Ausência de datas do Enem 2021 preocupa colégios e atrapalha planejamento
Estudantes também sofrem sem saber se as provas serão realizadas em 2021 ou 2022.
A falta de informações sobre a data de aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2021 atrapalha o planejamento de cursinhos e colégios, além de desmotivar muitos alunos. Até o momento, não se sabe se as provas serão realizadas este ano ou somente em 2022.
A preocupação de quem espera pelo Enem 2021 aumentou na última semana, quando o Inep publicou uma portaria que não prevê a aplicação das provas como parte das metas globais para 2021. O fato chamou a atenção de estudantes e logo chegou entre os assuntos mais comentados das redes sociais.
Por causa da repercussão, o Inep publicou uma nota afirmando que há orçamento para as provas e que todos os esforços estão feitos para que o exame seja aplicado ainda em 2021. No entanto, o Edital do Enem 2021 ainda não foi divulgado.
O fato é que a publicação do cronograma está bem atrasada, já que geralmente isso acontece em março. O exame tem sofrido com os prazos por causa da pandemia de Covid-19, o que motivou o adiamento das provas de 2020 para 2021 e fez com os resultados da última edição saíssem apenas em 29 de março.
Colégios reclamam
Para o coordenador do Cursinho da Poli, em São Paulo, Gilberto Alvarez, o descaso com os estudantes que é gerado pela falta de informação é o que preocupa. "É inconcebível que um exame, que é um dos maiores do mundo, com a importância que tem e com a quantidade de pessoas que dependem dele, não ter data".
"É uma sequência de indefinições, uma sequência de erros e de danos. Educação necessita de planejamento. Quando você não tem uma perspectiva da nova matriz de referência do Enem, quando os prazos não são cumpridos, isso compromete toda a política de acesso ao ensino superior. É um desastre." (Gilberto Alvarez, coordenador do Cursinho da Poli)
De acordo com diretor-geral do Curso Pré-Vestibular Popular Razão1, cursinho comunitário no Rio de Janeiro, Danilo de Lima, os efeitos de um adiamento do Enem podem ser sentidos ainda na sala de aula. No ano passado, o cursinho se adaptou e aumentou a duração do preparatório, mas muitos alunos ficaram desmotivados e saíram do pre-vestibular e, por isso, a evasão é uma preocupação caso as provas passem para 2022.
O diretor pedagógico do Curso Oficina do Estudante de Campinas (SP), Daniel Cecílio, compartilha da preocupação com a indefinição com a data do Enem 2021 e ressalta que muitos alunos podem deixar de ingressar no ensino superior federal se as provas não forem realizadas este ano. "Pensando de forma mais ampla ainda, o impacto disso é a possibilidade de alguns estudantes não fazerem uma universidade pública, gratuita e de qualidade, o que, entre outros fatores, pode gerar impacto econômico e social na vida desse aluno e da sociedade como um todo”, destaca.
"Torna-se um efeito em cadeia, já que esses alunos terão de correr atrás da sua formação para que não cheguem também atrasados ao mercado de trabalho. Do ponto de vista da universidade, teremos atrasos nas pesquisas, nas publicações e em toda produção universitária”, Antunes Rafael, diretor pedagógico do Colégio Oficina do Estudante de Campinas (SP).
Adaptação do conteúdo
No ano passado, os estudantes que se preparavam para o Enem tiveram seus planejamentos modificados com o adiamento das provas para 2021. Muitos cursinhos ampliaram o período do preparatório para atender aos alunos, outros abriram novas turmas no tempo extra.
Caso o Enem 2021 seja adiado para 2022, os coordenadores já pensam em alternativas para que os estudantes não sejam prejudicados na preparação. No entanto, a ampliação da duração das turmas sobrecarrega os alunos e professores.
Segundo Antunes Rafael, diretor pedagógico do Colégio Oficina do Estudante de Campinas (SP), a tendência é que escolas e cursinhos tenham que rever seus calendários para fazer com que o conteúdo disponível dure até a proximidade do exame e que não haja lacunas na preparação. "Isso é bastante prejudicial porque os materiais didáticos não foram pensados para um trabalho estendido e sim programados para nove meses de revisão teórica e aplicação de simulados", ressalta.
No caso do cursinho da Poli, o planejamento já está feito para terminar em dezembro e, caso necessário, o calendário pode ser prorrogado até a semana do Enem, semelhante ao que foi feito no ano passado.
Para Danilo do Razão1, mesmo com as dificuldades é possível tirar o melhor da situação, apesar do risco de evasão. Com uma programação que costuma ir até outubro ou novembro, o projeto já se prepara para a adaptação caso as provas sejam em 2022. "Ganhamos mais tempo para trabalhar os conteúdos com os nossos alunos - e até a possibilidade de abrirmos uma nova turma, com um cronograma adaptado a essa realidade", afirma.
Apoio psicológico
Em um cenário incerto como o do Enem 2021, cuidar da saúde mental e ter motivação não é fácil. No entanto, escolas e cursinhos reforçam a importância que os profissionais das áreas de apoio pedagógico e/ou psicológico têm para que os estudantes continuem os estudos sem perder o foco.
"Se tem uma questão militante hoje de todos os profissionais de educação é que esses estudantes não saiam da escola, não deixem de estudar." (Gilberto Alvarez)
De acordo com Antunes Rafael, é importante que os professores consigam também manter a calma para que possam acolher os estudantes. Daniel Cecílio, também do Oficina do Estudante, diz que "além da preparação no que diz respeito aos conteúdos, é fundamental auxiliar na motivação dos estudantes, explicitando que o foco tem que ser mantido no dia a dia".
E o que dizem os estudantes?
A estudante do curso Oficina do Estudante, Juliana Mayumi Iwahashi, de 18 anos, lembra o impacto que o adiamento do Enem pode ter para os milhões de estudantes que estudam exclusivamente para o exame, não tendo um plano B como outros vestibulares, já que a pontuação é utilizada para o Sistema de Seleção Unificada (SiSU), Programa Universidade Para Todos (ProUni) e Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).
Já Yasmin Ferreira, de 18 anos, também do Oficina do Estudante, lembra que a ausência do Enem em 2021 pode resultar no fim da adesão de algumas instituições ao SiSU e a volta de vestibulares já extintos, o que restringiria o acesso de pessoas de várias partes do país. “Isso vai mudar a logística e opção de muitos por qual curso fazer e
onde estudar, porque exclui a possibilidade de estudantes tentarem instituições de ensino superior de outro estado sem precisar viajar para prestar o vestibular. Quem não tem
universidade boa perto, sai mais prejudicado”, destaca.