Correção da redação do Enem gera reclamações mesmo após mudanças
Jornal divulgou redações com erros de português que receberam nota máxima.
O critério de correção das redações do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) continua causando reclamações mesmo após as mudanças ocorridas no ano passado. Na sua edição de ontem, 18 de março, o jornal O Globo divulgou que redações com erros de português como "rasoável", "enchergar" e "trousse", além de erros de concordância, obtiveram nota máxima (1.000) no Enem 2012. Na edição de hoje, 19, o mesmo jornal divulgou que uma redação que continha receita de macarrão instantâneo recebeu nota 560.
Os acontecimentos relatados acima causou indignação em alguns participantes do Enem 2012, principalmente entre aqueles que acharam injusta a nota atribuída à sua redação. Um deles é Mayck Sathler, de 17 anos, morador de Manhuaçu, Minas Gerais. Segundo Maryck, “uma redação com erros gritantes de português não pode receber nota máxima, por mais que tenha sido bem redigida”.
A participante Daniele Moreira, 18 anos, de Serra, Espírito Santo, se diz injustiçada com sua nota. “Tirei 650 pontos, não considero uma nota justa, pois a redação estava totalmente dentro dos padrões pedidos e atendi corretamente à proposta. Eu estudei muito para isso e sinto meu esforço desvalorizado com pessoas que obtiveram notas maiores que a minha e que não a mereciam”. Daniele também afirma que a redação com receita de macarrão instantâneo deveria ter sido zerada, já que “foge totalmente do tema”.
Para Mateus Prado, especialista em Enem do Cursinho Henfil, de São Paulo, o problema da redação do Enem não está associado às notas máximas de pessoas que tiveram alguns erros gramaticais. “O problema da redação está nas milhares de notas baixas para quem fez boas redações” – afirma Mateus.
Segundo o especialista em Enem, a boa redação precisa demonstrar entendimento do tema, apresentar uma proposta ética e inovadora de intervenção na situação problema, ter fortes argumentos, com introdução, parágrafos de argumentos que associam estes entre si, ao problema e à solução que será apresentada e uma conclusão que deixe clara a proposta inovadora de resolução de situação problema. “Se o aluno cumprir isto, e errar duas palavras e uma concordância, não há problemas, ele pode ter nota 1000”.
Outro lado
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) confirmou a existência de redações com erros de português que receberam nota máxima. O Inep afirma que há uma tolerância na correção, pois o participante do Enem ainda está em “processo de letramento na transição para o nível superior”. O Ministério da Educação (MEC) também se manifestou e explicou que a redação é analisada como um todo, e que "pequenos desvios gramaticais não afetam a nota final se o texto for bem nas competências avaliadas".
Cada redação do Enem é avaliada por dois corretores, que têm a função de atribuir uma nota de 0 a 200 pontos em cada uma das seguintes competências: 1) Domínio da norma padrão da língua portuguesa; 2) Compreensão da proposta de redação; 3) Seleção e organização das informações; 4) Demonstração de conhecimento da língua necessária para argumentação do texto; 5) Elaboração de uma proposta de solução para os problemas abordados, respeitando os valores e considerando as diversidades socioculturais.
Se em uma ou mais competências a diferença entre as notas dos dois avaliadores for maior que 80 pontos, um terceiro corretor dá a nota daquela competência. Esse terceiro avaliador também é acionado se a diferença da soma total das cinco competências for superior a 200 pontos. Se o terceiro corretor não chegar a um acordo com os outros dois avaliadores, a redação é corrigida por uma banca composta por três corretores, presidida por um doutor.
Por Adriano Lesme