Gás natural e crise na Bolívia: o que isso tem a ver com o Brasil?

Em 13/09/2008 10h04 Por Gabriele Pires Alves

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Como entender a crise na Bolívia? O país é tomado por revoltas contra as investidas estrangeiras, sobretudo no setor de gás natural, mas tudo parece tão repetitivo que não conseguimos identificar o real motivo de tanto desentendimento dentro de uma nação.


Gás natural é ecologicamente correto e mais barato

A Bolívia goza de uma relativa estabilidade há cerca de 20 anos, mas nem sempre foi assim. Eleições diretas só começaram a ser realizadas a partir de 1985 e a divisão partidária oferece poucas opções para a população. No âmbito econômico, pode-se dizer que os bolivianos não estavam preparados para o choque econômico de 1985, uma tentativa para controlar a inflação que beirava os 24 mil por cento. Na época era comum ouvir que esta é “a dor a curto prazo para ganhos a longo prazo”. Duas décadas mais tarde, os ganhos são quase nulos.

Alguns pontos melhoraram. A taxa de mortalidade infantil, por exemplo, diminuiu. Mas o poder aquisitivo da população está em baixa. Na América Latina, a Bolívia é o país mais pobre, sendo que aproximadamente 30% das pessoas sobrevivem com US$ 1 por dia.

Gás Natural

A realidade de pobreza faz os bolivianos acreditarem que essa miséria advém da exploração das reservas naturais por países estrangeiros. Daí surgem movimentos reivindicadores da nacionalização do gás.


Tubulações utilizadas para transportar gás natural

O gás natural é uma mistura de hidrocarbonetos leves. Não possui cheiro ou cor, não é tóxico e é mais leve que o ar. A preferência pela utilização desse gás surge em meio à necessidade de usufruir de uma fonte de energia limpa, que não cause prejuízos para a natureza, substituindo combustíveis mais poluentes em indústrias como óleos combustíveis, lenha e carvão. Esse gás colabora para a redução do desmatamento e do tráfego de caminhões que transportam óleos combustíveis para as indústrias.

Além dessas vantagens, o gás natural conta com uma grande quantidade de reservas, o que garantiria a aplicação do combustível em nosso dia-a-dia por um longo período, melhorando a qualidade de vida das pessoas. Sua distribuição é feita de forma segura por meio de uma rede de tubos que conduz o gás, e já que é mais leve do que o ar não necessita de estocagem. Usando o gás natural, o meio ambiente agradece.

Crise Energética

Grupos sociais representando indígenas, agricultores, esquerdistas, mineiros, estudantes e bolivianos de baixa renda, impulsionados nem sempre pelos mesmos interesses, consentem que o padrão político adotado pela Bolívia fracassou.


Uma plataforma pode produzir 7,2 milhões de metros cúbicos de gás por dia

Nesta semana, civis invadiram e saquearam edifícios públicos na Bolívia. Os protestos acabaram por provocar a interrupção do fornecimento de gás para o Brasil e para a Argentina. A intenção dos manifestantes é demonstrar a insatisfação frente à nova constituição aprovada pela Assembléia Constituinte no dia 25 de novembro do ano passado. O texto prevê, entre outros pontos, a reeleição para todo político eleito.

Esse cenário acabou provocando um problema diplomático. O presidente Evo Morales expulsou o diplomata americano Philip Goldberg sob a acusação de instigar o separatismo nas províncias oposicionistas da Bolívia. Segundo o ministro da Presidência, Juan Ramón Quintana, Morales não romperá relações com os Estados Unidos. Mas será que essa promessa vai ser cumprida?

Brasil

O governo brasileiro importa oito bilhões de metros de gás boliviano por ano. A redução desse percentual provocaria queda no consumo final e geração de energia, prejudicando as indústrias e o andamento da economia brasileira.

E é nesse campo de batalha, onde a energia é considerada o bem mais precioso do país, que a simbologia adquire rumores de combates futuros. Em entrevista ao site BBC Brasil, o consultor de energia Mauricio Medina diz que, para a Bolívia atender a demanda externa e não deixar faltar gás, é preciso aumentar a produção em 20 milhões de metros num período de dois ou três anos. No entanto, não existem perspectivas para tal avanço.

E você, o que acha que a Bolívia deve fazer para conter a crise do gás? E o Brasil? Dê sua opinião!