Poderia ter sido pior? - Banco de redações

Era para ser mais um dia comum – escola, casa. A não ser por algo que incomodava. Tirou o sono e me fez rolar na cama boa parte da noite. Porque minha menstruação atrasara por tanto tempo? Já havia passado 3 meses. Fiquei com medo. Tinha receio dos próprios pensamentos. Pensamentos que me levaram a uma farmácia que fica pertinho da minha casa.

Aproximei-me do farmacêutico e disse com uma coragem que não sei de onde veio: Preciso fazer um teste de gravidez... Ele agiu com uma naturalidade. Lembrei que eu não era a única garota – de 16 anos – que fora obter aquilo. Comprei dois, queria ter certeza do resultado.

Fiz o exame. Uma explosão estranha de sentimentos percorria todo o meu corpo. Deu positivo. Em ambos. Razão e emoção brigavam dentro de mim. O que faço agora? Meus pais vão me expulsar de casa! Será que eu tiro essa criança? Foi naquela balada, tenho certeza! Como bebi naquela noite! Vodca, cerveja, pinga...

Tranquei-me no quarto, saí de lá no dia seguinte. Naquela manhã de primavera o céu era uma continuação do meu íntimo. Cinza, parecia que iria chover a qualquer momento. Mas em alguns instantes uma faixa de sol cruzava aquelas nuvens tão melancólicas. Sol de esperança. Constantemente ouvia mamãe pronunciar que uma criança é uma dádiva, a esperança da felicidade! Será esse guri a alegria ou a tristeza?

Fingi estar tudo bem durante uma semana. Cheguei a procurar uma senhora conhecida na comunidade por realizar esses “serviços”. A coragem me faltou, mesmo depois das suas explicações. Justificou inclusive com citações de cientistas, que segundo ela, eram especialistas no assunto. Suas palavras tomaram minha cabeça de revolta. Foi como uma ofensa ao meu filho. Além disso, se a lei não permite esse ato algum motivo tem. Saí da casa daquela mulher decidida a expor tudo à família e assumir as conseqüências.

Contei da melhor forma possível, com cautela. Mas, mesmo assim durante toda a gravidez meu pai ficou sem falar comigo. Tratou-me como uma desconhecida. Minha mãe me disse verdades, verdades que eu já sabia. Foi ela quem cuidou de mim.

Por fim mamãe tinha razão. Criança é um presente, a esperança da felicidade! Nove meses depois, nasceu! Ao ver aquele lindo bebê com seu nome, Antônio, papai se derreteu. Fizemos as pazes.
Minha vida depois do nascimento de Antônio não foi fácil. Mas, poderia ter sido pior. Viver com o peso da culpa e não ter mais a companhia dele. Agora tenho seu olhar, suas palavras. Antônio sempre diz “te amo mamãe”.