Sobre consumismo, segregação e a onda de "rolezinhos" - Banco de redações

O recente fenômeno dos “rolezinhos” engendra opiniões diversas na sociedade brasileira. O movimento,iniciado em São Paulo,é caracterizado por encontros de jovens, marcados online, em shoppings centers. Em alguns casos, as reuniões contam com milhares de participantes. O perfil dos integrantes do movimento chama atenção. São jovens e adolescentes oriundos de periferias, comumente fãs do “estilo funk”.

Não foi definida voz ou bandeira a frente da mobilização. É difícil crer, entretanto, que a escolha dos shoppings como local de agrupamento é mera coincidência. Estes estabelecimentos, já denominados “catedrais de consumo”(,) são fortes representantes da globalização e da avidez por bens materiais que se presencia hoje. Outrossim, tais espaços são, de certa forma, reservados aos de maior poder aquisitivo, menos pelo impedimento formal que pela barreira imposta pela desigualdade social. Talvez, exista sob a afirmação da procura por diversão, um anseio de revelar a força das classes populares, mostrando-se em espaços que lhes parecem, por vezes, inacessíveis.

Também devem ser consideradas a reação das autoridades e a opinião pública. Alguns lojistas assustados procuram a polícia e pedem proibição do trânsito dessas pessoas nos centros comerciais. Contudo, a proposta contraria o direito de ir e vir previsto pela Constituição. Além disso, o simples ato de ir ao shopping em grupo não é uma infração à lei. Expulsar indivíduos porque não se adequam ao perfil socioeconômico e cultural preconizado pelos comerciantes é nada menos que discriminação. Deve-se ressaltar ainda que a repressão legal pode mudar os rumos do movimento, de forma a deflagrar conflitos graves.

A nova onda de passeios é um compêndio do Brasil atual, repleto de contradições. Modismo passageiro ou não, os “rolezinhos” representam, de certa forma, a ânsia popular por voz e espaço, já manifestada em junho de 2012 2013. Corre-se o risco de que estas massas tornem-se à violência, e até que se associem a organizações criminosas. Deve-se mentalizar, no entanto, o fato de que nenhuma reação do Estado silenciará os movimentos, até que a população seja, efetivamente, atendida.