Você está num ponto de ônibus e uma senhora lhe pergunta: qual é aquele ônibus que está vindo? Educadamente você responde, pensando que aquela idosa aparentando uns 65 anos pode ter problemas de visão. Mas para sua surpresa vem ali outro ônibus e ela faz a mesma pergunta. Se esta situação acontecer contigo, não perca a paciência e seja cordial, pois esta senhora, como tantos outros cidadãos deste país, pode estar enquadrada em uma amarga realidade: o analfabetismo.
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) relacionada ao ano de 2007 e divulgada nesta semana, revela o que todos nós já sabemos: a educação no Brasil ainda tem muito que melhorar. De acordo com a coleta de dados, feita pelo IBGE, 14 milhões de brasileiros são analfabetos, o que representa 10% dos habitantes com mais de 15 anos. Em 1992, este percentual era de 32%. Mas de 2005 a 2007, a queda foi mínima, não chegando a 2%.
O que isto significa? Que será praticamente impossível chegar a meta firmada durante a Conferência Mundial de Educação, realizada no ano de 2000, na cidade de Dacar, no Senegal. Nela, o Brasil e mais 128 países assinaram um pacto para melhor a qualidade de ensino. Nosso governo se comprometeu, por exemplo, em reduzir a taxa de analfabetismo pela metade até 2015, ou seja, até lá apenas 6,7% da nossa população ainda não saberá ler ou escrever.
Para tentar amenizar o problema, o governo federal criou o programa Brasil Alfabetizado, que consiste em oferecer apoio técnico e financeiro para que estados e municípios criem turmas específicas para jovens e adultos. Este ano, a previsão é de atender 2,2 milhões de pessoas. Mas o próprio MEC aponta barreiras para que teoria e prática caminhem juntas. A principal, segundo o Ministério, vem do próprio analfabeto, que tem pouca confiança na sua capacidade de aprendizado.
Para erradicar o problema é preciso investir na educação para jovens e adultos
Os dados levantados pelo IBGE revelam ainda que a maioria dos habitantes que estão nesta situação estão em idade avançada, ou seja, com mais de 45 anos. Só para se ter uma idéia da gravidade, mais de um terço da terceira idade brasileira não sabe ler nem escrever. O analfabetismo entre jovens pode até ter caído, mas entre os idosos vem diminuindo lentamente, conforme a taxa de mortalidade desta faixa etária.
Para o pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Marcelo Medeiros, as reduções recentes das taxas de analfabetismo ocorreram não porque os brasileiros mais velhos aprenderam a ler e a escrever, mas porque esses idosos morreram.
“A taxa de analfabetismo cai fundamentalmente entre os adultos por questões demográficas. Esse analfabetismo que foi criado no passado se mantém porque é muito difícil e caro educar adultos. Esse é um analfabetismo que é triste e sobre o qual a gente tem pouco poder de ação”, acrescenta Marcelo, em entrevista concedida à Agência Brasil.
O analfabetismo atinge maiores patamares na terceira idade
Outro entrave que dificulta a queda nestes valores é o conhecido analfabetismo funcional. Neste patamar se enquadram aqueles que tiveram menos de quatro anos de estudos regulares e, por causa disso, lê e escreve frases simples, mas não é capaz de interpretar textos e colocar idéias no papel. O que os dados apontam é que um grande contingente de crianças e jovens estão deixando as carteiras escolares sem mesmo concluir o Ensino Fundamental.
Não saber ler nem escrever acarreta sérios problemas sociais que todos nós estamos cansados de saber. Enganam-se aqueles que pensam que o analfabeto tem problemas apenas em situações corriqueiras, como pegar o ônibus. Ele é vítima de preconceito e situações constrangedoras. Além disso, são impedidos muitas vezes de concorrer a uma vaga no mercado de trabalho. E é aí que começa o efeito dominó: aquele que não sabe ler não tem emprego digno e tem dificuldades para sustentar a família. O desespero pode levar à criminalidade, drogas, mendicância e por aí vai.
Até quando? Não se sabe! Mesmo tentando maquiar dados, o governo não consegue esconder a triste realidade vivida por milhões de brasileiros, que veem na falta de boa escolaridade a raiz da maioria dos seus problemas. Até porque se a educação oferecida fosse de qualidade, você, vestibulando oriundo de escola pública, não teria tantas dificuldades para ingressar numa universidade pública. Se suas chances são restritas, imaginem as dos analfabetos, que enchem as filas dos programas sociais em busca de medidas rápidas criadas por aqueles que querem apenas tapar o sol com a peneira.
Então opine! Será que até 2015 estes 14 milhões de brasileiros analfabetos serão reduzidos a 7 milhões? Quais as principais iniciativas que devem ser tomadas pelo governo para erradicar este grave problema social?