino médio? E a sua preparação para estudar em uma universidade no Reino Unido?
Eu tive a sorte de ter bons amigos durante o tempo que eu moro no Reino Unido, já que durante esses anos de escola, eles foram umas da pessoas que mais me ajudaram com o meu inglês.
Aqui, o college/sixth-form serve para isso: preparar para a universidade. Tive que fazer o meu A-level e o meu A2 para poder entrar na minha faculdade de escolha.
Quais são as principais diferenças entre Ensino Fundamental e Médio do Brasil e da Inglaterra?
Uma das grandes diferenças foram os GCSEs que precisamos fazer nos últimos anos da escola, que são o Year 10 e o Year 11 - nesse anos temos 15 e 16 anos. É diferente porque podemos escolher as aulas que queremos ter, com exceção das aulas de matemática, inglês, ciência e educação física, que são obrigatórias. Mas, além dessas aulas, podemos escolher o resto, como geografia, cozinha, artes, línguas (como francês e espanhol), drama, entre outros.
Já para o A-Levels, você pode escolher qualquer aula, sem nenhuma obrigatória, a não ser que alguém não tenha passado no seu GCSE de matemática e de inglês, aí a pessoa terá que fazer esses dois de novo. Os alunos normalmente escolhem as classes do A-Level que tenham relação com o curso que eles querem fazer na faculdade. Os A-Levels são uma opção, o aluno pode escolher se ele quer fazê-los ou não. Mas são obrigatórios para quem quer entrar em uma faculdade.
E também o aluno sempre passa de ano, mesmo não passando em algum GCSE. Mas é necessário ter o GCSE de matemática, inglês e ciência acima da nota C para poder encontrar qualquer emprego aqui. A nota A* sendo a mais alta.
De acordo com a sua experiência, quais as vantagens de cursar o colegial no Reino Unido, especialmente se a intenção for fazer uma universidade no exterior?
Adoro estudar aqui, é muito bom para melhorar o seu inglês e ajudar com a sua autoconfiança. Aqui também tem muitas pessoas de outros países, como a Espanha, Alemanha, Estados Unidos, México, China, entre outros. Assim você também vai aprendendo a cultura desses países, a diversidade é muito grande. Você conhece novas pessoas de países diferentes todos os dias.
Quais tipos de suporte a sua escola na Inglaterra ofereceu quando você chegou?
Quando eu entrei na escola, eu tinha 14 anos e entrei no meio do ano. Cheguei aqui em janeiro, e as aulas daqui vão de setembro até julho para os alunos do Ensino Médio. Outro aluno tinha chegado na mesma época que a minha, assim uma professora (que a sua língua natal era espanhol) nos ajudava com o nosso inglês todos os dias durante um tempo livre.
Como são os professores em comparação aos do Brasil?
Não tem muita diferença entre os professores daqui e os do Brasil, mas como fui a uma escola católica, os professores eram mais rígidos quando o assunto era o uniforme escolar. O uniforme consistia em uma saia, meia-calça preta, sapatilha preta, uma blusa branca, gravata e um casaco, e um blazer (apesar que naquela época não precisei usar o blazer). O uniforme para a educação física é diferente. E não podia usar nenhum tipo de joalheria.
De maneira geral, o que achou do A-Level, o preparatório universitário britânico?
Gostei muito. Tive a oportunidade de escolher a matéria que queria fazer para a minha faculdade, aprendi muito com as aulas, e além disso fiz vários amigos durante os meus A-Levels.
Você tirou a cidadania britânica antes ou depois de mudar? Como foi o processo?
Eu tirei a cidadania britânica depois de morar oito anos aqui. O processo é um pouco longo. Antes de me mudar para a Inglaterra eu já tinha vindo com o visto, e depois que completei cinco anos morando aqui, eu apliquei para o visto definitivo, e então eu fiz um teste chamado “Life in the UK”.
Um ano depois do teste, eu apliquei para a cidadania britânica, e fiz um teste de inglês, e assim que eu passei e tirei a minha cidadania, eu apliquei para o passaporte britânico.
O que mais te marcou em relação à diferença de cultura, costumes e estilo de vida britânicos e brasileiros?
Gosto muito da comida daqui, mas também amo a comida do Brasil. Acho que o que me marcou mais no começo foi o frio, já que na época eu não estava muito preparada, especialmente porque eu vim para a Inglaterra durante o inverno. A temperatura daqui, até no verão, é bem diferente da do Brasil.
Como foi o processo de seleção na sua universidade britânica?
Durante o processo de escolha eu podia aplicar para mais ou menos cinco faculdades, colocando a minha favorita como a minha primeira opção, a minha segunda favorita como a minha segunda opção e assim por diante. Tudo que eu precisei para aplicar foram os meus GCSEs, que são equivalentes ao Ensino Médio do Brasil, e os meus A-Levels (A-Level e A2).
Quais documentos você precisou providenciar para se matricular na universidade?
Para ao meu bacharelado, no dia da matrícula, eu só precisei levar as minhas notas (GCSEs e A-Levels), o meu passaporte, o resultado do teste de inglês (o IELTS), e o visto permanente (também podem levar o seu visto de estudante em vez do visto permanente). Mas antes de fazer essa matrícula na própria faculdade, eu apliquei para a universidade pelo sistema britânico chamado UCAS.
Já para o meu mestrado eu já pude aplicar pelo o próprio site da universidade, e só precisei das minhas notas (GCSEs, A-Level e do meu bacharelado), duas cartas de referência de dois dos meus professores do bacharelado, uma 'personal statement' (que eu também precisei para a minha primeira faculdade, só que escrita diferente), cartas com o meu endereço e o meu passaporte. Que eu me lembre, foi isso que eu precisei.
O que e onde você estudou?
Eu estudei Multimedia Journalism (Jornalismo Multimídia) em London South Bank University (Londres), e fiz mestrado em Digital Media and Society (Mídia Digital e Sociedade) em Cardiff University (Cardiff, País de Gales).