O Governo da Balbúrdia

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Universidades federais podem paralisar aulas e pesquisas após o bloqueio anunciado pelo novo ministro da Educação.

Ministro Weintraub explica os cortes ao lado do presidente Bolsonaro. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Crédito da Imagem: Valter Campanato/Agência Brasil

Desde a campanha para presidente, Jair Bolsonaro aponta inimigos que devem ser combatidos para o desenvolvimento do Brasil. Esquerdistas, petistas, “comunistas”, Globo, Folha de São Paulo, Direitos Humanos são alguns dos inimigos do país, segundo o presidente. Agora, a bola da vez são as universidades federais, mais especificamente os cursos de Humanas.

No final de abril, o atual ministro da Educação, Abraham Weintraub, anunciou o bloqueio de 30% dos recursos de três universidades federais: Fluminense (UFF), de Brasília (UnB) e da Bahia (UFBA). O motivo: estavam promovendo balbúrdia. De acordo com Weintraub, essas e outras universidades estavam organizando eventos políticos e festas com “gente pelada dentro do campus”, enquanto o desempenho acadêmico deixava a desejar.

A declaração que não combina em nada do que se espera de um ministro da Educação, causou estranheza e revolta nas universidades. As três instituições citadas estão bem posicionadas em rankings de qualidade, como o Times Higher Education e o QS World University Rankings, ou seja, a alegação de baixo desempenho acadêmico não condiz com a realidade. Além disso, o ministro não exemplificou nenhum evento que ele considera balbúrdia. Debates políticos existem desde que a primeira universidade foi criada. Ele quer censurar os debates como na época da Ditadura?

Weintraub é o segundo ministro da Educação de Bolsonaro em quatro meses de governo. Antes dele, o colombiano Ricardo Vélez foi demitido após uma série de polêmicas, como pedir para escolas filmarem alunos falando o slogam da campanha de Bolsonaro, querer mudar livros para falar que a Ditadura não existiu e dizer que brasileiros roubam coisas de hotéis quando viajam para o exterior.

Depois da declaração polêmica, Weintraub anunciou que o bloqueio seria estendido a todas as instituições federais (institutos e universidades), hospitais universitários e Fundo de Financiamento Estudantil (FIES). Mais de R$ 2 bilhões foram cortados, o que impede que as instituições terminem o ano letivo. Os reitores das universidades federais de Goiás e Santa Catarina (UFSC), por exemplo, afirmaram que o corte irá interromper as aulas no início do segundo semestre.

O Governo Federal explicou os cortes dizendo que o dinheiro seria investido na educação básica, mas logo depois congelou também recursos em programas do ensino infantil ao médio. Somente os colégios militares, tão elogiados por Bolsonaro, não foram afetados.

Para agravar a situação, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) suspendeu a concessão de bolsas de mestrado e doutorado, um duro golpe na educação e ciência no Brasil. As bolsas, cujos valores já eram baixos, são a única fonte de renda de vários pesquisadores e cientistas do país.

Reação das universidades

Esta semana, várias universidades e institutos federais protestaram contra os cortes, como UFF, UFBA, UnB, UFMG, UFAL, UFCG, UFMA, UFAC, IFTM, IFG e até na USP, que é estadual. Na UFSC, por exemplo, estudantes se reuniram para decidir sobre paralisação. Um grande protesto também está sendo organizado pela União Nacional dos Estudantes (UNE) para o dia 15 de maio.

Na internet, estudantes e instituições fazem postagens mostrando realizações científicas que tiveram nos últimos anos e prêmios internacionais que receberam. Muitas publicações satirizam o termo balbúrdia usado por Weintraub. 

Mais um gol da Alemanha

Na mesma semana que o Brasil anunciou o corte nas universidades, a Alemanha anunciou um investimento de 160 bilhões de euros em universidades e pesquisas. Um eterno 7x1. Segundo a ministra da Educação da Alemanha, o investimento garantirá a prosperidade do país. Enquanto isso, nosso presidente acha mais importante armar a população. 

Qual a definição de um governo que investe em armas e corta recursos da educação? Eu chamo de balbúrdia.