Atentados de 13 de novembro em Paris

Os Atentados de 13 de novembro em Paris foram efetuados por 8 membros do grupo terrorista Estado Islâmico, e resultaram na morte de 129 pessoas.

Acima, flores e velas depositadas nos locais de Paris onde ocorreram os atentados da noite do dia 13 de novembro de 2015 *

Na noite de 13 de novembro de 2015, a cidade de Paris, capital da França, sofreu um dos mais expressivos atentados terroristas da história da Europa, o qual deixou 129 mortos e cerca de 350 feridos. Esse atentado caracterizou-se por ataques feitos em vários pontos da capital francesa, perpetrados por pelo menos oito terroristas vinculados ao grupo Estado Islâmico, que reivindicou a autoria do massacre por meio de uma carta que analisaremos mais adiante.

O primeiro ataque ocorreu às 21h16min, nas imediações do Stade de France (o estádio de futebol que foi palco da abertura e do fim da Copa do Mundo de 1998), quando um homem-bomba acionou um cinto com explosivos. A explosão pôde ser ouvida no interior do estádio, onde se encontrava, entre os espectadores, o presidente da França, François Holland, que assistia ao jogo em que as seleções francesa e alemã disputavam. Em seguida, houve o primeiro fuzilamento da noite, por volta de 21h20min, nas ruas Bichat e Alibert. Os terroristas estavam munidos de metralhadoras e fuzis modelo AK-47. Os alvos foram pessoas que estavam nas áreas externas do café Le Carillon e no interior do restaurante Le Petit Cambodge. Os suspeitos fugiram em carro (segundo testemunha) com placa da Bélgica, deixando dezenas de mortos e feridos nesses locais.

Por volta das 21h30min, houve uma segunda explosão perto do Stade de France – outro homem-bomba se matara. Dessa vez, sabia-se que se tratava de um ataque terrorista. O presidente da França foi retirado do estádio e, com o fim da partida, os milhares de espectadores presentes foram para o centro do campo para resguardar-se e saber mais informações a respeito do que estava ocorrendo na cidade. Mais ou menos nesse mesmo horário outros fuzilamentos ocorreram nas ruas Fontaine-au-Roi e Charonne, atingindo pessoas que estavam presentes nos restaurantes La Casa Nostra e La Belle Équipe, o que atingiu mais dezenas de vítimas.

Por volta das 21h45min, a casa de espetáculos Bataclan, que recebia uma banda de rock americana, foi invadida por quatro terroristas armados com fuzis, metralhadoras e bombas. Os terroristas começaram a desferir tiros a esmo em quem se encontrava dento da Bataclan. Muitos dos presentes conseguiram fugir, mas cerca de oitenta pessoas continuaram como reféns dentro da casa de shows. Ao mesmo tempo, uma terceira explosão ocorria perto do Stade de France. Das 22h do dia 13 até a primeira hora do dia 14 de novembro, o terror dos ataques tomou conta da cidade. A casa Bataclan, ao contrário dos muitos cenários de diversão que já oferecera aos seus espectadores, tornou-se naquela madrugada um cenário de carnificina. Quando se viram cercados pela polícia, os terroristas acionaram as bombas que traziam em seu corpo e vitimaram mais de 80 pessoas. No total, 129 mortes foram confirmadas.

Esses ataques ocorreram dez meses após o massacre de 07 de janeiro, ocorrido na redação do jornal satírico Charlie Hebdo, também situado em Paris. Esse ataque ao jornal foi efetuado pelos irmãos Saïd e Chérif Kouachi, que mataram 12 pessoas – entre elas os principais membros da equipe do Charlie Hebdo. Os irmãos Kouachi estavam vinculados ao ramo da Al-Qaeda do Iêmen e suas ações contra o jornal foram diretamente associadas às sátiras que os cartunistas faziam com a figura do profeta Maomé. No mesmo dia (07 de janeiro), Amedy Coulibaly, um francês muçulmano, matou um policial na região periférica de Paris chamada Montrouge; depois seguiu para um supermercado onde matou mais quatro pessoas. Em seguida, foi morto pela polícia. Alguns dias depois, descobriu-se que Coulibaly era membro do Estado Islâmico, o mesmo grupo que elaborou e executou os atentados do dia 13 de novembro.

