Como estudar Filosofia para o Enem

Neste texto, serão apresentadas algumas dicas de como estudar Filosofia para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Por Francisco Porfírio

O conhecimento filosófico pode ser abordado de diferentes maneiras no Enem.
O conhecimento filosófico pode ser abordado de diferentes maneiras no Enem.
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Fala, galera! Vocês estão se preparando para a prova do Enem, não é isso? Por isso, nós preparamos para vocês um conjunto de dicas valiosas para orientá-los na resolução das questões de Filosofia e para que você saiba como estudar para essa disciplina. Como a prova do Enem é elaborada de maneira interdisciplinar e cobra do estudante diversas competências e habilidades, algumas dessas dicas podem também ser aplicadas nas outras questões de Ciências Humanas.

Em geral, as questões do Enem não se prestam a verificar se o candidato decorou um conteúdo específico. Na verdade, elas verificam a capacidade de leitura e interpretação textual, a articulação de conhecimentos teóricos e científicos com conhecimentos da vida prática e a capacidade de análise e trabalho interdisciplinar, ou seja, a capacidade de relacionar conteúdos de diversas áreas do conhecimento.

Tópicos deste artigo

Como estudar Filosofia para se sair bem no Enem?

Eu costumo dizer em sala de aula que para que o candidato se saia bem nas questões de Filosofia do exame, ele deve: 

1) ter estudado, de forma ampla, toda a História da Filosofia (dos pré-socráticos à filosofia contemporânea que é produzida ainda hoje por autores como Peter Singer, Slavoj Zizek e Jürgen Habermas);

2) ter algum conhecimento geral sobre os filósofos mais conhecidos de cada período histórico (saber, por exemplo, um pouco de Tales, Pitágoras e Heráclito – como representantes dos pré-socráticos; um pouco de Platão e Aristóteles, de Santo Agostinho e Tomás de Aquino, de Maquiavel, de Descartes, de Kant, Nietzsche, Foucault...); 

3) ter capacidade de leitura e interpretação crítica e dinâmica, pois é preciso resolver 90 questões, a grande maioria delas com fragmentos de textos escritos, além de outras fontes de informação, como imagens, tirinhas e gráficos. 

Essa última habilidade somente é alcançada pelo candidato por meio da leitura contínua. Só lê e interpreta bem quem tem o hábito da leitura. As duas habilidades apresentadas nos itens um e dois podem ser adquiridas por meio das aulas regulares de Filosofia na escola, do estudo de manuais de filosofia e das videoaulas disponíveis na internet. 

Veja também: Videoaulas de Filosofia

Questões de Filosofia no Enem

As questões de Filosofia, salvo raríssimas exceções, são compostas por fragmentos de textos de autores clássicos da Filosofia ou de comentadores desses autores (estudiosos especialistas que se dedicam a escrever textos comentando e decifrando os escritos dos filósofos já consagrados como clássicos do pensamento). É preciso estar ciente de que todas as informações contidas nas questões são importantes, inclusive aquelas letrinhas minúsculas que aparecem abaixo do fragmento de texto, onde está indicado o autor do texto citado e o nome da obra de onde a citação foi retirada. 

Para um estudante que possui algum conhecimento médio adquirido por meio das aulas, dos manuais e livros didáticos de Filosofia, essas informações podem despertar relações em seu pensamento que podem levar à resposta certa ou, pelo menos, eliminar uma ou mais alternativas incorretas.

Em geral, as questões de Filosofia vão cobrar do estudante: 

1. apenas a capacidade de ler e interpretar textos filosóficos; 
2. capacidade de ler, interpretar e relacionar o fragmento filosófico a um conhecimento prévio da História da Filosofia; 
3. capacidade de ler, interpretar e relacionar o que foi lido, de maneira crítica, a uma situação cotidiana ou prática contemporânea;
4. capacidade de ler, interpretar e relacionar o que foi lido a um conteúdo específico de outra disciplina, como a História, a Geografia ou a Sociologia. 

Para que vocês entendam melhor, eu selecionei algumas questões de Filosofia de provas anteriores do Enem que demonstram essas três situações.

Questão 1 – Enem 2017
O conceito de democracia, no pensamento de Habermas, é construído a partir de uma dimensão procedimental, calcada no discurso e na deliberação. A legitimidade democrática exige que o processo de tomada de decisões políticas ocorra a partir de uma ampla discussão pública, para somente então decidir. Assim, o caráter deliberativo corresponde a um processo coletivo de ponderação e análise, permeado pelo discurso, que antecede a decisão. 
VITALE, D. Jürgen Habermas, modernidade e democracia deliberativa. Cadernos do CRH (UFBA), v. 19, 2006 (adaptado). 

O conceito de democracia proposto por Jürgen Habermas pode favorecer processos de inclusão social. De acordo com o texto, é uma condição para que isso aconteça o(a): 

A) participação direta periódica do cidadão. 
B) debate livre e racional entre cidadãos e Estado. 
C) interlocução entre os poderes governamentais. 
D) eleição de lideranças políticas com mandatos temporários. 
E) controle do poder político por cidadãos mais esclarecidos.
 
Comentário da questão
Essa questão requer do candidato a capacidade de leitura e interpretação do fragmento apresentado. Deve-se atentar sempre para a semântica do texto, pois ela é determinada pela disposição lógica dos argumentos, ou seja, o significado obedece a padrões lógicos, diferentemente de poemas ou charges, por exemplo. Há apenas uma exceção: quando a questão apresentar um poema ou um trecho de literatura com um tom ou significado filosófico. 

