O avanço do Estado Islâmico e a tensão no Oriente Médio

O avanço do Estado Islâmico em direção à fronteira com a Turquia tem gerado forte tensão no Oriente Médio e grande polêmica em torno da posição dos turcos nesse processo.

O grupo Estado Islâmico tem avançado progressivamente em direção à fronteira com a Turquia

O grupo jihadista (terrorismo associado à Jihad – guerra santa – islâmica) Estado Islâmico (EI), atuante no Iraque e na Síria, declarou, em 29 de agosto de 2014, que seu líder Abu Bakr al-Baghdadi havia se autoproclamado o novo califa do Oriente Médio (mais informações sobre esse conceito podem ser obtidas neste link: Império Islâmico). Desde o início de 2014 o Estado Islâmico vem expandindo os seus domínios sobre regiões do Iraque e da Síria, chegando até bem próximo do limiar da fronteira desses dois países com a Turquia. Esse progressivo avanço do Estado Islâmico tem provocado uma enorme tensão na região do Oriente Médio, sobretudo no que tange à posição da Turquia

Desde o ano de 2011 os países muçulmanos, tanto do Oriente Médio quanto do norte da África, vêm sofrendo levas de transformações políticas importantes. Com a chamada Primavera Árabe, alguns líderes desses países sucumbiram, como os presidentes da Líbia e do Egito. Grande parte dos  rebeldes que atuaram durante os levantes de 2011 também tinha apoio da Irmandade Muçulmana, organização jhadista internacional que financia grupos terroristas e defende o emprego da Sharia, “Lei islâmica”.

 A Síria, governada por Bashar Al-Assad, possui um longo histórico de guerras civis desencadeadas contra rebeldes. Desde 2011 que sua situação interna piorou, sobretudo em virtude da guerra travada contra rebeldes que tentam derrubar Assad do poder. Rebeldes esses que, inclusive, receberam auxílio de países como os EUA (Para mais informações sobre isso, consultar este link: Conflitos na Síria e intervenção dos EUA). Paralelamente à situação da Síria, houve a sistemática retirada das tropas americanas da região do Iraque, que lá estavam desde a guerra desencadeada em 2003. Foi nesse contexto que o Estado Islâmico – antes conhecido como Estado Islâmico no Iraque e na Síria – passou a ganhar espaço.  

O Estado Islâmico nasceu como uma ramificação da Al-Qaeda (organização terrorista jihadista fundada por Bin Laden e responsável pelos atentados de 11 de setembro de 2001) com o objetivo de ocupar espaços ao norte da Síria e do Iraque. Com o tempo, o Estado Islâmico rompeu com a Al-Qaeda e passou a seguir suas próprias diretrizes. A própria rede Al-Qaeda considera o Estado Islâmico excessivamente radical. Práticas como decapitações, mutilações, fuzilamentos em massa, crucificação, estupro de mulheres e crianças e outras atrocidades são comumente praticadas por esse grupo. As principais cidades controladas pelo Estado Islâmico são Mossul, Tal Afar, Kikuk e Tkrit


Milhares de refugiados curdos foram para a Turquia saídos da Síria.*

Além dos exércitos iraquiano e sírio, combatentes curdos também resistem contra o avanço do Estado Islâmico. A cidade síria de Kabane, que fica na fronteira com a Turquia, é o centro da resistência curda. A posição estratégica dessa cidade atrai os jihadistas. Em 2014, milhares de curdos que viviam em Kabane cruzaram a fronteira e refugiram-se em solo turco. Desde então a situação dessa cidade vem ficando cada vez mais delicada, pois os suprimentos e os armamentos da resistência curda estão se escasseando. 

Além disso, a presença do Estado Islâmico em Kabane tem suscitado uma enorme polêmica em torno da posição da Turquia em relação ao grupo jihadista. Desde que foi anunciada a decisão da  Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), da qual a Turquia faz parte, de auxiliar os EUA no combate ao Estado Islâmico, os turcos têm se mantido reticentes e ambivalentes em vários pontos. Em setembro de 2014, o Estado Islâmico libertou 49 reféns turcos (que haviam sido sequestrados em Mossul, Iraque), trocando-os por 50 de seus membros, que haviam sido capturados. Entretanto, a Turquia possui conflitos históricos com os curdos e com os sírios e teme que, se der apoio militar a esses dois povos na luta contra o Estado Islâmico, poderá, posteriormente, ficar vulnerável as esses inimigos históricos. Por outro lado, a Turquia também reclama da falta de repercussão internacional que sua recepção aos refugidos curdos teve. 

Os turcos temem sobretudo a ascensão do Partido dos Trabalhadores Curdos (PKK) e o fortalecimento do Curdistão. Além disso, há acusações de que a Turquia teria dado apoio aos grupos rebeldes radicas da Síria com o objetivo de derrubar Assad em 2011 – possivelmente, parte desde apoio teria sido dado ao próprio Estado Islâmico. As tensões nessa região tendem a agravar-se em 2015, principalmente se a resistência curda sucumbir e a cidade de Kabane for tomada pelo Estado Islâmico. Os EUA e a Otan provavelmente continuarão a pressionar a Turquia para que ela tome uma posição clara no conflito. Enquanto isso, centenas de militantes jihadistas engrossam as filas de adesão ao Estado Islâmico.  

* Crédito das imagens: Shutterstock e fpolat69