Guerra civil na Síria
A guerra civil na Síria arrasta-se desde 2011 como desdobramento da Primavera Árabe. Hoje o conflito possui características sectárias e parece estar longe de uma resolução.
A Síria é um país do Oriente Médio que está em guerra civil desde 2011 após a repressão do governo de Bashar al-Assad contra os protestos da Primavera Árabe terem resultado em confronto direto entre forças do governo e forças da oposição. Hoje o conflito envolve inúmeras forças, cada qual com interesses próprios. O saldo de mais de seis anos de conflito, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos, é de 470 mil mortos e quase cinco milhões de refugiados fora da Síria.
Síria antes da guerra
A Síria é governada pela família al-Assad desde a década de 1970, quando Hafez al-Assad tomou o poder após um golpe militar. Bashar al-Assad assumiu a presidência da Síria a partir de 2000 com a morte de seu pai, Hafez. Na prática, a Síria é uma república, porém, é governada de maneira ditatorial pela família al-Assad. O governo de Bashar al-Assad, antes da guerra, foi marcado por eleições fraudadas, corrupção e falta de liberdade de expressão.
Até 2011, a Síria vivia em Estado de Emergência desde 1962. Na prática, o Estado de Emergência suspendia os direitos constitucionais da população em detrimento da defesa dos interesses nacionais.
Primavera árabe
A partir de 2011, a Síria passou a ser influenciada pela Primavera Árabe, isto é, os protestos em massa que se espalharam pelos países árabes reivindicando mais liberdade de expressão, melhores condições de vida e a derrubada de governos ditatoriais. Ela se espalhou por países como Tunísia, Líbia, Egito etc.
Na Síria, os primeiros protestos aconteceram a partir de março de 2011 em Damasco (a capital) e em uma cidade ao sul do país chamada Deraa. A resposta do governo de Bashar al-Assad contra os protestos populares foi violenta. A repressão do governo sírio motivou novas manifestações populares, e novamente a resposta do governo sírio foi reprimir com violência todos os protestos.
Guerra Civil
A guerra civil foi consequência direta da violenta repressão contra os protestos da população. À medida que a repressão do governo sírio aumentava, grupos isolados passaram a se armar, primeiramente com o objetivo de se defender. Depois esses grupos passaram a se organizar para expulsar as tropas do governo de suas regiões.
Novos grupos rebeldes foram surgindo por toda Síria e juntaram-se em uma grande coalização rebelde contra as forças do governo sírio. Assim, o conflito espalhou-se por toda a Síria, inclusive para grandes cidades do país, como Aleppo e Damasco. Hoje a guerra na Síria tomou proporções sectárias, pois, grupos rebeldes, em geral, defendem a implantação de um extremismo sunita contra o governo sírio, que representa a minoria xiita.
O primeiro grupo rebelde a surgir foi o Exército Livre da Síria, que era formado por militares desertores e civis que participavam dos protestos contra o governo sírio. Esse grupo surgiu em julho de 2011. O grupo autoproclamou-se secular (não está sujeito a nenhuma ordem religiosa) e representa a ala moderada dos rebeldes. Observadores internacionais afirmam que esse grupo perdeu força pela escalada de rebeldes jihadistas de orientação sunita.
Entrada do Estado Islâmico na guerra
Refugiados sírios em acampamento localizado na Turquia. Foto de outubro de 2015 **
Até 2013, a atuação do Estado Islâmico era restrita ao solo iraquiano, entretanto, visualizando a instabilidade síria, o grupo cruzou a fronteira e entrou na guerra. A princípio, o Estado Islâmico atuava ao lado das forças rebeldes, porém, em 2014, desvinculou-se delas e passou a atacar tanto as forças do governo sírio quanto as forças rebeldes.
O avanço do Estado Islâmico sobre a Síria foi rápido. Em 2014, eles proclamaram a criação do Califado do Iraque e Levante. Hoje controlam grande parte do norte e leste da Síria. A luta do Estado Islâmico é basicamente contra todos: lutam contra o governo de Bashar al-Assad, contra as forças dos moderados do Exército Livre da Síria e contra os sunitas radicas da Frente Al-Nusra, que recentemente alterou seu nome para Jabhat Fateh al-Sham.
O Estado Islâmico defende a instalação do Califado a nível mundial, portanto, consideram a Síria e o Iraque apenas um primeiro passo até a implantação da lei islâmica em todo o mundo.
Interferências estrangeiras na guerra
A longa extensão da guerra civil da Síria e a indefinição quanto ao término do conflito são apontadas por observadores internacionais como consequências diretas da interferência estrangeira. Atualmente, diversos países interferem direta ou indiretamente no conflito.
