Políticas de cotas e sua relevância para combater a desigualdade

Com as recentes mudanças na política de cotas, o debate sobre a sua importância ganha notoriedade.
Em 24/11/2023 13h35 , atualizado em 27/11/2023 07h25 Por Tiago Vechi

Jovens de várias etnias sorrindo na sala de aula
A política de cotas é analisada a cada dez anos
Crédito da Imagem: Shutterstock
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A nova política de cotas foi aprovada este mês, novembro de 2023. Com algumas mudanças no texto da lei, mas o objetivo continua o mesmo, combater a desigualdade na educação brasileira

Partindo desta ideia, penso que houve acertos e houve erros, ambos relevantes. A política de cotas é essencial para o desenvolvimento do Brasil, mas faltam políticas de permanência e a comunicação do governo não atende às principais dúvidas da população acerca do tema, o que gera muitos ruídos relacionados às cotas.

Entretanto, nada disso diminuí a relevância da reserva de vagas nas universidades brasileiras. Importante dizer que a política de cotas é acompanhada de uma expansão dos quadros de alunos nas universidades, o que torna falacioso o argumento que alunos cotistas “roubam” vagas de não cotistas.

Importância da política de cotas

Qual é a sua relação com a educação? É importante refletirmos sobre isso, ainda mais em um país desigual, como é o Brasil. 

Para ilustrar o que quero dizer, gostaria, agora, de pedir para você criar uma sequência de imagens em sua cabeça.

Pense em um jovem acordado pelos pais em seu próprio quarto, após levantar de sua cama quente, ele vai até a cozinha, toma um bom café da manhã, desce até a garagem, entra no carro de seu pai e vai para sua escola. 

Chegando lá, ele senta em uma carteira confortável, com sua mochila cheia de livros e em uma sala com ar-condicionado. Os seus professores são todos bem estudados e a integridade física deste jovem, em momento algum, corre riscos.

Créditos: Shutterstock

Agora, pense em outro contexto.

Um jovem acorda, sozinho, em um colchão velho, que já não lhe cabe mais, come um pão com manteiga (se muito), corre para pegar um ônibus lotado, chega em uma escola que está caindo aos pedaços, sem sequer um ventilador e assiste aulas de professores sobrecarregados, que muitas vezes não são nem formados na matéria que ministram.

Créditos: Shutterstock

Essas são duas hipóteses para efeito de comparação, entretanto, é inegável que estas distâncias sociais existem na nossa realidade. Agora, te pergunto novamente, esses dois jovens apresentados, tem condições de competir um com o outro por uma vaga na universidade?

Percebem que não é uma questão de capacidade intelectual? Como muitos alegam ao se posicionarem contra a política de cotas.

Não há como comparar o desenvolvimento educacional de diferentes classes econômicas no Brasil, existe um sistema (que não posso afirmar categoricamente que funciona de maneira intencional) que perpetua a pobreza, a miséria no país e a principal ferramenta deste mecanismo é o sucateamento da educação.

Pois, se os jovens pobres tiverem acesso ao conhecimento, à educação, inevitavelmente, seus potenciais (enormes, diga-se de passagem) seriam bem aproveitados. Quantos doutores, cientistas, astrônomos e médicos nós jogamos na sarjeta sem sequer lhes dar uma chance?

Por isso, a política de cotas se faz tão essencial. É preciso, sim, equiparar as oportunidades. É preciso, sim, reservar vagas para alunos de baixa renda.

E nesse momento, nem argumento sobre a dívida histórica do país com a população negra e pobre, que é, também, um fato. Apelo para a humanidade de quem ainda ataca às cotas no país e peço uma reflexão, quantos adolescentes e crianças ainda vão morrer sem acessar uma educação de qualidade?