É natural que os muitos casos de má administração pública e escândalos de corrupção existentes no Brasil guiem ao surgimento de inúmeras teses sobre as necessárias modificações em suas estruturas políticas. Exemplo disso é a ideia, defendida pelo poeta Rubem Alves em publicação na Folha de São Paulo, de que a atividade política deve ser exercida por pessoas detentoras de vocação, e não por profissionais treinados para tal função. Essa tese, contudo, menospreza a capacidade de desenvolvimento das habilidades individuais por meio de repetição, empenho e experimentações.
A crença de que as pessoas apresentam vocações já no instante do nascimento é um princípio das doutrinas religiosas hegemônica [hegemônicas] no Brasil, porém tomá-la como verdade científica, principalmente em um Estado laico, é não somente uma clara negligência de metodologia, mas também um desrespeito às demais religiões. Além disso, não se pode ignorar a existência de importantes escolas filosóficas, como a empírica, que se contrapõem a tal enunciado, descrevendo que no momento do nascimento se é “uma folha em branco”, segundo John Locke, e que o conhecimento deriva das experimentações, dos sentidos e das vivências.
A ideia de vocação abona, dessa forma, a situação problemática do sistema educacional brasileiro, ineficiente e incapaz de formar lideranças políticas. É perceptível que os alunos manifestam maiores habilidades individuais para determinadas áreas do conhecimento ao longo de suas vidas discentes, porém isso não justifica falta de vontade e dedicação e muito menos significa que o saber político seja inato, mas sim resultado de um processo educacional que necessita de ser integrado por profissionais competentes e famílias presentes.
Conclui-se que o processo de obtenção de bons políticos não perpassa simples vocações individuais, mas sim algo muito mais complexo, caro e demorado: uma verdadeira formação político-cidadã, que deve ser oportunizada a todos. O inatismo em que se baseia o conceito de “vocação” precisa ser respeitado na qualidade de crença religiosa, mas não pode abonar a culpa de um sistema educacional ineficiente e muito menos alienar as pessoas de suas capacidades.
Comentários do corretor
Seu projeto de texto fez considerações válidas em torno do que foi proposto na coletânea, você soube defender sua tese. No entanto, deixou de problematizar o foco do recorte temático, que é a situação política do país. Atente ao que é pedido pela proposta e adeque-se!
Competências avaliadas
Item | Nota | |
Adequação ao Tema | Avalia se o texto consegue explorar as possibilidades de ideias que o tema favorece. Como no vestibular, a redação que foge ao tema é zerada. | 1.0 |
Adequação e Leitura Crítica da Coletânea | Avalia se o texto consegue perceber os pressupostos da coletânea, assim como fazer relação entre os pontos de vista apresentados e outras fontes de referência. | 1.0 |
Adequação ao Gênero Textual | Avalia se o texto emprega de forma adequada as características do gênero textual e se consegue utilizá-las de forma consciente e enriquecedora a serviço do projeto de texto. | 1.5 |
Adequação à modalidade padrão da língua | Avalia se o texto possui competência na modalidade escrita. Dessa forma, verifica o domínio morfológico, sintético, semântico e ortográfico. | 1.5 |
Coesão e Coerência | Avalia se o texto possui domínio dos processos de predicação, construção frasal, paragrafação e vocabulário. Além da correta utilização dos sinais de pontuação e dos elementos de articulação textual. | 1.5 |
NOTA FINAL: | 6.5 |
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0.0 - Ruim | 0.5 - Fraco | 1.0 - Bom | 1.5 - Muito bom | 2.0 - Excelente |