Menino de 08 anos é aprovado no Vestibular da Unip em Goiás

Em 06/03/2008 09h11 , atualizado em 06/03/2008 09h22 Por Camila Mitye

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O caso de um menino de 08 anos aprovado no Vestibular da Unip (Universidade Paulista) no curso de Direito em Goiânia deixou a população e autoridades de cabelo em pé. Tudo porque a aprovação de João Victor Portellinha de Oliveira, que cursa o 5ª ano do Ensino Fundamental na escola particular Imaculada Conceição, gerou uma polêmica: O garoto é super dotado (muito inteligente) ou a prova é fácil demais?

Super dotado João Victor não é. Apesar de ter boas notas (a maioria acima de 9), o menino contou à imprensa já ter passado por deslizes, como uma nota 6,6 obtida em uma prova de inglês que fez “sem estudar”.

João pediu aos pais que o inscrevessem no vestibular da Unip de Goiânia, o que eles fizeram pelo site da universidade, na modalidade “prova agendada”, no dia 28 de fevereiro. No outro dia, 29, com sua carteira de identidade, o garoto foi até a Unip e fez a prova de múltipla escolha e Redação em um computador, numa sala de aula onde estava sozinho.

Prova “fácil”

Mesmo sem nunca ter visto conteúdos essenciais em uma prova de vestibular como Física e Química, João Victor recebeu a notícia de sua aprovação na última segunda-feira, dia 03. O menino disse à imprensa que achou a prova fácil e que antes de fazê-la apenas revisou o conteúdo estudado do 1º ao 4º ano e deu uma “olhada” em uns livros do pai. O tema da Redação, segundo João, era uma notícia de jornal que dizia sobre “pessoas que compram coisas inúteis”, a partir do qual ele redigiu uma carta.

A Unip, em nota oficial à imprensa, declarou que “O desempenho do estudante, levando em consideração sua idade e escolaridade, foi bom, especialmente na prova de redação, em que revelou boa capacidade de expressão e manejo eficiente da língua. A singeleza do conteúdo não destoava da linguagem simples, direta, coloquial, com poucos deslizes em relação à norma culta. Este fato o torna merecedor de um acompanhamento especial em seus estudos”

Lei de Diretrizes e Bases

Segundo o Conselho Estadual de Educação de Goiás (CEE-GO), o menino não pode matricular-se na Unip, pois o artigo 44, inciso II da lei federal 9394/1996 (Lei de Diretrizes de Base da Educação) diz que para cursar o ensino superior é preciso que a pessoa tenha concluído o ensino médio. No caso de João, ele não concluiu nem mesmo o Ensino Fundamental ainda.

A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Goiás mostrou-se preocupada com o caso por considerar o fato um exemplo da atual “mercantilização” do ensino jurídico no Brasil e pediu uma “imediata intervenção” do curso de Direito da Unip, pelo MEC. A ordem desconfia que o caso de João Victor não seja único na instituição e pediu uma investigação.

Matrícula?

A Universidade Paulista, primeiramente, disse que o garoto fez a prova como treineiro (modalidade em que o aluno faz a prova apenas para testar seus conhecimentos, mas, se aprovado, não pode efetuar matrícula). Mas, na terça, um dia depois da divulgação do resultado, os pais de João Victor compareceram à Unip e pagaram uma quantia de R$ 506,86, referente à matrícula do filho na instituição. Depois do vazamento dessa informação, a instituição de ensino disse que irá devolver o dinheiro aos pais e que João não pode matricular-se, já que não tem diploma de conclusão do Ensino Médio.

Juiz Federal

De acordo com a pedagoga Elen Cristine Caiado, mesmo que fosse possível a matrícula de João na Unip, isso não seria aconselhável. “A criança estaria pulando fases importantes de sua vida e isso poderia trazer conseqüências no futuro”. Elen também disse que “este procedimento que os pais realizaram, não é considerado o ideal para uma criança nesta faixa etária visto que estão interferindo no processo de formação de uma criança dentro dos padrões de normalidade, podendo acarretar problemas na formação intelectual e psicológica do menino futuramente”.

O garoto João Victor, depois do acontecido essa semana, tornou-se celebridade. Sua intenção era fazer a faculdade paralelamente a seus estudos na escola Imaculada Conceição. Dificilmente isso será permitido e seus pais ainda não declararam interesse em entrar na Justiça pedindo o direito do filho de matricular-se na Unip. Ainda assim, João não desistiu de seu sonho: quer fazer Direito e um dia tornar-se Juiz Federal.

Por Camila Mitye