Reforma da língua portuguesa. O que isso muda em seu dia-a-dia?

Em 19/11/2008 15h16 , atualizado em 26/11/2008 17h45 Por Gabriele Pires Alves

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Mudar uma língua não é fácil. Ainda mais em se tratando do Português, idioma que tem como cerne o latim vulgar falado no norte da Península Ibérica pelos romanos, em 218 a.C. Mas, até se tornar o idioma que é falado hoje, o Português sofreu transformações. Entre 411 d.C. e 711 d.C., passou por influência germânica, ocasião em que a língua adotou palavras como guerrear e roubar, próprias da natureza de povos invasores. Quando das invasões árabes, a língua moura influenciou o vocabulário lusófono, principalmente no campo da agricultura (alface, azeitona) e na culinária (açúcar, azeite).

No século XV, as grandes navegações fizeram com que o Português fosse disseminado na América, África e Ásia. Posteriormente, no século XVI, as primeiras gramáticas que oficializam a morfologia e a sintaxe da língua portuguesa foram criadas.


As primeiras tipografias eram assim

Atualmente, a língua portuguesa é adotada oficialmente em oito países: Portugal, Brasil, Timor-Leste, Angola, São Tomé e Príncipe, Moçambique, Cabo Verde e Guiné-Bissau. O idioma é usado por cerca de 230 milhões de pessoas, sendo considerada a sexta língua mais usada no planeta, ficando atrás do mandarim, inglês, espanhol, bengali e hindi (subcontinente Indiano).

Pra que reformar?

No Brasil, o Português sofreu algumas alterações em 1971, quando o presidente Médici sancionou o projeto de lei que aboliu, entre outros, o uso do acento circunflexo diferencial na letra e (êle). A previsão, na época, era de que as mudanças ganhassem o gosto popular em quatro anos, mas ainda hoje é fácil encontrar uma vovozinha ou outra que adote as antigas regras.

Nesse sentido surge a seguinte dúvida: a reforma da língua portuguesa simplificará o uso da língua no Brasil e nos outros países onde é idioma oficial? Em Portugal o assunto gerou tensões. Um abaixo assinado, via internet, manisfestou a insatisfação dos portugueses em relação ao acordo ortográfico. A principal reivindicação dos lusitanos é a falta de usabilidade da proposta e a ausência de uma consulta à sociedade e à comunidade científica antes da aplicação das novas regras.


O grande questionamento em relação à reforma é: ela vai faciltar a vida das pessoas?

Mas em que o acordo muda o seu dia-a-dia? O Português no Brasil não sofrerá muitas mudanças e essa é umas das principais críticas à reforma. Estudos lingüísticos apontam que apenas 0,43% das palavras do dicionário terão de ser reescritas, processo que gera custos. A substituição dos livros didáticos e adaptação de concursos públicos e provas de vestibulares também acarretam ônus. O interessante seria pensar em uma reforma mais profunda, que facilitasse a usabilidade da língua.

O capítulo da gramática referente à fonética, por exemplo, não oferece parâmetros coerentes, dando brecha para o aluno decorar as regras ao invés de aprendê-las. Uma reforma eficiente trataria de mudanças para simplificar o alfabeto e a vida das pessoas. Desta vez, a previsão é de que a nova geração de alfabetizados tenha domínio das novas regras em 10 anos.

Mas veja o lado positivo: a reforma trará maior integração aos países que falam o Português. Até mesmo o comércio é prejudicado pela variedade de regras de país para país. Um simples livro não pode ser comercializado em qualquer parte do “mundo português” por causa das diferenças, o que poderá ser feito a partir de 2010, pelo menos no Brasil.

E como fica a língua?

O ponta-pé inicial da reforma foi em 1990, quando o acordo foi assinado pelos países que usam oficialmente o português. Com o objetivo de padronizar a ortografia, o documento só poderia ser ratificado se três nações aderissem ao acordo, fato que só ocorreu neste ano com a participação de Portugal. Desde então, tem-se discutido sobre o processo de adaptação às novas regras. A aposta é que a maior dificuldade seja no uso do hífen.

O sinal gráfico será retirado de algumas palavras e incluso em outras. Agora o hífen deve ser aplicado em casos em que o segundo termo de uma palavra começar com a mesma vogal do prefixo, como em micro-ondas. Isso mesmo, parece estranho, mas é assim que será a partir de 2010. Não se surpreenda ao encontrar algum antirreligioso por aí. A reforma ensina que não se deve usar hífen em casos de prefixo seguidos por “r” e “s”.


O trema desaparecerá da língua portuguesa

As letras “k”, “w” e “y” serão incorporadas ao alfabeto para se referir a nomes de lugares e de pessoas originários de outras línguas. O trema, que andava em desuso, finalmente cai e ainda será considerada a dupla grafia para palavras pronunciada de maneiras diferentes no Brasil e em Portugal. Não será errado escrever caracter, apesar de caráter ser o mais familiar para nós.

E você? Acha que a reforma do Português está sendo promovida para facilitar a vida das pessoas ou é apenas uma forma de obter lucros no mundo dos negócios literários? Será que as mudanças vão mesmo ser adotadas no cotidiano das pessoas ou as novas regras imperarão apenas no campo formal da língua? Dê sua opinião!