Uma tragédia anunciada - Banco de redações

      As sociedades sempre se fixaram perto de fontes hídricas, porque toda atividade executada pelo homem necessita direta ou indiretamente de água. Com a urbanização e o aumento populacional, esse bem natural sofreu desgaste pela ação antrópica.  Atualmente, a indisponibilidade (de) água é motivo de alerta. No Brasil, o começo de 2014 representou o maior período de estiagem dos últimos 84 anos. Como resultado, o calor e a falta de chuvas deixaram São Paulo à beira de um colapso hídrico.

   Entretanto, a culpa não foi só do clima. O fato de cidades estarem com insuficiência de água aponta para a falência de um modelo de gestão. Há mais de 10 anos o sistema Cantareira dá sinais de esgotamento, e desde a sua construção, em 1970, nenhuma obra de grande porte foi executada na área.  Do mesmo modo, a urbanização do sudeste se dá de forma acelerada, e 20% da população brasileira está residida reside nessa região. Com isso, o intenso processo de desenvolvimento requer políticas efetivas de preservação e melhor aproveitamento da água. Porém, em 2013, por exemplo, apenas 16,8% do total previsto para investimentos no saneamento básico foram de fato aplicados.

           Essa crise na prestação de serviços exemplificada pelos números tem uma explicação prosaica.  O modelo de gestão pública orienta-se para viabilizar o maior lucro possível às empresas que executam  tal trabalho.   Assim, o Estado é comandado pelos interesses econômicos e age a favor deles. A simbiose entre governos e empresas se aprofunda com o financiamento por indústrias privadas das campanhas eleitorais. A grande vilã não é a falta de chuvas, mas o desrespeito com o bem público.

      Portanto, espera-se que tal crise administrativa e social sirva para fazer com que o Estado e o cidadão deem a devida importância ao tema e criem, juntos , ações preventivas. Além disso, deve haver uma discussão acerca do manuseio técnico da empresa que é responsável  pelo abastecimento de água em São Paulo. Dessa forma, a água precisa ser administrada não em prol do capital, mas da cidadania.