A crise econômica que se fez patente a partir do ano de 2008, que ocasionou a quebra de uma série de bancos internacionais e exigiu medidas de austeridade financeira para muitos países dos cinco continentes do globo, teve seu epicentro na bolha imobiliária dos Estados Unidos e na expansão de crédito que esse país promovia em torno do sistema de hipotecas dos imóveis vendidos. A razão para isso ter desencadeado uma crise de grandes proporções está no fato de que, quanto mais crédito (papel-moeda, títulos e crédito financeiro em geral) é colocado em circulação, mais lastro real ele precisa ter.
Acontece que o lastro real é o que o país produz, sua receita, isto é, os valores reais advindos do trabalho da população, das respectivas poupanças e da arrecadação feita pelo Estado. Quando o nível de crédito é muito superior a esse lastro real, ocorrem as crises – haja vista que não se consegue honrar as amplas dívidas contraídas. Países de grandíssima influência financeira internacional, como os EUA e a China, quando apresentam exorbitância no fornecimento de crédito, com o passar dos anos, podem comprometer todo o sistema financeiro que está a eles atrelado.
Durante a crise de 2008, a China foi um dos poucos países que não demonstraram, à época, sinais de instabilidade. Isso ocorreu por causa dos ajustes que eram feitos com a expansão de crédito, expansão essa feita, sobretudo, para fomentar o setor da construção civil. Desde a década de 1990, a China vem sofrendo um enorme processo de êxodo rural e, ao mesmo tempo, vem apostando na ampliação dos cenários urbanos. O problema é que o preço dos imóveis vem sofrendo progressivos picos inflacionários e as medidas de expansão creditícia não estão mais dando conta de camuflar essa situação, como afirmou o ex-congressista americano David Stockman:
“a China é uma nação que, em decorrência de uma monumental bolha de crédito, incorreu em uma insana mania especulativa direcionada majoritariamente para a construção civil. As implicações desse endividamento (todo crédito é um endividamento) e dessa especulação imobiliária estão sendo resolutamente ignoradas por analistas que ainda estão iludidos pela noção de que a China criou um modelo econômico singular chamado 'capitalismo vermelho.'” [1]
Ainda segundo Stockman, em um espaço de menos de 15 anos, a dívida pública da China passou de US$1 trilhão para US$25 trilhões. Essa realidade começou a mostrar os seus sintomas em 2015. A economia chinesa começou a desacelerar porque está na iminência de uma recessão. Em agosto de 2015, a Bolsa de Xangai caiu mais de 8%, refletindo em negócios do mundo inteiro. A China é a segunda economia do mundo, e uma recessão poderia levar a uma crise em escala global tão ou mais grave que a de 2008.
O sistema de governo autoritário, centrado no Partido Comunista Chinês, com política econômica centralizada no capitalismo de Estado, dificulta ainda mais a situação. Os reflexos de uma recessão chinesa seriam sentidos principalmente nos países que mais dependem do mercado de importações chinês, como é o caso do Brasil, que exporta grande parte do que produz de soja e minério de ferro para os chineses.
[1] STOCKMAN, David. Por que a China vai implodir. Instituto Ludwing von Mises Brasil, 23 de maio de 2014.