É importante ressaltar que Coulibaly comprou as armas que usou em seu atentado em um bairro de Bruxelas chamado de Molenbeek. Foi nesse bairro que viveram dois dos terroristas envolvidos no atentado de 13 de novembro. A polícia suspeita que um oitavo terrorista, chamado Salah Abdslam, irmão de dois dos envolvidos, tenha se refugiado nesse mesmo lugar. Alguns especialistas em contraterrorismo acreditam que esse lugar da capital belga seja um dos maiores redutos de conexões terroristas, sobretudo vinculadas às bases da Síria e do Iraque, como o Estado Islâmico.


O grupo terrorista Estado Islâmico assumiu o atentado de 13 de novembro

Outro ponto importante a se ressaltar é o teor antiocidental das declarações do Estado Islâmico, que transparecem em documentos como a carta em que é assumida a autoria do atentado em Paris. Há constantes referências aos europeus não apenas como “pagãos” e “infiéis”, mas sobretudo como “cruzados”, isto é, uma referência ao símbolo da reconquista europeia dos territórios que foram ocupados pelos muçulmanos nos séculos VII e VIII. Essa reconquista foi empreendida pelas primeiras Cruzadas cristãs. Vejamos o trecho seguinte da referida carta:

E assim oito irmãos equipados com cintos de explosivos e armas de fogo atacaram precisamente os alvos escolhidos no centro da capital da França. Esses alvos incluíram o Stade de France durante uma partida de futebol — entre os times da Alemanha e França, ambas nações cruzadas — na qual compareceu o imbecil da França (François Hollande), o Bataclan, onde centenas de pagãos se reuniram em uma festa idólatra e perversa. Ocorreram também ataques simultâneos a outros alvos no 10º, 11º e 18º distritos. Paris tremeu sob os pés de seus cruzados, e suas ruas tornaram-se estreitas para eles. O resultado dos ataques é nada menos que 200 cruzados mortos e muitos feridos. Todo louvor e o mérito pertencem a Alá.

A referência aos “cruzados” acentua o teor de ódio à religião que moldou a civilização ocidental, o cristianismo, que tem como símbolo máximo a Cruz; símbolo esse que estava estampado no peito dos cruzados medievais. Sabemos que o Estado Islâmico elimina sistematicamente os cristãos que encontram pela frente nos territórios da Síria e do Iraque. A “guerra santa” por eles promovida não é revestida de um discurso como o da Al-Qaeda – do qual eles surgiram –, que condena o Ocidente pela intervenção no Oriente Médio e por seu alto desenvolvimento econômico e tecnológico. O Estado Islâmico não tem apenas ressentimento com relação à opulência de nações como os Estados Unidos, mas deixa claro que estão combatendo um modelo de civilização pautado na tradição cristã e a liberdade que tal modelo proporcionou ao Ocidente – liberdade essa que tem por característica até permitir que se negue ou rejeite essa crença – como ocorreu a partir do século XVIII iluminista.

Não é exagero dizer que, para eles, trata-se de uma guerra civilizacional. Para tanto, não perdem a oportunidade de se valerem de trechos do Corão para validar seu ponto de vista tortuoso e absurdo, como o trecho da quinquagésima sura, intitulada Al-Harsh, que serviu como epígrafe para a carta a que nos referimos: Alá (ta'ala) disse: Eles pensaram que suas fortalezas iriam defendê-los de Alá, mas Alá veio sobre eles de onde eles não esperavam, e infundiu o terror em seus corações para que eles destruíssem suas casas através de suas próprias mãos e pelas mãos dos fiéis. Então fiquem avisados, ó povo de visão. (Al-Hashr: 2).

Vestibular

Estes atentados certamente gerarão repercussões tremendas nos próximos anos e, com grande probabilidade, poderão ser temas de vestibulares e do ENEM de 2016. A crise dos refugiados na Europa, gerada a partir da recepção da massa de imigrantes muçulmanos vindos da Síria, e de países do norte da África, se agravará ainda mais depois destes atentados, o que pode torná-lo um tema adjacente a este, haja vista que há a suspeita de que, entre estes imigrantes, possa haver mais células de terroristas – seja do Estado Islâmico ou de qualquer outra organização. Isto faz com que as já volumosas posturas xenófobas por parte de europeus se intensifiquem ainda mais e dê mais força partidários da política anti-imigração, como a defendida, na França, pela Frente Nacional Francesa, comandada por Marine Le Pen.

*Créditos da imagem: Shutterstock e Furyk Nazar

Por Me. Cláudio Fernandes