Comentários de professores sobre a Lei das Cotas

Por Adriano Lesme

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O Brasil Escola entrevistou dois professores, um de colégio público e outro de colégio particular, para saber o que eles pensam da polêmica Lei das Cotas. O decreto que regulamenta a lei foi publicado no dia 15 de outubro de 2012, obrigando as instituições de ensino superior federais a reservarem, até 2016, metade das vagas para cotistas.

O professor Marcus Vinícius de Morais, do Curso e Colégio Oficina do Estudante, Mestre em História Cultural pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), afirmou ser contra as cotas. De acordo com Marcus Vinícius, a lei consolida a raça no imaginário como simbologia. “Eu não creio nas cotas, pois não creio, na verdade, no próprio conceito de raça (...). O problema é que agora o Estado precisa criar raças onde elas ainda não existem nitidamente delineadas (...). Como definir quem é negro no Brasil se a maior parte das pessoas sente orgulho de ser morenas?” – completou o professor.

Já o professor do Instituto Federal de Goiás (IFG) e ex-professor de escola pública, Rainer Sousa, Mestre em História pela Universidade Federal de Goiás (UFG), se diz a favor da lei. Rainer afirmou que as cotas são necessárias neste momento e que o fato de existir um prazo de validade de dez anos atesta a seriedade da lei. Segundo o professor do IFG, outro ponto forte da lei é o critério de renda per capita. Por outro lado, Rainer não concorda que estudantes com bolsa integral em colégios particulares não consigam se inscrever como cotistas. “Em vários casos, estes poderiam ser contemplados pelo critério da renda ou critério étnico-racial” – comentou Rainer.

Marcus Vinícius alertou que a Lei das Cotas pode inibir o investimento na educação básica, pois é “mais fácil criar as cotas do que investir 200 anos em educação”. Rainer pensa o contrário, ele afirmou que o discurso de que a cota joga o investimento básico para debaixo do tapete pressupõe a validade de estereótipos políticos que descreditam qualquer ação governamental ou o próprio poder de mobilização dos cidadãos. Para Rainer, do mesmo modo que a população protestou contra as cotas, deveria protestar também por melhores condições nas escolas públicas.

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Perguntado se a lei pode causar uma migração dos alunos das escolas particulares para as escolas públicas, para se aproveitarem das cotas, Marcus Vinícius respondeu que acha difícil isso acontecer. “O sucateamento da escola pública infelizmente é mal visto por boa parte dos alunos das escolas particulares”. Ele disse ainda que as escolas públicas são vistas pela elite como lugar de drogas, doenças, roubos e agressões. “É uma pena que o Estado tenha deixado essa imagem elitista ser construída” – afirmou o professor do Oficina do Estudante.

Sem conseguir a aprovação em universidade pública, o estudante de colégio particular pode ir procurar vaga em faculdade privada. Mas, será que o nível é o mesmo das universidades federais? De acordo com Rainer, a resposta é não. Ele afirmou que a expansão desregrada das faculdades particulares estabeleceu a cultura do “pagou, passou”. “Hoje, podemos encontrar vários cursos de graduação que chegam ao absurdo de serem mais baratos do que muitas escolas particulares de Ensino Médio”. Rainer alerta que essas "faculdades a preço de banana" contam com poucos mestres/doutores e têm produção acadêmica nula. “Esse ensino servia às pessoas justamente excluídas pelo sistema vigente de acesso à universidade pública” – finalizou o professor do IFG.