70 anos do ataque nuclear no Japão

Em agosto de 2015, completaram-se 70 anos do ataque nuclear no Japão, o episódio mais funesto da Segunda Guerra Mundial.
Por Cláudio Fernandes

Imagem aérea da cidade de Hiroshima após o ataque com a bomba de Urânio em 06 de agosto de 1945
Imagem aérea da cidade de Hiroshima após o ataque com a bomba de Urânio em 06 de agosto de 1945
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Em agosto de 2015, especialmente nos dias 06 e 09, muitas regiões do mundo rememoraram o ataque nuclear lançado sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki. As bombas, compostas pelos elementos químicos Urânio (Hiroshima) e Plutônio (Nagasaki), vitimaram instantaneamente quase 200 mil pessoas e, posteriormente, outras dezenas de milhares em decorrência dos efeitos da radiação. O uso das bombas atômicas no fim da Segunda Guerra Mundial é considerado a maior catástrofe realizada pelo homem de toda a história da humanidade. É provável que, em razão do alto impacto gerado por esse acontecimento, muitos tópicos dos vestibulares e do ENEM de 2015 abordem esse assunto.

Como é sabido, a estrutura do átomo começou a ser investigada na virada do século XIX para o século XX, mas foi sobretudo nas décadas de 1920 e 1930 que a manipulação tecnológica da energia atômica começou a se tornar uma realidade. Muitos cientistas que estiveram diretamente envolvidos com as pesquisas sobre a estrutura atômica participaram também dos projetos de desenvolvimento de bombas durante a Segunda Guerra Mundial, tanto na Alemanha nazista quanto nos Estados Unidos. Werner Heisenberg chegou a confessar ao seu amigo e também físico Niels Bohr, no ano de 1941, que estava trabalhando no desenvolvimento de uma arma nuclear para uso nazista, fato esse que provocou a ruptura da amizade entre os dois cientistas e a migração de Bohr para os EUA com o objetivo de se vincular ao Projeto Manhattan, isto é, o projeto que levou a cabo a criação das bombas lançadas sobre o Japão.

Apesar de o projeto alemão nunca ter se concretizado, os americanos pautavam-se na possibilidade iminente de os nazistas conseguirem uma bomba atômica antes deles. O projeto nuclear alemão, como se soube depois, foi abandonado por motivos de custo econômico em 1942, principalmente em razão dos argumentos que Goering apresentou a Hitler. Entretanto, tanto Hitler quanto seu ministro da propaganda, Joseph Goebbels, continuaram alardeando uma suposta posse de uma “arma secreta”, uma “arma prodígio” de aniquilação em massa. A rivalidade com os alemães estimulou ainda mais a escalada nuclear americana.

Ao mesmo tempo em que havia a pressa em terminar a confecção das bombas, havia também, por parte dos americanos, uma operação em curso, em plena guerra, para capturar cientistas e técnicos alemães que estiveram envolvidos no projeto nuclear nazista, bem como tomar posse dos recursos técnicos por eles utilizados. Essa operação ficou conhecida como Operação Alsos e tinha como um de seus objetivos impedir que os soviéticos apropriassem-se da tecnologia alemã antes dos americanos. Nomes como Werner Heisenberg, Otto Hahn e Carl von Weizsacker foram levados pelas tropas aliadas para Farm Hall, na Inglaterra, e mantidos sob vigilância.

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Os responsáveis pelo Projeto Manhattan eram o general Leslie Grove e o seu diretor científico, J. Robert Oppenheimer. De 1940 a 1945, foram executadas várias etapas para a criação das bombas atômicas: desde a pesquisa sobre a liberação de energia dos núcleos do Urânio e do Plutônio até o modo de construção do suporte das bombas, seu transporte, lançamento e potencial de destruição. Os envolvidos no projeto construíram uma cidade científica no deserto de Los Alamos, no Novo México, especialmente para a realização de todo o processo. Ao fim, três bombas foram produzidas, duas de plutônio, “Trinity” e “Fat Boy”, e uma de urânio, “Little Man”. “Trinity” foi a primeira bomba atômica a ser detonada, ainda no deserto de Los Alamos, como teste, em 15 de julho de 1945. Seu potencial de destruição equivalia a 20.000 toneladas de TNT (dinamite).

Antes desse teste, porém, a Alemanha já havia assinado a sua rendição (em 07 de maio). Não havia, portanto, mais ameaça de outro projeto nuclear em curso. No entanto, a guerra continuava no Pacífico contra o império japonês, que já estava com as suas defesas arruinadas. O general americano Curtis Emerson LeMay, responsável pelo ataque ao Japão, também havia ordenado um ataque de bombardeio convencional com bombas incendiárias misturadas a bombas explosivas. Cerca de 100.000 civis morreram em Tóquio nos dias 09 e 10 de março de 1945 em razão desse ataque. Por que, então, em agosto de 1945, os americanos lançaram as bombas atômicas no Japão?

A alegação oficial para o ataque atômico, repetidas vezes proferida pelo então presidente Harry Truman, era a de evitar as baixas no exército americano em uma possível entrada por terra no Japão. Truman chegou a dizer que os soldados americanos mortos poderiam chegar a 500.000. Esse argumento era utilizado em uma possível tentativa de compensar as centenas de milhares de vítimas do ataque nuclear. Contudo, muitos historiadores indicam que o objetivo real do ataque era conquistar o território japonês e impedir que a URSS participasse da divisão do mesmo território, que se tornaria uma zona de influência geopolítica no pós-guerra.

Além disso, o ataque nuclear também pôs em evidência a superioridade bélica e tecnológica dos Estados Unidos a todo o mundo, principalmente aos soviéticos. O mês de agosto de 1945 permanecerá na memória de toda a humanidade como o mais fatídico de toda a nossa história.

NOTAS

[1] MOURAO, Ronaldo Rogério de Freitas. Hiroshima e Nagazaki: razões para experimentar a nova arma. Sci. stud., São Paulo, v. 3, n. 4, p. 697-698.


Por Me. Cláudio Fernandes