Precisamos falar sobre o que virou o Inep

Em 26/05/2021 18h25 , atualizado em 27/05/2021 15h23 Por Adriano Lesme

Danilo Dupas é o quinto presidente do Inep em pouco mais de dois anos [1]
Danilo Dupas é o quinto presidente do Inep em pouco mais de dois anos [1]
Crédito da Imagem: MEC
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Desde o início do Governo Bolsonaro, há pouco mais de dois anos, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) já teve cinco presidentes. Essa troca constante de diretoria atrapalha o planejamento de exames, como o Enem, Encceja, Saeb e Revalida, e interfere negativamente na imagem da autarquia. 

Os primeiros dias de Governo Bolsonaro tiveram a professora e pesquisadora Maria Inês Fini como presidente do Inep. Doutora em Educação, Inês Fini foi uma das autoras do projeto original do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), principal exame organizado pelo Inep, e reunia competências técnicas para continuar na direção da autarquia, cargo que já ocupava há mais de três anos.

Apesar do seu know-hall, Maria Inês Fini foi exonerada do cargo com apenas duas semanas do novo governo. Na época, a então presidente do Inep foi criticada por Jair Bolsonaro por permitir que o Enem abordasse questões que citavam feminismo, gays e travestis. Inês Fini até relatou que amigos e parentes estavam sendo ofendidos nas redes sociais por apoiadores do presidente. Era o início da verdadeira balbúrdia.

Já começou errado

Pode-se dizer que o primeiro presidente do Inep no Governo Bolsonaro foi Marcus Vinícius Rodrigues, doutor em Engenharia e ex-professor da FGV. Conservador e entusiasta da Ditadura Militar, Rodrigues reunia as características do novo governo. No entanto, o engenheiro só ficou dois meses no cargo e saiu após se desentender com membros do Ministério da Educação (MEC). O doutor Marcus Vinícius afirmou, na sua saída, haver uma “incompetência gerencial muito grande” no MEC, na época sob gestão do ex-ministro Ricardo Vélez.

Para o lugar de Marcus Vinícius Rodrigues o governo nomeou Elmer Coelho Vicenzi, delegado da Polícia Federal, para presidir o Inep. Sem nenhuma ligação com a educação, o delegado foi uma indicação do então novo ministro do MEC, Abraham Weintraub, que mais tarde colecionaria várias polêmicas até ser demitido. Vicenzi ficou ainda menos tempo na presidência do Inep: apenas 24 dias. O motivo? Era contra a interferência de Bolsonaro no Enem.

Um oasis no meio da incompetência

O presidente do Inep que ficou mais tempo no cargo foi o servidor público federal Alexandre Ribeiro Lopes, que entrou em maio de 2019 e saiu em fevereiro deste ano. Alexandre também não tinha nenhuma experiência na área da educação, mas conseguiu, de certa forma, organizar o Inep e se manter longe das polêmicas. Sempre solícito com a imprensa, passava seriedade no seu trabalho, ao contrário do ministro Weintraub. 

Para minha surpresa – talvez nem tanto – Alexandre Lopes foi exonerado em fevereiro. Jornalistas que trabalham nos bastidores do governo afirmam que o motivo da demissão foi uma questão do Enem 2020 que citava a diferença de salário entre os jogadores Neymar e Marta. Para Bolsonaro, a questão sobre desigualdade salarial entre homens e mulheres era "ridícula". Motivo bizarro para uma demissão, se for verdade.

O novo presidente do Inep é o economista Dalilo Dupas, ex-secretário de Regulação e Supervisão do Ensino Superior do MEC. Em poucas semanas à frente da autarquia, Dupas criticou a gestão anterior, cancelou o Novo Saeb e, consequentemente, o Enem Seriado. Ou seja, o planejamento do Inep não tem continuidade com essas sucessivas trocas.

Os principais prejudicados

No meio de toda essa balbúrdia ficam os estudantes que dependem dos exames organizados pelo Inep para entrar no ensino superior, concluir o ensino médio, revalidar o diploma de Medicina etc. O Enem 2021, por exemplo, segue sem previsão. Estamos quase em junho e não sabemos quando serão aplicadas as provas. O pior: não sabemos se terá verba para o Enem.

Nós, jornalistas, também sofremos com a incompetência do Inep. A assessoria de imprensa da autarquia, que funcionava muito bem nos governos anteriores, atualmente é ineficiente. Não respondem nossos contatos ou dão respostas evasivas. 

A central de atendimento do Inep também não funciona. Quase todos os dias recebemos reclamações de estudantes que tentam entrar em contato pelo site ou pelo telefone 0800 616161 e não conseguem. 

Diante de todo esse descaso, me senti na obrigação de escrever este artigo para o Blog. Trabalho há dez anos cobrindo o Enem e outros exames aplicados pelo Inep e nunca vi tamanha incompetência. Gostaria de falar para nossos usuários ficarem tranquilos quanto ao Enem e se concentrar apenas nos estudos, mas, infelizmente, o futuro é incerto.

Ao novo presidente, espero que tenha consciência da responsabilidade do seu cargo e dê, em breve, boas notícias sobre os exames realizados pelo Inep.

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[1] Crédito: MEC