Quantidade de horas de estudo não deve ser referência para sucesso

Problema é cultural e solução passa por mudança no currículo e na mentalidade de pais e educadores
Em 13/04/2018 17h15 , atualizado em 17/04/2018 11h30 Por Adriano Lesme

Carga horária excessiva prejudica o aprendizado dos alunos
Carga horária excessiva prejudica o aprendizado dos alunos
Crédito da Imagem: Shutterstock
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Recentemente, uma mãe nos relatou que o filho não estava conseguindo boas notas mesmo estudando mais de dez horas por dia. Além das aulas tradicionais no período da manhã e da tarde, ele precisa fazer as tarefas da escola à noite. Lazer? Apenas algumas horas no final de semana, afinal, é ano de vestibular e Enem.

Vocês já devem imaginar o motivo do mau rendimento do filho. Isso mesmo, o cansaço. Infelizmente, essa rotina estressante é cada vez mais comum em escolas particulares, que competem  umas com as outras para saber qual delas tem mais dias e horas de aulas. As escolas até ensinam a importância do sono, da atividade física e do lazer, mas na prática vão na contramão disso.

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Mas vamos fazer justiça: as escolas não são as únicas culpadas. Pais, Ministério da Educação (MEC), secretarias estaduais e municipais de educação e até mesmo nós da imprensa somos responsáveis pela cultura da valorização da quantidade e não da qualidade. Temos que repensar o modelo do ensino médio, os vestibulares e o Enem.

Pais

Algo que precisa mudar é a mentalidade de alguns pais, que acham que a escola do filho deve ter várias aulas, provas, simulados e tarefas de casa para ele entrar em uma faculdade pública. As escolas sabem que os pais valorizam a quantidade e, por isso, implantam essa metodologia pela busca de mais matrículas. A concorrência no mercado de cursinhos pré-vestibulares e Enem, principalmente em grandes cidades, agrava mais a situação.

Imprensa

Tenho certeza que já leram alguma notícia, até mesmo aqui no Brasil Escola, com a seguinte manchete: Primeiro lugar em Medicina estudava 14 horas por dia. Notícias como essa acabam alimentando a falsa ideia de que o sucesso está nas horas de estudo. Obviamente, é importante intensificar os estudos em ano de vestibular, mas é perfeitamente possível aliar isso com lazer, descanso e exercícios.

Quando damos valor a quantidade, negligenciamos boa parte dos estudantes que não têm condições de estudar várias horas por dia. Em geral, são alunos de escolas públicas com pouca estrutura e que precisam dividir os estudos com o trabalho. A probabilidade de sucesso desses estudantes é tão baixa que, quando conseguem ir para a universidade pública, viram notícia. 

O que fazer

Mudar essa cultura não é uma tarefa fácil, mas a reforma no ensino médio pode ter sido o primeiro passo. Na teoria, a opção por um itinerário formativo vai diminuir o conteúdo em sala de aula. No caso das escolas em tempo integral, o período da tarde poderá ser aproveitado para atividades físicas e culturais, como aulas de música e teatro, além de discussões de assuntos que conscientizem os alunos como membros ativos da sociedade.

Em resumo, a escola precisa se tornar um ambiente de prazer para o estudante, até mesmo em período de preparação para o vestibular. Deve ser a segunda casa, um ambiente de aprendizado e troca de experiências e não uma fábrica de robôs que respondem questões de múltipla escolha.

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