Propondo soluções para o Enem 2020

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Ministério da Educação deveria propor soluções em conjunto com entidades estudantis e membros do Congresso.

Nas últimas semanas, têm crescido a campanha de estudantes, políticos e até de celebridades pelo adiamento do Enem. A hashtag #AdiaEnem está quase todos os dias entre as mais mencionadas nas redes sociais, principalmente no Twitter, trazendo consigo um sentimento de revolta em relação ao posicionamento do Ministério da Educação (MEC) e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) sobre o calendário do exame.

Os que defendem o adiamento do Enem alegam que a manutenção do calendário prejudica os estudantes que estão sem aula em razão da pandemia de coronavírus ou que não têm acesso à internet de qualidade para assistir aulas on-line. O Enem 2020 seria, portanto, injusto e desigual.

O MEC e o Inep alegam que o adiamento das provas, marcadas para novembro, poderia inviabilizar o Sistema de Seleção Unificada (SiSU), o Programa Universidade para Todos (ProUni) e o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Segundo o presidente do Inep, Alexandre Lopes, são esses programas que corrigem as desigualdades.

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Quem está certo? Na minha visão, os dois lados apresentam argumentos válidos, mas as atitudes – ou falta delas – do Inep e do MEC os colocam como vilões de uma situação que se arrasta por quase 50 dias. O mínimo que o Inep deveria fazer era reunir com entidades representativas de estudantes, representantes do Congresso e defensores públicos para proporem uma solução. Mas nem isso faz.

Como o MEC e o Inep não propõem uma solução para o Enem 2020, vou expor algumas ideias, seguidas de justificativas, para contemplar ambos os lados nesse imbróglio. No entanto, antes de tomar qualquer atitude sobre o calendário, o Inep deveria corrigir os problemas no sistema de inscrição do Enem. Basta ler suas redes sociais para constatar as dificuldades que os estudantes estão enfrentando. Falei disso nesta notícia.

1) Adiar o Enem 2020

Como as aulas presenciais estão paralisadas há, pelo menos, dois meses, o ideal é também adiar as provas em dois meses. Elas poderiam ser depois dos vestibulares da Fuvest e Unicamp. Minha sugestão de cronograma é: 17 e 24 de janeiro, provas impressas; e 31 de janeiro e 7 de fevereiro, provas digitais.

2) Adiar SiSU, ProUni e Fies 2021

Em consequência do adiamento das provas do Enem, o SiSU, o ProUni e o Fies também poderiam ser adiados para o final de março e começo de abril. As universidades públicas estão sem aula, portanto, o segundo semestre letivo de 2020 deve se arrastar para o começo do próximo ano, e as aulas do primeiro semestre de 2021 só devem iniciar em abril. Isso permitiria a realização do SiSU no final de março.

Em relação ao ProUni 2021, que é votado para as faculdades particulares, o programa poderia aceitar, excepcionalmente, as notas do Enem 2019 para as bolsas do primeiro semestre. No caso do Fies, o programa já aceita notas de todas as edições do Enem desde 2010.

3) Disponibilizar locais para inscrição e estudo

A Secretaria de Educação do Estado da Bahia mobilizou escolas públicas para disponibilizarem computadores para estudantes sem acesso à internet efetuarem a inscrição no Enem. Como medida de prevenção ao coronavírus, as escolas recebem os estudantes por agendamento e revezam os computadores. O MEC poderia entrar em contato com secretários de Educação para fazerem o mesmo em seus estados. A mesma prática poderia servir também para os estudos.

Para isso tudo acontecer, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, tem que parar de tratar estudantes como inimigos. O diálogo é fundamental para encontrar soluções em momentos de crise. O papel do MEC é ser um aliado dos estudantes, de todas as classes, e não mais uma pedra no caminho de tantos jovens que enxergam no Enem uma oportunidade de alcançar sonhos.