Litros e mais litros de puro oportunismo - Banco de redações

Conquanto o Brasil disponha de água potável em abundância, sabe-se que a distribuição dela no país não é uniforme, havendo regiões marcadas por períodos de severas secas e pela intermitência de seus rios. Soluções para tal questão já têm sido discutidas desde a época imperial, destacando-se o atualmente intitulado "Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional".

Criada ainda durante o regime militar, tal proposta passou por diversas modificações e hoje integra agenda [a agenda] desenvolvimentista do governo federal, que prevê investimento de cerca de 8,5 bilhões de reais nas obras, sob justificativa de que erradicarão a seca em vastas áreas antes por ela castigadas e beneficiarão a produção agroindustrial e a carcinocultura, gerando empregos diretos e indiretos.

Ignoram-se nos discursos políticos, contudo, possíveis prejuízos causados a ecossistemas ali existentes e a hidrelétricas instaladas ao longo da bacia, que abastecem parte significativa da região e que, já havendo previamente gerado altos custos e danos ambientais visando ao desenvolvimento, não podem ter sua produção posta em risco em função de novos projetos que apresentem as mesmas promessas, cabendo, do contrário, questionar que espécie de progresso se está alcançando.

Além disso, o reconhecido geógrafo Aziz Ab'Saber tem demonstrado em pesquisas que os mais beneficiados pela medida serão, na verdade, os latifundiários, enquanto que a [enquanto a] população de baixa renda e os pequenos hortifruticultores podem até mesmo ser prejudicados pela alteração no regime de cheias, e [é] ainda exposto que um percentual ínfimo da população residente no semi-árido [semiárido] será atendido, de modo que é mentiroso por parte do governo afirmar que a obra extinguirá a seca no nordeste brasileiro.

Denota-se assim uma carência de estudos geográficos consistentes que deem embasamento ao projeto e justifiquem (sem a tamanha superficialidade com que o fez o governo) uma construção tão cara e complexa, além de uma tentativa oportunista de mascarar uma obra de interesse das elites como uma medida de apoio à população carente, que configura mais um ato do endêmico populismo paternalista brasileiro.