Liberdade ilimitada ou opressão deliberada? - Banco de redações

    O recente e trágico atentado à Redação do Charlie Hebdo suscitou diversos questionamentos polêmicos. O maior deles, certamente(,) é o da possibilidade da catástrofe ter sido evitada, caso os editores da revista soubessem medir os limites na divulgação de suas opiniões; algo relativamente simples que, no entanto, julgaram inútil, em sua equivocada crença de que liberdade de expressão se equivaleria ao direito soberano de insultar tudo que desejassem.

    Uma parcela da população defende que para (a) liberdade de expressão não há limites, pois esses seriam decisivos para aniquilá-la e transformá-la em sujeição, (;) porém é inadequado pensar assim, pois ao que se chama sujeição, na realidade se encontra a Ética exigida pela vida em sociedade, que é a barreira que (há) entre o direito de falar e o dever de respeitar. Na ausência (de) respeito, a violência é imediata. Porém é muito possível, em um país democrático, criticar ações, pessoas, crenças ou costumes; sem necessidade de humilhá-los, rebaixá-los ou desonrá-los para isso - basta utilizar argumentos em vez de deboche, ironia em vez de escárnio, vocábulos em vez de agressão verbal. Os maiores veículos de informação do mundo fazem isso, e talvez por isso mesmo sejam os maiores veículos – já dizia Goethe que uma atividade sem limites acaba em bancarrota.

    Além disso, sendo a liberdade de expressão inerente a um regime democrático, defender o direito inalienável de insultar e oprimir é, no mínimo, paradoxal, pois remete a à ditatura. É preciso agir eticamente e, na liberdade de pensar, selecionar o que dizer para não ferir, com discursos opressores, a fé, os costumes ou a própria essência da vida de determinados grupos; do contrário, haverá revolta e desordem, como consequência da transformação da liberdade de expressão, na liberdade individual de violar os demais.  

    Portanto, conclui-se que a liberdade de uns termina quando violenta a liberdade de outros, e se todos souberem agir eticamente para selecionar opiniões que não mutilem moralmente os demais, tragédias como a do Charlie Hebdo seriam certamente evitadas, vigorando a deferência recíproca.