O Ministério da Educação não é para todos

Em 11/08/2021 16h50 , atualizado em 11/08/2021 17h01 Por Adriano Lesme

Milton Ribeiro em entrevista ao programa Sem Censura, da TV Brasil
Milton Ribeiro em entrevista ao programa Sem Censura, da TV Brasil
Crédito da Imagem: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Imprimir
Texto:
A+
A-
PUBLICIDADE

Essa semana, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, se envolveu em outra polêmica ao defender que as universidades deveriam ser para poucos. A fala causou revolta em estudantes e educadores, além de expor um pensamento elitista do ministro e do atual Governo.

O ministro fez essa afirmação durante entrevista à TV Brasil na última segunda-feira, 9 de agosto. Milton Ribeiro defende que algumas pessoas terão mais oportunidade no mercado de trabalho se optarem por uma formação técnica em vez de superior. Como exemplo, citou que vários engenheiros trabalham como motoristas de aplicativo atualmente.

“Universidade deveria, na verdade, ser para poucos, nesse sentido de ser útil à sociedade."  (Milton Ribeiro, ministro da Educação)

De fato, a atual crise econômica da qual passa o Brasil gerou desemprego e levou profissionais formados a buscarem a informalidade. Por outro lado, há uma demanda de profissionais em áreas como informática e tecnologia em geral, especialidade dos institutos e centros federais. Nesse contexto, pode mesmo ser vantajoso financeiramente buscar um curso técnico em vez do superior. No entanto, essa decisão cabe, única e exclusivamente, ao estudante.

Pensamento elitista

A ideia de uma universidade elitista não é exclusiva de Milton Ribeiro. O primeiro ministro da Educação do Governo Bolsonaro, o colombiano Ricardo Vélez Rodriguez, afirmou em 2019 que “a universidade não é para todos, mas somente para algumas pessoas”. A similaridade das duas falas deixa claro que a proposta de um ensino superior elitista é uma política de governo.

Desde o início de seu mandato, Jair Bolsonaro vem promovendo cortes nas universidades federais, que enfrentam grave dificuldade para arcar com despesas básicas, como água e energia. Bolsas de pesquisa, alimentação e apoio a estudantes carentes foram cortadas, dificultando a permanência desses na universidade.

A Lei de Cotas foi criada para facilitar a entrada de jovens de baixa renda nas universidades, mas a efetividade dessa lei depende dos cotistas conseguirem se manter no curso. Sem emprego e sem bolsa, o estudante pobre abandona a universidade.

Mudança de perspectiva

Como eu disse, a falta de empregos para profissionais de algumas áreas é reflexo da crise econômica. Crise essa acentuada pela falta de iniciativa do Governo Federal no combate à pandemia e pela má gestão na economia. Em vez de sugerir que estudantes optem por cursos técnicos, o Governo deveria criar condições para que jovens possam realizar o sonho de cursar uma universidade e trabalhar na área.

Ao contrário do ministro, acredito que a universidade deve ser para todos, assim como os cursos técnicos. O estudante brasileiro deve ter a opção de escolher sua carreira e não ser “forçado” a entrar num curso do qual pode nem ter aptidão. Aliás, nos últimos anos os jovens pobres sequer têm a chance de fazer um ou outro.

Um cargo importante como o de ministro da Educação não pode ser ocupado por pessoas com pensamento excludente. O ensino superior deve ser inclusivo. Por isso, digo ao ministro Ribeiro, que o comando do MEC não é para todos.