Jovens premiados em Feira de Ciências do Google dão dicas para estudantes

Brasileiros foram reconhecidos com projeto para descontaminação de água de forma sustentável.
Em 11/01/2017 13h38 , atualizado em 12/01/2017 15h10 Por Lorraine Vilela Campos

João e Letícia utilizaram a estrutura do Colégio Ari de Sá para a pesquisa
João e Letícia utilizaram a estrutura do Colégio Ari de Sá para a pesquisa
Crédito da Imagem: Colégio Ari de Sá
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Sensibilizados com a tragédia ambiental de Mariana, em Minas Gerais, dois estudantes paulistas tiveram uma ideia que acabou rendendo um reconhecimento internacional, o Prêmio Impacto na Comunidade da Google Science Fair 2016

Apaixonados pela Ciência, os jovens Letícia Pereira de Souza, de 18 anos, e João Gabriel Stefani Antunes, de 16, se uniram para achar uma forma que pudesse ajudar famílias de regiões com difícil acesso à água potável, utilizando um método que fosse barato e acessível. Com isso, surgiu o projeto "Semente mágica: Transformação de água poluída em potável". 

Atualmente, João Gabriel estuda em um colégio de Fortaleza, local em que o projeto foi desenvolvido. Já Letícia está em seu primeiro ano na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. Apesar de estarem em diferentes lugares após a conquista do prêmio, o sonho de usar a Ciência para o bem da sociedade continua. 

O projeto

Usar os conceitos vistos em sala de aula na prática sempre foi o objetivo da dupla de estudantes que se conheceu em uma residência estudantil de Fortaleza, local para onde foram após a mudança de São Paulo para o Ceará. 

Letícia desejava se envolver com a área de pesquisa e foi aí que conheceu programa Cientista Beta, projeto formado por voluntários que busca estimular as pesquisas científicas em benefício da sociedade. O programa possui as mentorias, que são pessoas que se tornam mentores dos participantes e acompanham o seu desenvolvimento dos estudos pela plataforma online, sem nenhum custo para o aluno. 

A dupla de estudantes se formou a partir do convite de Letícia para os estudantes da residência em que moravam, pois João topou o desafio por também ser apaixonado pela Ciência.  "Inicialmente, queríamos fazer um projeto que causasse grande impacto na sociedade, mas não sabíamos exatamente de que forma", destaca João Gabriel. Foi então que a aluna se recordou do desastre ambiental de Mariana e a poluição do Rio Doce, um problema que incentivou a busca por uma solução. 

Pesquisando, Letícia descobriu o potencial de filtragem existente na semente da Moringa oleífera. A partir daí, os alunos toparam o desafio de formular um projeto que pudesse ajudar pessoas em condições precárias ou em cenários de desastres. "A pesquisa mostra que é possível lutar contra o problema de contaminação de água usada para consumo, de uma forma barata e acessível", ressalta. Outro ponto positivo encontrado foi que trata-se de um produto natural e que não causaria impacto ambiental em seu despejo. A parte de testes e pesquisas foi feita no laboratório do colégio dos estudantes. 


A semente da Moringa Oleífera possui a capacidade de filtragem, retirando impurezas presentes na água

O caráter social do projeto dos jovens, o que levou ao reconhecimento internacional, está no fato de que em casos de desastres ambientais e em regiões periféricas a população acaba consumindo água contaminada por agentes químicos e biológicos, resultando em diferentes tipos de doença. "Os tratamentos atuais de água apresentam problemas para atender tais pessoas, devido a grande infraestrutura e seu elevado preço", afirma João. 

Google Science Fair

Com o projeto desenvolvido, os estudantes buscaram propagar a ideia da descontaminação da água com baixo custo e de forma natural. Com isso, se inscreveram em algumas feiras nacionais e internacionais, entre elas a Google Science Fair 2016, competição online que recebe pesquisas científicas de estudantes entre 13 e 18 anos de todo o mundo, contribuindo para o interesse de adolescentes pela Ciência e sua utilização para benefício da sociedade. 

"Eu sempre sonhei em me inscrever na Google Science Fair" - lembra Letícia, que complementa - "Eu acredito que o fato de ser uma feira reconhecida mundialmente faz com que as pessoas acreditem mais que é possível desenvolver projetos grandes ainda no ensino médio. É um incentivo a mais para os alunos realmente irem a fundo e começarem suas pesquisas", destaca a estudante. 

A descoberta e a pesquisa renderam o prêmio e orgulho para os estudantes, mas a sua implantação ainda não foi possível. "O objetivo final do projeto é a aplicação do mesmo na sociedade. Nossas maiores dificuldades são os métodos de distribuição da semente, além da necessidade de algum patrocínio ou ajuda de organizações maiores, visando fazer o projeto realmente acontecer", afirma o estudante João.

