As recentes falas do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) sobre o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) causam preocupação quanto ao conteúdo das provas nos próximos anos. Nesta semana, ao criticar uma questão que citava o pujubá, dialeto secreto de gays e travestis, Bolsonaro disse que a intenção do seu governo é “fazer com que o Enem cobre conhecimentos úteis”.
Criado em 1998 pelo Governo de FHC, o Enem sempre foi tratado pelos presidentes como uma prova importante para medir o conhecimento dos estudantes que concluem o ensino médio. No Governo Lula, em 2005, passou a ser utilizado também para a concessão das bolsas de estudo do Programa Universidade para Todos (ProUni) e, em 2009, foi reformulado para se tornar o maior processo seletivo do Brasil.
Ainda sob gestão do PT, mas agora no Governo Dilma, o Enem foi aperfeiçoado quanto sua logística de aplicação e esquema de segurança. Ações essas que continuaram no Governo Temer, que também diminuiu o prejuízo financeiro com os ausentes. Nesses 20 anos de história, todos os governos aprimoraram o Enem e nenhum presidente ameaçou interferir no conteúdo das provas.
Saiba como são feitas as provas do Enem
Em nove anos de Brasil Escola, tive a oportunidade de entrevistar dezenas de professores e educadores. Todos elogiam o conteúdo do Enem que, segundo eles, revolucionou os processos seletivos a partir de 2009. Antes, os vestibulandos precisavam decorar fórmulas e datas para serem aprovados. Com as mudanças, o Enem trouxe o conhecimento adquirido em sala de aula para o cotidiano dos estudantes, inovou com questões interdisciplinares e valorizou a interpretação de texto e a leitura.
Interpretação essa que faltou ao presidente eleito. A questão número 31 da Prova Amarela do Enem 2018 não cobrava do participante conhecimento do pujubá, mas o que o caracterizava como um dialeto, baseado no texto que apoiava a questão. O único conhecimento medido foi de interpretação de texto.
Veja a correção comentada da questão “polêmica” do Enem 2018
As questões do Enem refletem o cotidiano dos brasileiros e a diversidade do país. Uma prova tão importante como o Enem não pode censurar minorias e os direitos humanos. Os estudantes devem concluir o ensino médio conhecendo os problemas do seu país e a diversidade racial, religiosa, cultural e sexual.
Em tempos em que políticos querem censurar professores em sala de aula, espero que o novo Governo respeite os educadores e dê autonomia para o Inep continuar o bom trabalho que tem feito com o Enem.