Ansiedade é um desafio que muitos estudantes enfrentam, apesar de ser uma resposta normal do nosso corpo, a exacerbação desse sentimento pode se tornar patológica, atrapalhar a vida dos indivíduos e acarretar outras consequências. Lidar com essa sensação não é uma tarefa simples.
Por isso, fomos buscar conselhos e explicações com um profissional gabaritado na área. Entrevistamos Lincoln Andrade, psiquiatra com mais de 20 anos de experiência no tratamento de crises nervosas, estresse elevado, transtornos de ansiedade, pânico e depressão.
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Quais sintomas da ansiedade?
Lincoln nos explica que a ansiedade pode ser dividida (didaticamente) em duas categorias, são elas:
1- ansiedade psíquica: diretamente ligada ao pensamento
2- ansiedade somática: sensações corporais, físicas
O psiquiatra explica que essa separação existe apenas para compreendermos melhor como a ansiedade funciona, pois, na prática, elas caminham juntas. Ele explica:
"Ansiedade psíquica, a gente pode definir como uma preocupação, uma antecipação de um problema, de um desafio, de algum tipo de ameaça. Então, é aquele pensamento que fica antecipando possíveis problemas, essa ansiedade psíquica acaba sendo uma espécie de gatilho da resposta de ansiedade que uma pessoa pode ter e aí, sim, a partir disso, a pessoa acaba desenvolvendo sintomas físicos"
As sensações físicas oriundas da ansiedade são muito diversas, veja os exemplos de sintomas que Lincoln deu:
- Aumento da frequência cardíaca
- Respiração pesada ou acelerada
- Sudorese
- Alterações intestinais
- Refluxo
- Dor de cabeça
- Alterações menstruais
O psiquiatra explica que como a ansiedade afeta o sistema nervoso, os sintomas poderão ser sentidos no corpo de uma forma geral.
Como estudar com ansiedade?
A sensação de controle e a rotina são ferramentas úteis no combate a ansiedade. Lincoln explica que, na época da escola, é comum que os alunos vivam com senso de urgência, por conta das provas e demais cobranças. Mas, manter uma rotina de estudo e organizar os conteúdos para não acumularem é importante para que a ansiedade não tome conta da situação.
E se mesmo com a rotina organizada a pessoa continua ansiosa? Lincoln explica:
"Lembrando também que a ansiedade é uma resposta normal do nosso organismo diante de certas situações mais desafiadoras ou de riscos e a gente diferencia uma ansiedade normal de um transtorno de ansiedade que aí a gente está falando de uma patologia psiquiátrica e aí a questão muda de figura.
Mas, ficando dentro da ansiedade normal, primeiro: se a pessoa está muito ansiosa, ela não vai conseguir se concentrar, então, muitas vezes é melhor ela sair, dar uma volta, fazer uma caminhada, procurar alguma coisa que a relaxe antes de sentar e estudar. A outra coisa é que a pessoa tende a procrastinar quando ela fica ansiosa, o ideal é sempre começar alguma coisa, o pensamento pode se tornar um inimigo muito grande do estudante"
Lincoln diz que para ajudar a sair da inércia que a ansiedade também traz, é preciso avaliar quais matérias o aluno tem mais interesse e começar a estudar por elas para, posteriormente, passar para as disciplinas menos agradáveis.
Entretanto, o psiquiatra afirma que não há uma receita de bolo que irá caber em todas as realidades, caso o estudante saiba que a ansiedade vem com o tempo, no decorrer dos estudos, pode ser estratégico fazer o contrário da primeira proposta. Ou seja, começar pelas matérias que menos gosta para, em seguida, estudar o que da mais prazer, como uma forma de recompensa.
Por fim, o psiquiatra recomenda técnicas de relaxamento físico, como exercícios de respiração, alongamentos (principalmente nas partes superiores do corpo) e técnicas de meditação. Lincoln indica que o aluno procure a melhor estratégia para ele e tente utilizá-la quando precisar.
Ansiedade patológica, como identificar?
O médico explica que ansiedades mais intensas, são consideradas patologias e podem, inclusive, acarretar crises de pânico. Ele explica:
"Se a pessoa tem uma ansiedade patológica, aí a gente vai falar de um transtorno de pânico, se o aluno tem um episódio desse antes de uma prova, ele pode travar, ele pode ter crises...
Se a pessoa tem o quadro de ansiedade generalizada, onde algumas características bem básicas são: ansiedade antecipatória muito grande (espera sempre uma catástrofe), dificuldade de relaxamento, dores e tensão muscular, falta de sono, irritabilidade, quando isso é muito intenso, o ideal é a pessoa procurar um tratamento, antes que isso se torne um problema mais sério"
Conselhos para quem se prepara para cursos concorridos
A concorrência dos vestibulares, principalmente para medicina, também é uma causa relevante para a ansiedade. Para te ajudar a lidar com isso, Lincoln diz que o principal concorrente de um estudante é ele mesmo, pois, não adianta se preocupar com adversidades que não se tem controle sobre.
Não há como influenciar no resultado que a concorrência terá, só é possível buscar o aumento do próprio desempenho, então, não se preocupe com a concorrência e busque o aperfeiçoamento pessoal.
O psiquiatra ainda fala sobre o status que o curso de medicina carrega, segundo ele, isso pode trazer uma sensação de arrogância prejudicial, mesmo para quem já está dentro do curso. Outra ressalva feita por Lincoln é que as pessoas avaliem se elas querem realmente cursar medicina, ou se estão trilhando este caminho por pressão de terceiros.
Para finalizar, Lincoln declara:
"Se ao invés de focar em como você está, como está seu preparo, suas deficiências, o que que você tem que priorizar no estudo, você ficar com teu foco nos concorrentes e no que as pessoas vão pensar, se os outros vão ser superiores, se vai ser derrubado no vestibular e vai ter que fazer cursinho de novo, isso tudo é poluição mental que só atrapalha.
Se eu tiver que deixar uma mensagem, é - se preocupe em focar naquilo que te ajuda, então, você tem que ter o foco na solução, os seus estudos, o seu próprio desempenho. Se não, você fica com foco no problema, nos concorrentes, nas expectativas alheias, às vezes, expectativas dos familiares, que serve apenas como um ruído de fundo, como uma perturbação que não contribui em nada"
Por Tiago Vechi
Jornalista