A guerra entre a Rússia e a Ucrânia está próxima de completar um mês. Em meio a destruição de cidades e mortes de soldados e civis, uma outra preocupação surge com a permanência do conflito: os impactos ambientais. Mesmo se a guerra acabar nos próximos dias, os ucranianos terão que lidar com os efeitos das explosões durante muito tempo.
Para o professor de Geografia do Curso Pré-Vestibular da Oficina do Estudante, Dario Francisco Feltrin, as explosões de minas terrestres, por exemplo, espalham produtos químicos e radioativos, contaminando o solo e lençóis freáticos.
A professora de Química da Oficina do Estudante, Tathiana Guizelini, alerta também que as explosões dispersam detritos e materiais radioativos na estratosfera. Além das explosões, o grande número de tanques, blindados e outros veículos de guerra lançou toneladas de carbono na atmosfera. Esses poluentes se espalham e caem pela área ao redor da detonação, por precipitação.
“A guerra entre Rússia e Ucrânia causará impactos ambientais – e consequentemente sociais – profundos e seus efeitos demandarão muito tempo para serem revertidos.” (professor Dario Francisco).
Os animais que se alimentam em zonas afetadas pela guerra possuem concentrações grandes de radioisótopos, que reduzem sua expectativa de vida e capacidade de reprodução. “Como os agentes poluidores são de meia-vida muito longa, esses efeitos são de longo prazo, o que pode levar à fragilização dos ecossistemas atingidos por centenas de anos”, explica a professora.
Os impactos ambientais causados pela guerra também poderão ser sentidos em outros países da Europa, pois a poluição espalhada pelo ar tem potencial de levar a mancha de contaminação radioativa a lugares muito distantes da detonação.
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Bombas nucleares
Desde a Guerra Fria que o mundo não vivenciava uma tensão pelo uso de bombas atômicas. Até o momento, a Rússia não deu indícios de que poderia usar armas de destruição em massa na Ucrânia, mas isso pode mudar caso a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) entre na guerra.
A professora Tathiana explica que as bombas nucleares mais modernas são de fusão nuclear, diferentemente das que foram lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki em 1945, que eram de fissão nuclear. O processo de fissão libera uma grande quantidade de isótopos radioativos, enquanto que o estágio de fusão libera basicamente H-3 (trítio).
Leia: os efeitos das bombas nucleares de Hiroshima e Nagasaki
A explosão nuclear libera uma grande quantidade de material radioativo na atmosfera, que acaba caindo sobre a superfície como chuva ácida. O contato com esse material pode causar câncer, como foi visto no Acidente de Chernobyl. Além de efeitos sobre a saúde humana, a poluição dispersa no ar e causa doenças em animais e plantas, pois degrada os nutrientes do solo.
Falando em Chernobyl, um outro risco em relação ao contato com material radioativo é de uma explosão em usinas nucleares. Segundo o professor Dario, um míssil mal posicionado ou um ataque intencional em uma usina nuclear causariam o vazamento de radioatividade, impactando numa catástrofe regional. “Essa mesma radioatividade por intermédio das correntes de vento se espalharia por outras partes do planeta”, completa.