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Estados Unidos: interferiram inicialmente no conflito com o surgimento do Estado Islâmico. À medida que o califado fundamentalista crescia, os EUA passaram a bombardear posições dominadas por ele na Síria. Hoje os EUA financiam dois grupos que lutam na Síria: os rebeldes moderados do Exército Livre da Síria e os curdos que dominam a parte do norte do país;
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Rússia: aderiu ao conflito em 2015 para defender o governo de Bashar al-Assad, em decorrência do enfraquecimento das tropas do governo sírio. As tropas russas lutam contra as tropas rebeldes e contra o Estado Islâmico;
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Irã: o governo iraniano também luta pela manutenção do governo de Bashar al-Assad e envia armas e dinheiro para ele. Além disso, foram enviadas pelo Irã tropas para auxiliar o governo sírio em combate;
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Turquia: entrou no conflito em 2016 e atacou o Estado Islâmico e também tropas rebeldes de curdos sírios. Os curdos são uma minoria perseguida na Turquia, que apoia os rebeldes com o objetivo de derrubar o governo de Bashar al-Assad;
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Além disso, Reino Unido, França, Catar, Arábia Saudita e outros países envolveram-se no conflito apoiando grupos rebeldes;
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O grupo fundamentalista libanês Hezbollah também atua no conflito como aliado do governo sírio.
Grupos que lutam na guerra
A guerra da Síria tomou proporções gigantescas e atualmente é realizada em diferentes frentes e com diferentes grupos lutando entre si. De maneira geral, os grupos beligerantes são:
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Exército Sírio: são as tropas do governo sírio e lutam pela manutenção da ditadura de Bashar al-Assad. São apoiados pela Rússia e Irã;
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Exército Livre da Síria: rebeldes moderados que lutam contra o governo de Bashar al-Assad. São apoiados por Estados Unidos e Turquia;
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Jabhat Fateh al-Sham ou Frente Al-Nusra: antigo braço sírio da Al-Qaeda, representa parte da oposição jihadista que luta na Síria. Sofre constantes ataques dos Estados Unidos, Rússia, Estado Islâmico e das tropas do governo sírio.
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Estado Islâmico: maior organização jihadista do mundo. Instalou-se na Síria a partir de 2014, mas atua em várias partes do mundo. Luta contra todas as forças beligerantes do conflito;
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Exércitos curdos: formaram milícias armadas após o Estado Islâmico invadir regiões do chamado Curdistão sírio. Possuem tropas que controlam parte do Norte da Síria e proclamaram a Federação do Norte da Síria, também conhecida como Rojava. Além do Estado Islâmico, são inimigos do governo sírio e do governo turco.
Armas químicas
Até o momento foram registrados dois ataques com armas químicas na guerra civil da Síria. O primeiro ataque aconteceu em 2013, em um subúrbio da cidade de Damasco, capital da Síria. A inteligência americana afirmou que o ataque foi realizado pelo governo sírio e que 1.429 pessoas tenham morrido. O governo sírio negou na época e atribuiu o ataque à Al-Qaeda. A comunidade internacional mobilizou-se em 2013 e fez com que o governo sírio destruísse todo o seu arsenal de armas químicas.
No dia 4 de abril de 2017, um novo ataque com armas químicas aconteceu na Síria e resultou em cerca de 80 mortos. O alvo foi a cidade de Khan Sheikhoun, na província de Idlib, no norte do país. A autoria do ataque foi novamente atribuída a Bashar al-Assad, que negou a responsabilidade. A Rússia afirmou que o governo sírio bombardeou a cidade, mas um estoque rebelde com armas químicas acabou explodindo, causando o desastre.
Em represália ao novo ataque químico, os Estados Unidos lançaram cerca de 59 mísseis Tomahawks contra uma base aérea do governo sírio na cidade de Homs. O ataque americano foi considerado uma surpresa, pois a diplomacia americana havia afirmado que sua prioridade era a luta contra o Estado Islâmico. A postura dos Estados Unidos foi uma resposta de Donald Trump, presidente estadunidense, ao uso de armas químicas.
O ataque americano mexeu com as relações diplomáticas entre os Estados Unidos, a Rússia e o Irã. Recentemente, Irã e Rússia afirmaram que responderão militarmente caso os Estados Unidos ataquem novamente o governo sírio e posicionaram mais tropas na região, deixando o clima tenso.
Aplicações no Enem
Caro estudante, é importante manter-se atualizado sobre que acontece na Síria. Alguns temas importantes que podem ser explorados são:
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Fundamentalismo do Estado Islâmico: recentemente o Estado Islâmico realizou ataques contra cristãos coptas no Egito, pode estar envolvido em um ataque ao metrô de São Petersburgo, na Rússia, e é uma constante ameaça para as grandes cidades europeias;
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Crise dos refugiados: atualmente quase 5 milhões de sírios são refugiados, concentrando-se principalmente em países da região, como o Líbano, e também na Europa, onde as políticas contra a imigração estão endurecendo-se;
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Armas químicas: o ataque supostamente realizado pelo governo sírio reacendeu o debate internacional sobre a questão das armas químicas e medidas para combater o seu uso;
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Crise diplomática: a guerra na Síria gerou tensão e atrito nas relações entre Rússia e Estados Unidos. Apesar de nada concreto, esse é um assunto para ser acompanhado de perto.
* Créditos da imagem: Orlok e Shutterstock
** Créditos da imagem: Orlok e Shutterstock