Direita e Esquerda

Os termos Direita e Esquerda geram muita polêmica nas discussões políticas atuais, mas pouco se sabe sobre a origem deles e a complexidade que comportam.
Por Cláudio Fernandes

Os termos “direita” e “esquerda” remetem ao contexto da Revolução Francesa
Os termos “direita” e “esquerda” remetem ao contexto da Revolução Francesa
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  • Qual é a origem dos termos Direita e Esquerda?

Os termos “esquerda” e “direita”, que dão a tônica das discussões políticas na atualidade, têm origem no contexto da Revolução Francesa (1789-1799). A burguesia e as camadas mais baixas da sociedade francesa da época instalaram uma Assembleia Constituinte (que durou de 1789 a 1791) a fim de elaborar uma nova Constituição para o país. Do lado direito do salão onde se realizou a Constituinte, sentaram-se os girondinos – representantes da alta burguesia –, que possuíam um viés político moderado e conciliador. Do lado esquerdo, sentaram-se os jacobinos, considerados radicais exaltados, defensores dos interesses dos trabalhadores urbanos e dos camponeses e contrários tanto à nobreza e ao clero quanto à alta burguesia moderada (para saber mais informações sobre as características dos jacobinos, clique aqui.).

A partir do século XIX, com a ascensão de correntes políticas como o socialismo e o liberalismo, houve uma progressiva delimitação do campo político com base nessa esquematização originária da França. Aqueles mais radicais na defesa da classe dos trabalhadores e demais grupos da base da pirâmide social continuaram sendo identificados como “de esquerda” – por lembrarem a postura jacobina. Por outro lado, aqueles mais moderados, frequentemente acusados de defenderem os interesses das “classes privilegiadas”, eram considerados “de direita” – pela associação com os girondinos.

O problema é que essa delimitação é simplificadora e acaba ocultando alguns pontos importantes referentes ao espectro político moderno. Vejamos alguns desses pontos!

  • A questão da ideologia

Um dos pontos que as discussões sobre as categorias “direita” e “esquerda” geralmente não abordam com profundidade é a questão da ideologia. Ideologia não significa apenas uma perspectiva sobre a realidade política, econômica e social, mas uma perspectiva sobre o próprio sentido da existência humana, sobre o que define a humanidade e, em suma, sobre qual é o seu destino. As posições ideológicas conservadora e liberal geralmente estão associadas à direita política, enquanto as ideologias progressista (como a social-democracia) e revolucionária (como o comunismo) estão associadas à esquerda.

Ocorre que, por estarem esquematicamente dentro da direita, conservadores e liberais nem sempre estão de acordo, assim como progressistas e revolucionários, por serem classificados como de esquerda, também não. Aqui está a complexidade.

  • Conservadores e Liberais vs. Progressistas e Revolucionários

O conservador tem como base ideológica a reação a qualquer postura política radical que queira subverter completamente o legado de determinada tradição. Dessa maneira, o conservador é contra, por exemplo, a descriminalização das drogas porque acredita que o uso permitido dessas substâncias pode degenerar o corpo social e comprometer os sólidos valores e virtudes de determinada comunidade. O liberal, por sua vez (mesmo sendo “de direita”, como o conservador), seria a favor da liberação das drogas porque defende a liberdade do indivíduo como principal valor ideológico, podendo também argumentar que essa liberação contribui para o fim do tráfico e da violência que o acompanha.

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Ainda seguindo esse exemplo das drogas, o social-democrata (mesmo sendo “de esquerda”) estaria próximo da postura do liberal, mas descordaria deste em outros pontos, como a questão do assistencialismo social e das políticas de justiça social. Para um liberal (tal como para um conservador), programas assistencialistas governamentais, como bolsas para populações carentes, e políticas de justiça social, como cotas para negros em universidades, são nocivos. O argumento liberal diz que tais mecanismos tornam os indivíduos dependentes do Estado, e o próprio Estado acaba valendo-se desses mecanismos para alimentar essa dependência e ter mais capacidade de controle sobre os indivíduos.

O progressista social-democrata, por sua vez, acredita que o assistencialismo e a justiça social podem ser um bom caminho para o progresso futuro, operado pelo Estado. Todavia, ao mesmo tempo, deve haver alguma política que dê condições de autonomia aos indivíduos. Já um revolucionário enxerga esses mecanismos como algo estratégico ou irrelevante, dependendo da conjuntura do país. O revolucionário pode encarar o assistencialismo social e a justiça social como ponte para um levante popular contra as “classes superiores”, que têm “dívidas históricas” com pobres, negros etc.

Para um conservador, ideologias revolucionárias, como o comunismo, são perigosas porque se fundamentam na premissa de que sabem qual é melhor futuro para a humanidade, qual é o seu destino, isto é, a sociedade sem classes, sem exploração etc. A revolução – ainda que custe a vida de milhões – é necessária para que esse destino seja alcançado. O revolucionário, por sua vez, acusa o conservadorismo de ser mantenedor do status quo de um modelo de civilização que sempre oprimiu, marginalizou e levou à morte milhões de pessoas (seja em guerras, seja por condições de precariedade etc). Por isso, a “construção do futuro” por meio da revolução seria a única opção possível.

Esses são apenas alguns exemplos de como direita e esquerda divergem e de como se aproximam em alguns pontos (para mais informações, consulte este link). O importante é saber que, no campo político democrático – garantido por leis e instituições sólidas –, é saudável que essas ideologias enfrentem-se. O que é realmente perigoso é quando um grupo político, apoiado em qualquer uma delas, tenta subverter a lei e a ordem.


Por Me. Cláudio Fernandes