Será a volta dos vestibulares?

Mobilidade acadêmica se torna um problema para universidades das regiões Norte, Nordeste e parte do Centro-Oeste.
Em 22/02/2019 16h56 , atualizado em 22/02/2019 16h58 Por Adriano Lesme

Crédito da Imagem: Shutterstock
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Em 2010, o Ministério da Educação (MEC) criou o Sistema de Seleção Unificada (SiSU) para oferecer vagas em instituições de ensino superior federais para participantes do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que havia sido reformulado em 2009 justamente com esse propósito. A intenção do MEC era democratizar o acesso ao ensino superior público, possibilitar maior mobilidade acadêmica e reestruturar o currículo do ensino médio. Na teoria, era um marco positivo na educação brasileira, mas, na prática, as coisas não funcionaram como esperado.

Nos primeiros anos de SiSU, o número de adesões de universidades crescia vertiginosamente a cada edição. O SiSU pulou de 51 instituições em 2010 para 115 em 2014. No mesmo período, as vagas passaram de 47,9 mil para 171,4 mil. Universidades tradicionais, como as federais de Minas Gerais (UFMG), Rio de Janeiro (UFRJ) e Goiás (UFG) abandonaram seus vestibulares e aderiram ao Enem.

As instituições foram atraídas ao Enem visando diminuir o deficit com a organização dos vestibulares. A maioria dos candidatos era isento de taxa e o dinheiro arrecadado com a inscrição dos pagantes não cobria os custos. Além disso, a Lei 12.799, de 10 de abril de 2013, concedeu isenção para mais um grupo de candidatos. A crise veio, o repasse para as instituições federais diminuiu, e custear um vestibular próprio se tornou inviável para a maior parte das universidades.

Início do problema

O SiSU, de fato, criou a mobilidade acadêmica que o MEC pretendia. No entanto, isso não foi bem-visto em alguns estados, principalmente no Norte e Nordeste. Estudantes das regiões Sudeste e Sul, além de Goiás e Distrito Federal, devido ao desempenho melhor no Enem, acabaram ocupando boa parte das vagas do sistema.

Devido à distância, muitos desses estudantes não compareciam para matrícula, o que gerou outro problema: as vagas ociosas. Problema que foi agravado com a dificuldade de adaptação e de se manter financeiramente longe de casa.

Para resolver esse problema, algumas universidades passaram a conceder bônus para estudantes que fizeram o ensino médio no estado ou região. Em alguns casos, o bônus é tão alto que praticamente impede que estudantes de outras localidades ocupem as vagas. Adotaram o bônus, por exemplo, as federais do Rio Grande do Norte (UFRN) e do Pará (UFPA).

O que essas universidades fizeram foi combater a mobilidade acadêmica, justamente um dos principais objetivos do SiSU.

Volta dos vestibulares

Nos últimos dois anos, movidas pelos problemas citados, duas universidades anunciaram a volta dos vestibulares tradicionais: as federais de Mato Grosso do Sul (UFMS) e de Tocantins (UFT). Além delas, outras instituições nas regiões Norte e Nordeste discutem constantemente a mudança do formato de ingresso.

Os recentes discursos de membros do MEC e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) sobre o Enem também causam incertezas sobre o futuro do exame. O Governo de Jair Bolsonaro quer controlar as questões do Enem para evitar que a prova aborde “temas ideológicos”. Na visão das universidades, trata-se de censura. Dependendo de como for o Enem 2019, as universidades podem optar por boicotar a prova e voltar com a aplicação dos vestibulares. 

Opinem

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