Pela primeira vez, a segunda fase da Fundação Universitária para o Vestibular (Fuvest) foi realizada em dois dias, em vez de três. Neste domingo e segunda-feira, 6 e 7 de janeiro, cerca de 35.300 candidatos realizaram as provas de Português, Redação e conteúdos específicos às carreiras escolhidas.
Confira as provas da segunda fase da Fuvest
De acordo com a Fuvest, no primeiro dia houve abstenção de 7,7%, enquanto no segundo dia o número subiu para 8,1%. Dos mais de 35.300 candidatos, 3.193 eram treineiros. Com número maior, o Vestibular 2018 registrou ausência de 8,5%.
Primeiro dia
Neste domingo, 6 de janeiro, os candidatos fizeram as provas de Português e Redação. Para o diretor pedagógico da Oficina do Estudante, Célio Tasinafo, a avaliação trouxe temas atuais e até “polêmicos do presente”.
“Uma prova que valorizou o estudante que possuía grande habilidade de leitura e visão crítica apurada sobre o momento histórico em que vive, mas que também tinha conhecimento formal de gramática e literatura”, destaca Célio Tasinafo.
A prova de Português também exigiu dos estudantes grande conhecimento de vocabulário e capacidade de interpretação de texto em diferentes registros linguísticos, com a exposição de quadrinhos, propaganda, música, textos acadêmicos, notícias jornalísticas, poesia, prosa e até memes divulgados na internet.
“Talvez a mais sofisticada e exigente [questão] da prova, tocava em um tema infelizmente recorrente em nosso país: o trabalho escravo. Contrapondo um cartaz de propaganda do Ministério Público do Trabalho ao texto da lei que define as penas a serem aplicadas aos que escravizam os trabalhadores, a questão pedia que o candidato relacionasse o sentido do trecho 'escravidão no Brasil não é analogia' ao sentido do fragmento 'reduzir alguém a condição análoga à de escravo'.”, explica o diretor da Oficina, em referência à questão 2.
As questões 4 e 9 trouxeram o tema das diferenças socioeconômicas entre homens e mulheres e ainda uma comparação entre os livros “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, romance de Machado de Assis, e “Minha Vida de Menina”, de Helena Morley.
“Bastante relevante para a nossa conjuntura atual, na qual há uma grande tendência ao revisionismo com relação à Ditadura Militar (1964 – 1985), é a questão de número 5 elaborada a partir da música 'Meu caro amigo', de Chico Buarque, de 1976. O aluno deveria justamente demonstrar conhecimento do período histórico no qual a música foi gravada para realizar a análise adequada da letra”, ressalta Célio Tasinafo.
Assim como nos anos anteriores, a prova de Literatura da segunda fase da Fuvest cobrou bastante os aspectos das obras de leitura obrigatória – que são previamente informados aos vestibulandos sobre a necessidade de leitura.
“Tal exigência foi feita ainda a partir da comparação de fragmentos de diferentes obras (como exemplo, podemos citar a questão 10, com um trecho de Sagarana comparado a um dos poemas da obra 'Claro Enigma', de Carlos Drummond de Andrade”, diz o diretor.
Redação
“A importância do passado para a compreensão do presente” foi o tema da redação do Vestibular 2019 da Fuvest. O assunto trouxe grande impacto sobre a relevância do papel do historiador. Segundo Célio Tasinafo, a redação poderia ser trabalhada de duas formas.
“Com uma coletânea de textos bem variada (poema de Drummond, escultura de Flávio Cerqueira, texto de Viveiros de Castro e outro de Walter Benjamin), o tema relativo à maneira como o passado contribui para a compreensão do presente poderia ter sido tratado tanto do ponto de vista da importância da memória coletiva quanto a partir da importância do passado e da história para a construção da identidade individual”, defende.
Segundo dia
Na última segunda-feira (7), os candidatos contaram com questões específicas aos cursos escolhidos. Para Tasinafo, este último dia foi composto por perguntas difíceis e a prova foi “trabalhosa”. “Independente de quais disciplinas e questões o candidato teve de fazer, acreditamos que poucos (bem poucos) saíram com a sensação de que foi uma prova tranquila”, ressalta Célio.
Célio chama a atenção para o conteúdo de História e Geografia, já que as disciplinas trouxeram questões contextualizadas, diferente das demais áreas da Fuvest. Em Geografia, houve a abordagem dos aspectos topográficos/geomorfológicos e climáticos da região da Tailândia em que os adolescentes de um time de futebol e seu treinador ficaram presos em uma caverna em 2018.
História cobrou uma maior bagagem dos candidatos ao falar do massacre Tlatelolco no México, de 1968, e da política da Etiópia durante o governo do ditador Selassie. “Nos dois casos, o candidato até poderia chegar à resposta a partir de seu repertório geral sobre o período e os dois países. Contudo, é importante lembrarmos do tempo que isso exigia em cada uma das questões, que já possuíam 3 itens a serem respondidos”, afirma Célio.
As provas de Química, Física, Biologia e Matemática continuaram a linha dos outros vestibulares da Fuvest e não contextualizaram seus conteúdos para aproximar as disciplinas do cotidiano dos participantes, indo na contramão das demais seleções e exames como o Enem.
Resultado e Vagas
O resultado do Vestibular 2019 da Fuvest sairá em 24 de janeiro. Os candidatos que não forem aprovados em primeira chamada contarão com oportunidades de convocação nos dias 1º, 8, 15 e 22 de fevereiro.
O Vestibular da Fuvest preencherá 8.362 vagas oferecidas pela Universidade de São Paulo (USP). Destas, 2.331 oportunidades são para cotistas, as quais são divididas em 1.475 para estudantes de escolas públicas independente de etnia e 756 para os alunos que se autodeclararem pretos, pardos ou indígenas.
As vagas oferecidas pela USP são para as cidades de São Paulo, Bauru, São Carlos, Lorena, Piracicaba, Pirassununga e Ribeirão Preto.
Mais informações no Manual do Candidato da Fuvest.