O Papel das Pesquisas

Participar de programas de iniciação científicas, pesquisas e feiras de diferentes disciplinas possuem grande importância no desenvolvimento de estudantes, tanto que no Brasil e em outros países há cada vez mais a realização de Olimpíadas voltadas para alunos de todas as idades. A socialização de crianças, adolescentes e jovens de diferentes regiões e a aplicação dos conhecimentos na prática resultam em um melhor desempenho escolar. 

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"O que mais gosto na pesquisa é a possibilidade de fugir do papel e das apostilas e fazer algo realmente acontecer com a Ciência, com o objetivo de poder contribuir na resolução dos diversos problemas que existem hoje", destaca João Gabriel. Fascinado pela área científica desde a infância, pois segundo ele a disciplina de Ciências (que no ensino médio ganha as vertentes de Física, Química e Biologia) foi a que mais trouxe respostas para suas dúvidas sobre o funcionamento das coisas, o estudante também é adepto das Olimpíadas Escolares. 

O gosto pela pesquisa também é compartilhado por Letícia. "Fazer projetos é uma das formas mais divertidas e enriquecedoras de se envolver com as Ciências, já que você se sente um cientista e tem um gosto de como é a profissão", ressalta. Para a jovem, ter a liberdade de buscar e se envolver com algo de seu interesse, descobrindo novas coisas sobre o assunto é uma experiência "incrível". A vontade de participar de pesquisar começou no 9º ano, prática que ela levou durante o ensino médio e continua em Stanford.

Dicas 

Se você também gosta de Biologia, Química e Física e pretende seguir o caminho de Letícia e João Gabriel, confira abaixo algumas dicas dos estudantes. Já se tem dificuldade em tais áreas, os conselhos podem auxiliar nos seus estudos. Veja!

-> É preciso buscar entender o conteúdo, fugindo do "decoreba": aproveitar as aulas e os momentos livres para pesquisaR como funcionam os processos químicos, físicos ou biológicos de algo podem trazer descobertas importantes. 

→ Comece cedo, se possível: Letícia começou a participar de projetos e olimpíadas no 9º ano do ensino fundamental, o que acrescentou muito no seu aprendizado e serviu de auxílio para a composição de seu currículo na candidatura para Stanford. Ela recomenda que o estudante busque as atividades extracurriculares desde cedo, indo além do conteúdo visto em sala de aula. 

-> Tenha mais paciência com a Física: Para Letícia, para entender Biologia e Química é preciso, antes de tudo, compreender a Física. "Essas duas ciências são regidas por processos físicos", destaca. 

-> Pense em como as disciplinas funcionam na prática: tente enxergar como a Ciência está presente no seu cotiano, o Enem utiliza muito essa abordagem em suas provas. 

-> Não tenha medo de tirar dúvidas: Para João, é importante nunca deixar de perguntar ao professor em caso de dúvidas, aproveitando o momento da aula para os esclarecimentos. 

-> Estabeleça uma frequência de estudos: João recomenda que as disciplinas sejam estudadas frequentemente, no método que o estudante melhor se adaptar. O que pode servir para você, pode não dar certo para seu colega. Achar um jeito que lhe deixe confortável é importante. 

-> Qualidade é melhor que quantidade: Ficar somente estudando sem períodos de descanso resulta em um esgotamento do estudante. João, por exemplo, tem sua rotina de estudos e reserva um tempo para o lazer durante a semana. 

Vocação

A identificação com uma área do conhecimento pode auxiliar na escolha do curso de graduação. No entanto, nem sempre essa é uma decisão definitiva. Participar de projetos científicos não lhe obriga a ser um cientista ou seguir algo no ramo, mas para muitos é uma forma de se encontrar ou até mesmo um sonho. 

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Desde de setembro na Universidade de Stanford, como freshmen (o equivalente ao calouro, no Brasil), no momento Letícia está aproveitando o sistema Liberal Arts, o que permite ao aluno frequentar matérias de diferentes áreas do conhecimento antes de se aprofundar no currículo de um curso específico. No entanto, seu desejo é se graduar em algo ligado à Biologia, já que considera às Ciências como 'bases da tecnologia e desenvolvimento mundial'.

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Entrando no segundo ano do ensino médio agora em 2017, aos 16 anos, João não se decidiu completamente em relação ao curso que deseja fazer. Mas isso não significa que ele não tenha metas, já que por se identificar mais com disciplinas de Física, Química e Matemática, ele diz que pretende focar em tais áreas e tentar entrar no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), para cursar alguma Engenharia, ou se candidatar para alguma universidade do exterior