A resposta correta dessa questão é a alternativa B, pois o fragmento deixa evidente a necessidade do debate ao dizer que, para que a tomada de decisões seja legítima, é necessário que “ocorra a partir de uma ampla discussão pública, para somente então decidir”. 

Questão 2 – Enem 2015
A natureza fez os homens tão iguais, quanto às faculdades do corpo e do espírito, que, embora por vezes se encontre um homem manifestamente mais forte de corpo, ou de espírito mais vivo do que outro, mesmo assim, quando se considera tudo isto em conjunto, a diferença entre um e outro homem não é suficientemente considerável para que um deles possa com base nela reclamar algum benefício a que outro não possa igualmente aspirar. 
HOBBES, T. Leviatã. São Paulo: Martins Fontes, 2003. 

Para Hobbes, antes da constituição da sociedade civil, quando dois homens desejavam o mesmo objeto, eles 

A) entravam em conflito.
B) recorriam aos clérigos. 
C) consultavam os anciãos. 
D) apelavam aos governantes. 
E) exerciam a solidariedade.

Comentário da questão
Essa questão requer do candidato a capacidade de ler, interpretar e relacionar o fragmento filosófico a um conhecimento prévio da História da Filosofia. O fragmento da obra Leviatã, de Thomas Hobbes, indica apenas a possibilidade existente de os homens, justamente por serem iguais em direitos, entrarem em conflito de interesse. Nesse momento, o candidato deve ter alguma noção da Teoria do Contrato Social em Thomas Hobbes para saber que, hipoteticamente, em um período anterior ao contrato social, o ser humano encontrava-se em seu estado de natureza, vivendo sem sociedade, sem governo, sem leis e sem Estado.

A alternativa correta é a letra A, pois, a partir do momento em que os homens têm interesses em comum no estado de natureza, nasce um conflito feroz no qual cada um defende o seu lado e a sua posse. 

Questão 3 – Enem 2015
Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam o feminino.
BEAUVOIR, S. O segundo sexo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.

Na década de 1960, a proposição de Simone de Beauvoir contribuiu para estruturar um movimento social que teve como marca o(a)

A) ação do Poder Judiciário para criminalizar a violência sexual. 
B) pressão do Poder Legislativo para impedir a dupla jornada de trabalho. 
C) organização de protestos públicos para garantir a igualdade de gênero. 
D) oposição de grupos religiosos para impedir os casamentos homoafetivos. 
E) estabelecimento de políticas governamentais para promover ações afirmativas.

Comentário da questão
Essa questão requer do candidato, de maneira mais evidente, a capacidade de ler, interpretar e relacionar o que foi lido, de maneira crítica, a uma situação cotidiana ou prática contemporânea. Em segundo plano, ela também requer algum conhecimento de História. De modo geral, o candidato deve entender o que Beauvoir está apontando: o fato de o que qualificam como “feminino” não ser algo biológico, físico ou psíquico, mas uma construção social. Por isso, ela profere a polêmica frase “ninguém nasce mulher: torna-se mulher”. Nesse momento, a capacidade de relacionar o fragmento vem à tona ao se perceber que o trecho citado remete ao movimento feminista, um movimento social contemporâneo que luta pela igualdade de direitos e oportunidades entre homens e mulheres.

Relacionando o que foi abstraído da leitura do fragmento com o que foi mencionado no enunciado (movimento social da década de 1960), conclui-se que a única alternativa correta possível é a alternativa C.

Questão 4 – Enem 2015
O que implica o sistema da pólis é uma extraordinária preeminência da palavra sobre todos os outros instrumentos do poder. A palavra constitui o debate contraditório, a discussão, a argumentação e a polêmica. Torna-se a regra do jogo intelectual, assim como do jogo político. 
VERNANT, J.P. As origens do pensamento grego. Rio de Janeiro: Bertrand, 1992 (adaptado).

Na configuração política da democracia grega, em especial a ateniense, a ágora tinha por função:
A) agregar os cidadãos em torno de reis que governavam em prol da cidade. 
B) permitir aos homens livres o acesso às decisões do Estado expostas por seus magistrados. 
C) constituir o lugar onde o corpo de cidadãos se reunia para deliberar sobre as questões da comunidade. 
D) reunir os exércitos para decidir em assembleias fechadas os rumos a serem tomados em caso de guerra. 
E) congregar a comunidade para eleger representantes com direito a pronunciar-se em assembleias.

Comentário da questão
Nessa questão, é requerida do candidato a capacidade de ler, interpretar e relacionar o que foi lido a um conteúdo específico de outra disciplina, como a História, a Geografia ou a Sociologia. No caso, o estudante deve ler o fragmento e a fonte de onde foi retirado. Alguém com um conhecimento médio de filosofia deve saber que Jean Pierre Vernant foi um dos maiores estudiosos da Grécia Antiga. No caso, a questão faz referência à política e à democracia atenienses, amplamente estudadas pela Filosofia e pela História. A ágora (mencionada no enunciado) era o local de debate político entre os cidadãos. Lá se tomavam as decisões acerca da pólis (cidades-estados gregas).

A alternativa que responde corretamente à questão é a letra C, de acordo com os estudos historiográficos e filosóficos.

Assista às nossas videoaulas