2019: um péssimo ano para a Educação no Brasil

Ricardo Vélez e Abraham Weintraub colecionaram polêmicas e ataques como ministros da Educação.
Em 12/12/2019 11h27 , atualizado em 12/12/2019 11h35 Por Adriano Lesme

Abraham Weintraub assumiu o MEC depois da saída de Ricardo Vélez / Crédito da foto: Agência Brasil
Abraham Weintraub assumiu o MEC depois da saída de Ricardo Vélez / Crédito da foto: Agência Brasil
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Estamos a poucos dias do final de 2019 e, nesse período, costumamos fazer o balanço do que deu certo e errado no ano. Para a Educação brasileira foi um ano difícil de encontrar fatos positivos, principalmente por conta de dois ministros que parecem ter sido colocados no MEC para atacar universidades públicas, professores e estudantes.

O ano começou com o colombiano Ricardo Vélez Rodríguez como ministro da Educação. Vélez foi indicação de Olavo de Carvalho, uma espécie de guru ideológico do presidente Jair Bolsonaro. Olavo critica frequentemente cientistas, incluindo Einstein, Newton e Darwin. Também já declarou em uma rede social que “não há nada que refute que a Terra não é plana”.

Os 100 dias de Vélez

Ricardo Vélez durou 97 dias na direção do Ministério da Educação. Nesse período, colecionou uma série de polêmicas, como querer alterar a visão sobre a Ditadura Militar dos livros de história, dizer que brasileiros roubam coisas quando viajam ao exterior, pedir que escolas gravassem alunos dizendo “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, slogan de campanha de Jair Bolsonaro, entre outras polêmicas.

No dia 28 de março, durante reunião na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, Ricardo Vélez fez uma apresentação vaga sobre os planos para a pasta no ano, sem demonstrar como alcançar os resultados. À época, foi questionado pela deputada federal Tábata Amaral:

“Não é possível apresentar um power point com dois, três desejos para a educação. Cadê os projetos? Onde eu os encontro? Quem são os responsáveis?” (deputada Tábata Amaral).

A incapacidade de Vélez em responder essas perguntas, a pressão da opinião pública sobre seu trabalho e a falta de gestão levaram ao seu afastamento no início de abril.

Os ataques de Weintraub

O atual ministro da Educação, Abraham Weintraub, chegou ao MEC depois da saída de Vélez. Ele foi aluno de Olavo de Carvalho e, em suas palestras, atacava a ideologia de esquerda e chegou a listar estratégias para “vencer o marxismo cultural nas universidades”, inspiradas em teorias do seu guru intelectual. Com esse perfil, era esperado que as polêmicas continuassem, e foi o que aconteceu.

A primeira medida de impacto de Weintraub à frente do MEC foi anunciar o bloqueio de 30% dos recursos das universidades federais, com a justificativa de que algumas promoviam “balbúrdia”. O congelamento acabou afetando todas as universidades e institutos federais, além de programas do ensino infantil à pós-graduação.

Os recursos das universidades só foram desbloqueados em outubro, quando algumas instituições já haviam ficado até sem energia por falta de pagamento e cogitavam entrar em greve. Para desbloquear o dinheiro das universidades, Weintraub congelou recursos de áreas como o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e de bolsas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

Em suas entrevistas, Weintraub ataca a imprensa, o Partido dos Trabalhadores (PT) e as universidades federais. Em todas as entrevistas coletivas que pude acompanhar, Weintraub atacou o PT, mesmo que o assunto não tivesse ligação com os governos anteriores, como se estivesse em campanha. Também pede para a imprensa divulgar “notícias boas” sobre sua gestão e fica irritado quando perguntam sobre erros ou problemas que envolvem a pasta. Quase sempre responde com ironias e deboche, algo incompatível com o cargo que ocupa.

Nas redes sociais, ministro Weintraub costuma responder provações com ofensas
Crédito: reprodução Twitter

Na entrevista depois das provas do Enem 2019, Weintraub insistia para a imprensa divulgar que foi a melhor edição da história. O Enem desse ano teve problemas assim como os anteriores, como locais de provas errados, vazamento de imagens dos cadernos durante as provas, questão anulada etc. Além disso, a prova ignorou a Ditadura Militar e Era Vargas, períodos importantes da história do nosso país. Nós não podemos afirmar que foi o melhor Enem da história só porque o ministro assim deseja. Aliás, o atual Governo tem muita dificuldade em lidar com a liberdade de imprensa.

Recentemente, Weintraub afirmou existir plantações de maconha e laboratórios de drogas sintéticas dentro das universidades federais, apresentando casos sem relação com as instituições e que já foram esclarecidos. É surreal que o ministro da Educação ataque universidades públicas dessa forma.

O Governo Bolsonaro, de direita, não precisa nomear pessoas ligadas à esquerda para gerir o MEC, mas, no mínimo, deveria pensar em gestores que prezem pelo bom relacionamento com as universidades e estudantes. Mozart Ramos, do Instituto Ayrton Senna, era um bom nome, mas o presidente preferiu ouvir Olavo de Carvalho. Deu no que deu.