O racismo é uma problemática social estrutural que se manifesta em diferentes situações e contextos. No Brasil, pessoas negras e indígenas são afetadas diariamente por práticas racistas que provocam marcas físicas e psicológicas quando não tiram suas vidas.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pretos e pardos representavam 56,2% da população brasileira em 2019. A grande proporção de pessoas negras no país não é capaz de frear o sistema racista.
A construção do racismo se estabelece em um processo ideológico, prático e discursivo de inferiorização e violência. Sua característica estrutural é consolidada quando o racismo passa a ocorrer em todos os espaços sociais, de diferentes formas, seja no impedimento, silenciamento, ofensa ou na violência corporal.
No último sábado, 30 de julho, Títi e Bless, filhos da atriz Giovanna Ewbank e do ator Bruno Gagliasso, foram vítimas de racismo em um restaurante na Costa de Caparica, em Portugal. O caso ganhou repercussão na imprensa e na internet. É importante salientar que o casal é branco e popular na mídia, o que reforça a proporção que o caso tomou.
Por outro lado, milhares de famílias de pessoas negras vítimas de racismo são negligenciadas e silenciadas, não sendo ouvidas ou tendo suas acusações validadas.
A criminalização da prática não se mostra suficiente para a conscientização e redução de violências como essa, sendo urgente fortalecer políticas e ações que asseguram a vida de pessoas negras no Brasil.
A infância é uma fase essencial para o desenvolvimento humano, tanto cognitivo quanto físico. Violências ocasionadas pelo racismo prejudicam esse processo por afetarem aspectos emocionais das crianças. Entre as consequências disso está a evasão escolar, já que a escola passa a ser um local que sujeita crianças negras ao sofrimento.
Diante disso, é fundamental pensar a existência e impactos do racismo no ambiente escolar. O quanto essa manifestação de violência pode afetar a vida de meninos e meninas negras, uma vez que elas estão ali para aprender e se integrar socialmente.
Educação antirracista
A educação é o principal mecanismo de combate ao racismo. A partir dela é possível atuar tanto na conscientização acerca dos danos que a prática provoca quanto no compartilhamento de saberes, culturas e histórias de povos africanos e indígenas.
A Lei nº 10.639, de janeiro de 2003, tornou obrigatório o ensino sobre a História e Cultura Afro-brasileira nas etapas fundamental e médio. Essa legislação reforça a importância de compartilhar e fortalecer as narrativas desses povos.
Contar histórias e fomentar narrativas de nações do continente africano e das comunidades indígenas contribui nos sentimentos de pertencimento e representação.
No contexto escolar, esses ensinamentos se tornam fundamentais às crianças negras e indígenas, pois elas passam a conhecer as histórias em que elas podem ser vistas e serem reconhecidas.
Evidentemente que a importância do ensino antirracista não fica apenas no campo da representação, mas é amplo e essencial para todas as pessoas. Compreender outras narrativas que não as eurocentradas (história dos povos europeus) é possibilitar conhecer as diferentes histórias possíveis.
Saiba mais sobre o eurocentrismo
O fortalecimento de uma educação antirracista é essencial para a combater o trabalho infantil e a evasão escolar, realidades que são comuns quando se trata de crianças negras.
De acordo com a Pesquisa Nacional de Amostra por Domicíio (PNAD) Contínua sobre Trabalho de Crianças e Adolescentes realizada pelo IBGE, em dezembro de 2019, 66,1% das crianças em situação de trabalho infantil eram pretas ou pardas. Eram cerca de mais de 1,1 milhão de crianças de 5 a 17 anos no país.
O trabalho infantil afeta diretamente a aprendizagem das crianças, uma vez que a educação não se torna a prioridade quando deveria ser.
O racismo provoca desigualdades em diversos campos sociais. A PNAD Contínua de Educação 2019 ressalta que negros passam, em média, dois anos a menos na escola do que brancos.
Na mesma pesquisa são evidenciados os seguintes resultados:
- O analfabetismo é quase três vezes maior entre pessoas negras. São quase 10 a cada 100 negros com mais de 15 anos que não sabem ler ou escrever. Na população branca essa proporção é de 3,6 para 100.
- De 10 milhões de brasileiros, entre 14 e 29 anos, que saíram da escola (não completaram a educação básica), 71,7% são pretos ou pardos. A maioria afirmou, na pesquisa, que o motivo foi a necessidade de trabalhar.
Essa realidade mostra o quanto o racismo pode afetar a vida social e econômica, sem contar todos os aspectos psicológicos e subjetivos.
Torna-se cada vez mais fundamental que diferentes sujeitos sociais atuem em contramão a essa crueldade.
O respeito às diferenças e o fortalecimento da educação são cruciais nessa caminhada, que apesar dos - atrasados - avanços, apresenta-se cada vez mais árdua e longa.