Com a facilidade de acesso a novas tecnologias cada vez mais rápidas, além dos novos e modernos aparelhos celulares móveis com internet, que permitem postagens instantâneas nas redes sociais de cliques pessoais, tornou-se cada vez mais comum acompanharmos o dia a dia, as viagens, os acontecimentos inusitados e momentos importantes da vida das pessoas.
No entanto, as frustrações, os problemas, as dificuldades dentre outras adversidades, nunca (nunca mesmo!) estão exibidos nestas imagens. E a expectativa é exatamente essa. Mostrar como a sua vida é melhor que a minha, como sou mais cult que você, como viajo e frequento melhores lugares do que as outras pessoas. Não é verdade?
Desde que essa onda se tornou habitual em nosso cotidiano, vários questionamentos já foram levantados: do comportamento exagerado dos usuários nas redes, da falta de interação pessoal trocada pela virtual, na busca por uma quantidade maior de likes, compartilhamentos e popularidade nestes canais. Quem nunca ouviu a expressão: “a internet aproxima que está longe e afasta quem está perto.”
Mas um outro aspecto foi levantado nas últimas semanas, depois que uma foto começou a circular na internet. Na imagem, uma senhorinha aparece estendida sobre as grades da pré-estreia do novo filme Black Mass, com nome no Brasil de Aliança do Crime, e que tem o ator Johnny Depp no elenco. O evento aconteceu em 15 de setembro, em Brookline, no estado americano de Massachusetts.
Na imagem, publicada no jornal The Boston Globe, e depois compartilhada milhares de vezes nas redes sociais (para variar), a senhora aparece de mãos vazias na grade do evento, apenas apreciando tudo que ali acontece em meio a um mar de aparelhos celulares smartphones na mão das pessoas, que estão eufóricas e desesperadas, disparando cliques sem parar na busca pela melhor imagem, pelo melhor clique do astro hollywoodiano presente no local. Até o dia em que escrevia este texto, a mensagem já havia sido retuitada mais de 22 mil vezes.
Senhora em meio a multidão de celulares e pessoas no registro feito pelo jornal The Boston Globe
Um dos perfis no Twitter que compartilhou a imagem foi o do fotógrafo espanhol Miguel Moneratti, que comentou a seguinte frase: “Estamos perdendo a capacidade de desfrutar de momentos importantes”. Desde o dia em que li esta frase fiquei pensando sobre isso. Será que estamos desaprendendo a arte de viver o momento sem antes registrá-lo? Não há como apreciar algo ou alguma coisa sem antes fotografar e pensar na divulgação?
Se levarmos em conta todo o contexto citado acima, a própria imagem da senhorinha ainda não identificada e a proliferação de selfies vistas nos últimos anos, a afirmação de Moneratti vem muito a calhar, já que não há mais limites (ou as pessoas que estão sem limite?) para o uso exacerbado dos aparelhos celulares e as devidas postagens.
Há ainda casos mais graves, onde não há nada a ser desfrutado, mas sim respeitado. E mesmo nessas situações delicadas, há aqueles que acham o momento apropriado para tais registros. Difícil não se lembrar da trágica metralhadora de selfies feitas por curiosos no velório do político e então candidato a presidência da república Eduardo Campos, inclusive com a viúva e seus filhos, sem a menor sensibilidade ao momento de dor e consternação de toda a família.
Ou ainda pior, as fotos e vídeo feitos por funcionários da clínica responsável pela preparação do corpo do cantor sertanejo Cristiano Araújo, morto recentemente em um trágico acidente de carro, e divulgadas na internet sem nenhum respeito aos familiares. Nessas horas é fácil acreditar que o fim do mundo está próximo de verdade.
Acho que a bem da verdade é esta: estamos sem sensibilidade. Sem capacidade de pensar no outro. Sem capacidade de deixar o narcisismo e o egocentrismo de lado para apenas viver o que está diante de nós agora, naquele instante, e não para o registro no Instagram.
Não, esse momento que você luta para registrar da melhor forma não será eternizado em sua rede social. Ele permanecerá ali até que outra modinha mais atual e moderna venha te fisgar e você a abandone junto com suas publicações. Ou você tem salvo todas as suas fotos publicadas no falecido Orkut?
É preciso repensar as posturas. Avaliar as ações. Melhorar nossa sensibilidade. Espero que ainda dê tempo das pessoas se lembrarem como elas aproveitavam e curtiam o momento antes de toda essa tecnologia existir. E que todas selfies e redes sociais não nos façam de zumbis para sempre.
E você, leitor? Acha que estamos perdendo a capacidade de desfrutar realmente dos momentos? Deixe sua opinião nos comentários!