Juízos de valor - Banco de redações

Existe uma crença (um mito, para ser mais coerente) desde as mais remotas das eras, de que os detentores de maior poder assumem não só as riquezas, como também uma forma correta da língua, colocada sobre um altar onde só os mais instruídos e poderosos tem o poder de tocar. Desde Platão, Demócrito e na antiga Roma existe uma “plutocracia linguística”. Mas por que isso ocorre?

De onde provém o sentimento de verdade e perfeição? Esta pergunta já foi indagada até mesmo por Nietzsche e continua sendo, até hoje, um grande mártir para os sociólogos e afins. Contudo, não entraremos em questões existencialistas, e nos dediquemos apenas à linha do preconceito linguístico. Para muitos, presenciar conversas de falantes da língua portuguesa onde se ouve: “paguei dez real num bolo de cenôra, cádequê é mió que nada”, pode ser motivo para risadas.

A transferência do prestígio das grandes metrópoles para a língua nada tem de intrinsecamente superiores às demais. Como diz Stella Maria em “Educação em língua materna”, esse prestígio que adquirem é resultado de fatores políticos e econômicos, e que isso ocorre em diversos países. Em seu livro, ela cita exemplo de que na França, o linguajar que possui maior status é o falado em Paris, onde explodiu a Revolução Francesa e tornou-se uma metrópole do país, onde a corte estabeleceu-se por muito tempo.

No Brasil, acredito que o maior preconceito seja o da língua urbana com a língua rural. Quem disse que a língua oral deve-se também obedecer às regras da norma culta portuguesa? Existem os níveis de linguagem, e devem ser usados! Os falares derivam conforme o meio onde se está, assim como gírias ,forma de respeito e formalidade. Se o falante não moldar-se de acordo com o público que estiver interagindo, pode ser considerado soberbo. O que tiver maior informação sobre a língua que fala, é aquele responsável por adequar-se ao nível de linguagem.

Os juízos de valor são motivados e geram preconceitos que devemos combater. Este preconceito é gerado por motivos econômicos que dão prestígio e alimentam preconceito em relação à outros. Numa era onde defendemos a pluralidade cultural, é defasado disseminar um preconceito ao falar. Ideais de perfeição nunca serão alcançados, se forem, é porque algo deu errado. Para combater a disseminação de tais elucubrações como citado no texto, é necessário investir na educação em todos os seus níveis, para que a população pare de se preocupar com outros níveis: os lingüísticos.