Nos últimos meses, a população brasileira tem sido “presenteada” com uma série de aumentos no preço da água, energia, gasolina e alimentação. Os brasileiros estão tendo dificuldade para manter o padrão de vida pré-pandemia e até para sobreviver – o Brasil registrou esse ano recorde de extrema pobreza. A crise econômica no país é real e vem afetando diversos setores, incluindo o da educação superior.
O Brasil Escola cobre vestibulares das maiores universidades e faculdades do país desde 2008, incluindo públicas e particulares. Na época, o Brasil estava em pleno crescimento, com boa parte dos jovens realizando o sonho de entrar na universidade. Até 2014, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) registrava recorde de inscritos a cada edição.
Apesar da queda de inscritos nas últimas edições do Enem, alguns vestibulares conseguiam manter a quantidade de candidatos. No entanto, a pandemia de coronavírus e a consequente crise econômica fez despencar as inscrições em vestibulares, principalmente de instituições particulares. Com o desemprego em alta, o jovem não vê no ensino superior uma forma de ascensão social e profissional. Ter um diploma não é mais nenhuma garantia de emprego – exceto em Medicina.
A crise também obrigou muitos estudantes a abandonar a faculdade para poder trabalhar e ajudar no sustento da casa. Cursos acostumados com grandes turmas, como Direito e Administração, tiveram perda significativa no número de matriculados. Consequentemente, as faculdades encontram dificuldade para manter sua estrutura e pagar os professores.
Vestibular faz de conta
Para tentar contornar a situação, as faculdades fazem de tudo para atrair novos estudantes. Em muitas instituições particulares, o vestibular perdeu sua função de selecionar os melhores alunos. Os candidatos podem, por exemplo, fazer apenas uma prova de redação. Não tem tempo? Pode escolher o dia e até fazer de casa (vestibular agendado). Fez o Enem, mas foi mal? Não tem problema, a faculdade aceita qualquer nota. O importante é pagar a mensalidade!
Acredito que esse não é o caminho para uma boa educação superior. Os estudantes precisam entrar na faculdade demonstrando domínio do conteúdo do ensino médio, o que é medido com os vestibulares e o Enem. O professor universitário necessita desse conhecimento prévio do aluno para o desenvolvimento da aula. Por exemplo, um estudante de Engenharia Civil precisa entrar na faculdade com domínio da matemática, pelo menos.
O resultado dessa situação são instituições nas quais o professor não consegue ensinar e o aluno tampouco consegue aprender. A faculdade precisa do dinheiro e o aluno, do diploma. Nessa relação, o ensino é secundário.
Os métodos que o Ministério da Educação (MEC) utiliza para avaliar faculdades e seus estudantes são falhos. Se faz necessário um maior rigor no acompanhamento dos processos seletivos e na estrutura que as faculdades oferecem aos alunos. A crise econômica não pode servir de desculpa para piorar a qualidade do ensino superior.