Incêndio no Museu Nacional e falta de políticas culturais

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Tragédia que ocorreu no início da noite do último domingo (2), no Rio de Janeiro, desperta debates sobre a falta de zelo com espaços culturais

Museu Nacional no Rio de Janeiro, antes do incêndio

O último domingo, 2 de setembro, anoiteceu de forma triste no Brasil. Um incêndio destruiu o Museu Nacional, situado em São Cristóvão, na Zona Norte do Rio de Janeiro, justamente depois de pouco mais de três meses de o espaço completar 200 anos de existência.

No momento da tragédia, aproximadamente às 19h, o espaço cultural já estava fechado para visitas. Encontravam-se no local apenas quatro funcionários que tentaram conter as chamas até os Bombeiros chegarem. 

O Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro informou que o Museu Nacional não possuía Certificado de Aprovação da corporação, o que significa que o prédio se encontrava em situação irregular junto ao órgão.

Às vésperas de o museu completar 200 anos, em maio deste ano, já havia denúncias de que o local tinha problemas de manutenção. Reportagens ainda noticiaram que, “com seguidos cortes no orçamento da instituição, o Museu Nacional não recebe integralmente, desde 2014, a verba de R$ 540 mil anuais que bancam sua manutenção”.

Ainda por cima, reportagens publicadas no início desta semana mostraram que os diretores do museu não tinham apoio do governo para conservar o local da forma adequada. “O vice-diretor chegou a dizer que a instituição busca há anos apoio em diversas esferas do governo federal para ajudar na conservação e readequação do espaço, mas nunca conseguiu”, relatou esta reportagem.

Tragédia

Ficamos com a impressão de que o acontecimento foi uma tragédia anunciada, pois, ainda de acordo com a direção do Museu, no espaço não havia detectores de fumaça, sprinkles (equipamento que lança água automaticamente em caso de fogo) e portas corta-fogo.

Ainda não sabemos o motivo do incêndio, mas a Polícia Federal está investigando se o acontecimento foi criminoso ou não. Pelo menos, não houve feridos.

O que sabemos, de fato, é que a memória cultural nacional sofreu abalo fortíssimo, pois grande parte do acervo (cerca de 2 milhões de objetos) foi perdido durante a tragédia. Documentos, registros históricos, fósseis, múmias, obras de arte foram para o espaço. 

Confira o que foi perdido no incêndio do Museu Nacional

Nos meios de comunicação e nas redes sociais, vimos imagens tristes, de funcionários do Museu dessolados com a perda. Um deles, com mais de 40 anos de casa, chegou a afirmar que “sua vida toda estava ali”.

É importante destacar que, além da riqueza histórica e cultural que o Museu Nacional abrigava, o local já foi residência da família real e sede da 1ª Assembleia Constituinte do Brasil. O espaço cultural é vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). 

Veja qual é a história do Museu Nacional

Felizmente, a tragédia despertou para a necessidade de correr contra o tempo e, segundo o próprio Museu, no último dia 3, o Ministério da Educação anunciou a liberação de R$ 10 milhões para a adoção de medidas emergenciais para a segurança do Palácio sede do Museu Nacional e de R$ 5 milhões para a elaboração do projeto executivo de recuperação do Museu.

Debates

O triste episódio tem suscitado diversos debates na sociedade acerca dos cuidados específicos que devem ser dedicados a museus e demais espaços culturais, muitas vezes deixados de lado, por não serem considerados prioridade pelo Governo.

Com frequência vemos nos meios de comunicação notícias sobre espaços culturais inacabados, deixados à margem, e alguns em péssimo estado. Onde está a preocupação e o zelo com tão importantes locais? 

A propósito, outro ponto discutido, perto das eleições 2018, é o que propõem os candidatos a presidentes da república à pauta cultural. Segundo esta matéria, dos 13 presidenciáveis, apenas sete oferecem programas para esse segmento. E, desse total, apenas dois têm políticas específicas para os museus. Uma pena.

Que o episódio do Museu Nacional sirva para conscientizar os novos governantes que políticas e programas culturais são, sim, tão importantes quanto os demais.