Durante o primeiro semestre de 2015, houve uma grande leva de migrações de povos muçulmanos para países europeus. Essa leva continuou no ano de 2016. Mais de 350.000 pessoas deslocaram-se de países islâmicos, sobretudo da Síria e da Líbia, em direção à Europa. Os países que mais receberam esses imigrantes foram a Grécia (cerca de 235.000 indivíduos) e a Itália (cerca de 115.000 indivíduos). Mas o que tem provocado todo esse surto migratório?
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Causas do surto migratório muçulmano para a Europa
Duas são as principais razões para esse fenômeno: 1) a instabilidade política provocada pelo terrorismo e pelas guerras civis, sobretudo pela guerra civil na Síria e pela atuação da facção terrorista Estado Islâmico em boa parte do território sírio; 2) a recusa de outros países muçulmanos, sobretudo os países do Golfo Pérsico, como a Arábia Saudita, em receber os refugiados em seu território; bem como as dificuldades de instalação em países vizinhos, como a Jordânia, que tem acomodado os refugiados em acampamentos com condições precárias.
A guerra civil na Síria estende-se desde 2011, época em que ocorreu a chamada Primavera Árabe. Desde essa época, muitas pessoas saíram da Síria em direção aos países muçulmanos vizinhos, como a Turquia, que assimilou um enorme contingente de refugiados. Há pouco tempo, entretanto, esses países vêm restringindo a entrada desses refugiados, que agora partem em direção ao leste e ao sul da Europa. Famílias inteiras estão deslocando-se à procura de abrigo.
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A questão dos imigrantes que saem do Norte da África
Grande parte dos imigrantes que saem da Síria com destino à Europa optam pelo caminho da travessia do Mar Mediterrâneo. Para tanto, esses imigrantes precisam ir para o norte africano e de lá seguir para o Sul da Europa. O problema é que essa via, que também é seguida por milhares de africanos, é extremamente perigosa e vem resultando, desde 2014, em milhares de mortes.
A rota de saída do Norte africano em direção ao Sul europeu é controlada por traficantes e contrabandistas de pessoas. Esses contrabandistas assemelham-se aos coiotes que atravessam imigrantes ilegais do México para os Estados Unidos. O destino de quem segue essa rota geralmente são as ilhas italianas de Lampedusa e Sicília.
Os imigrantes são colocados pelos contrabandistas em embarcações pequenas e desprotegidas, sempre guiadas por um imigrante voluntário que nem sempre sabe pilotar um barco. Os imigrantes ficam expostos ao sol, à chuva e à violência do mar. Após dois dias de navegação, se tiverem sorte, podem ser encontrados por pescadores ou pela guarda costeira italiana. Caso contrário, ficam perdidos no Mediterrâneo e acabam mortos.
Só no ano de 2014, 3.600 pessoas morreram tentando fazer essa travessia. Os mortos provêm, em sua maior parte, do Oriente Médio, mas há muitos também do Chifre africano (costa leste da África Subsaariana), principalmente da Eritreia (governada pelo ditador Isaias Afwerki), um dos piores países do mundo para se viver.
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As indagações sobre as consequências da crise dos refugiados
Assimilação da massa de imigrantes pelo Estado
O fato é que as decisões de cada país europeu em aceitar ou não os refugiados geram uma crise de teor ético e político ao mesmo tempo. Muitas são as indagações levantadas por especialistas que acompanham esse fluxo migratório. Uma delas diz respeito à capacidade de países em plena crise econômica, como a Grécia, de acomodar, dar emprego e assistência social a milhares de refugiados.
Outra diz respeito à divergência cultural entre muçulmanos e europeus, como o uso de regras de conduta específicas para mulheres, o uso da língua árabe como língua sagrada, o estudo do alcorão e a prática das orações públicas diárias etc.
Há ainda problemas como a deportação de muçulmanos já fixos na Europa desde antes do fluxo migratório iniciado em 2014. A Noruega, por exemplo, vem deportando milhares de imigrantes para os seus países de origem.
Ameaça de terrorismo e reação extremista
Há ainda a preocupação com as ligações possíveis que grupos terroristas, como a Al-Qaeda e o Estado Islâmico, podem estabelecer com indivíduos infiltrados entre os imigrantes. Essas ligações podem resultar em ações terroristas como as que ocorreram em Paris, em 2015, e em Bruxelas, em 2016.
Outro problema são as reações extremistas de alguns setores da sociedade europeia, como é o caso do grupo “Soldiers Of Odin” (Soldados de Odin), atuante na Finlândia. Os Soldados de Odin atuam como milícia urbana anti-imigrantista e patrulham as cidades finlandesas sob o argumento de “proteger a população”. A organização foi criada em 19 de setembro de 2015, na cidade de Kemi. Esse tipo de patrulha pode tornar-se uma forma recorrente de reação ao fluxo migratório muçulmano para a Europa.
De toda forma, a crise dos refugiados muçulmanos está apenas no começo e, como dito, gera uma situação política e ética muito complexa, que permanecerá sendo discutida pelos próximos anos.